Opinião
- 17 de julho de 2017
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A adoração na igreja viva
Por Rubem Amorese
Em seu livro A Igreja Autêntica (Ultimato/ABU), John Stott diz sonhar com uma igreja viva: uma igreja bíblica, adoradora, acolhedora, que serve e que espera pelo Senhor. Curiosamente, associa vida a autenticidade, como se fossem gêmeas. De fato, a igreja viva é também autêntica, e vice-versa. Sem hierