Opinião
- 12 de abril de 2012
- Visualizações: 4343
- 3 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
A alma brasileira
Qual a origem? O que é que fica? O que é que muda? Boas perguntas para o tema da semana: identidade. De onde eu vim, o que é que ficou desde então e quais foram as mutações durante a jornada; identidade não é um patrimônio irretocável. Perde-se e ganha-se enquanto a gente se movimenta rumo a eternidade. Opa! Eternidade? Cabe dizer: alguns acreditam que o corpo é a pessoa. Morreu o corpo, acabou a pessoa. Como diz R.N. Champlin sobre o pós-morte, “poucos são tentados a chamar aos ossos ou às cinzas que sobraram de uma pessoa”. São raros, eu sei, mas fazem bastante barulho.
É certo que resistimos à morte física – eu acredito assim - e aquilo que Yohji Yamamoto e Ronaldo Fraga chamam de “a cidade dentro de si” continua brilhando mesmo depois do “único mal irremediável” (lembram de Chicó?). Eis aí um certeza para poetas, artistas e crentes: a alma. Então, qualquer conversa sobre identidade, coletiva ou individual, passa pela certeza de um corpo distinto e uma alma distinta que formam uma unidade perfeita.
A alimentação para o corpo quase não é mencionada nos meus textos. Poderia falar de banquetes e destilar o vocabulário para relatar os efeitos da boa alimentação sobre a vida intelectual, mas acabo me levando para os locais mais obscuros dos sujeitos que se fartam nos banquetes; a alma em primeiro plano, a subjetividade do sujeito. Existe um universo interior, uma consciência, um esquecer e um relembrar, uma memória que nos torna humanos e por isso nos faz pegar em garfos e facas, elaborar receitas, criar etiquetas e forros de mesa. Isso me interessa bastante.
No final a glorificação, um corpo restaurado e a tão aguardada plenitude! Enquanto isso: somos presença temporária e individualidade contínua. O corpo há de se fragmentar e virar pó, mas a identidade pessoal será preservada, haverá lembrança, haverá duração, eternidade. É por isso que tudo aquilo que fazemos aqui reverbera para sempre, pois permanecemos. É por isso que não acreditamos no caos e na banalização do ser humano, é por isso que acreditamos em céu e inferno; só porque essa vida presente faz sentido e estabelece sentido. Um rumo para a alma, é isso que buscamos todos os dias e sem saber (ou com algum entendimento) experimentamos no Caminho.
Para os cristãos, identidade tem a ver com Cristo. Ele se fez homem para que pudéssemos participar da vida de Deus. Uma união mística que altera, ou melhor, restaura a verdadeira identidade perdida depois da Queda. Sim! Estar em Cristo é ser humano. Não existe alteração, mas completude. Estar em Cristo não é se tornar um anjo, é ter um modelo de humanidade possível, real e intensa: ser homem o bastante para morrer pelos amigos, ser homem o bastante para lavar os pés do traidor, ser homem o bastante para gastar a vida naquilo que dura para sempre. Considerar esse encontro com a pessoa de Cristo – nós e Ele - é verificar que não existe identidade fora da divindade; nós nos atamos Nele e não há espaço para autonomia. Ser um cristão brasileiro é viver sua brasilidade no Caminho, na Verdade e na Vida. Qual a origem? Nascemos de novo, Nele. O que é que fica? O velho homem lutando com o novo. O que é que muda? Tudo aquilo que o Espírito fizer morrer e tudo aquilo que Ele vivificar.
Na formação do nosso povo temos a seguinte sequência, generalista, mas que ajuda a explicar esse papo: vieram os portugueses que encontraram os índios, pouco adiante traficaram escravos africanos para trabalhar nas lavouras e na extração de ouro, entre reis e imperadores passaram-se gerações, chega o fim da escravidão, início da imigração europeia pra plantar café e colonizar o sul. Português, Índio, Africano e Imigrante, os quatro pilares da nossa origem enquanto povo. No entanto, se considerarmos a realidade do encontro entre homem e Deus, falta-nos atualizar esse esquema.
O brasileiro que crê tem isso aqui dentro de si: Português, Índio, Africano, Imigrante e Jesus. Uma guerra interior começa a ser travada e ela fica mais estranha se considerarmos que Jesus é anterior a qualquer Português, Índio, Africano ou Imigrante, fazendo a gente considerar que esses povos que sustentam o nosso DNA também já haviam se encontrado com Ele e talvez o esquema mais verdadeiro venha a ser esse: Jesus-Português, Jesus-Índio, Jesus-Africano, Jesus-Imigrante, Jesus-Brasileiro. Porque não somos os primeiros a crer. Porque Ele não se revelou somente pelo catolicismo ou protestantismo (fator Melquisedeque). Porque é preciso pensar agora que sempre existiu na história aqueles que levaram Jesus a sério e os que ignoraram tal encontro. Sempre existiram aqueles que se concentraram mais naquilo que vira cinza e pó do que naquilo que dura para sempre! Meu desejo é descobrir a brasilidade daqueles que sempre desejaram a eternidade! Eu quero a brasilidade daqueles que creram e por isso falaram, dançaram, pintaram e encantaram a vida do nosso povo. Haja alma! Aja!
É certo que resistimos à morte física – eu acredito assim - e aquilo que Yohji Yamamoto e Ronaldo Fraga chamam de “a cidade dentro de si” continua brilhando mesmo depois do “único mal irremediável” (lembram de Chicó?). Eis aí um certeza para poetas, artistas e crentes: a alma. Então, qualquer conversa sobre identidade, coletiva ou individual, passa pela certeza de um corpo distinto e uma alma distinta que formam uma unidade perfeita.
A alimentação para o corpo quase não é mencionada nos meus textos. Poderia falar de banquetes e destilar o vocabulário para relatar os efeitos da boa alimentação sobre a vida intelectual, mas acabo me levando para os locais mais obscuros dos sujeitos que se fartam nos banquetes; a alma em primeiro plano, a subjetividade do sujeito. Existe um universo interior, uma consciência, um esquecer e um relembrar, uma memória que nos torna humanos e por isso nos faz pegar em garfos e facas, elaborar receitas, criar etiquetas e forros de mesa. Isso me interessa bastante.
No final a glorificação, um corpo restaurado e a tão aguardada plenitude! Enquanto isso: somos presença temporária e individualidade contínua. O corpo há de se fragmentar e virar pó, mas a identidade pessoal será preservada, haverá lembrança, haverá duração, eternidade. É por isso que tudo aquilo que fazemos aqui reverbera para sempre, pois permanecemos. É por isso que não acreditamos no caos e na banalização do ser humano, é por isso que acreditamos em céu e inferno; só porque essa vida presente faz sentido e estabelece sentido. Um rumo para a alma, é isso que buscamos todos os dias e sem saber (ou com algum entendimento) experimentamos no Caminho.
Para os cristãos, identidade tem a ver com Cristo. Ele se fez homem para que pudéssemos participar da vida de Deus. Uma união mística que altera, ou melhor, restaura a verdadeira identidade perdida depois da Queda. Sim! Estar em Cristo é ser humano. Não existe alteração, mas completude. Estar em Cristo não é se tornar um anjo, é ter um modelo de humanidade possível, real e intensa: ser homem o bastante para morrer pelos amigos, ser homem o bastante para lavar os pés do traidor, ser homem o bastante para gastar a vida naquilo que dura para sempre. Considerar esse encontro com a pessoa de Cristo – nós e Ele - é verificar que não existe identidade fora da divindade; nós nos atamos Nele e não há espaço para autonomia. Ser um cristão brasileiro é viver sua brasilidade no Caminho, na Verdade e na Vida. Qual a origem? Nascemos de novo, Nele. O que é que fica? O velho homem lutando com o novo. O que é que muda? Tudo aquilo que o Espírito fizer morrer e tudo aquilo que Ele vivificar.
Na formação do nosso povo temos a seguinte sequência, generalista, mas que ajuda a explicar esse papo: vieram os portugueses que encontraram os índios, pouco adiante traficaram escravos africanos para trabalhar nas lavouras e na extração de ouro, entre reis e imperadores passaram-se gerações, chega o fim da escravidão, início da imigração europeia pra plantar café e colonizar o sul. Português, Índio, Africano e Imigrante, os quatro pilares da nossa origem enquanto povo. No entanto, se considerarmos a realidade do encontro entre homem e Deus, falta-nos atualizar esse esquema.
O brasileiro que crê tem isso aqui dentro de si: Português, Índio, Africano, Imigrante e Jesus. Uma guerra interior começa a ser travada e ela fica mais estranha se considerarmos que Jesus é anterior a qualquer Português, Índio, Africano ou Imigrante, fazendo a gente considerar que esses povos que sustentam o nosso DNA também já haviam se encontrado com Ele e talvez o esquema mais verdadeiro venha a ser esse: Jesus-Português, Jesus-Índio, Jesus-Africano, Jesus-Imigrante, Jesus-Brasileiro. Porque não somos os primeiros a crer. Porque Ele não se revelou somente pelo catolicismo ou protestantismo (fator Melquisedeque). Porque é preciso pensar agora que sempre existiu na história aqueles que levaram Jesus a sério e os que ignoraram tal encontro. Sempre existiram aqueles que se concentraram mais naquilo que vira cinza e pó do que naquilo que dura para sempre! Meu desejo é descobrir a brasilidade daqueles que sempre desejaram a eternidade! Eu quero a brasilidade daqueles que creram e por isso falaram, dançaram, pintaram e encantaram a vida do nosso povo. Haja alma! Aja!
Marcos Almeida é compositor, músico, professor e membro da banda brasileira de rock Palavrantiga. Colunista do portal, Marcos Almeida mantém seu blog pessoal "nossa brasilidade", um livro em construção.
- Textos publicados: 9 [ver]
- 12 de abril de 2012
- Visualizações: 4343
- 3 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Descobrindo o potencial da diáspora: um chamado à igreja brasileira
- Trabalho sob a perspectiva do reino de Deus
- Jesus [não] tem mais graça
- Onde estão as crianças?
- Não confunda o Natal com Papai Noel — Para celebrar o verdadeiro Natal
- Uma cidade sitiada - Uma abordagem literária do Salmo 31
- C. S. Lewis, 126 anos
- Ultimato recebe prêmio Areté 2024
- Exalte o Altíssimo!
- Paciência e determinação: virtudes essenciais para enfrentar a realidade da vida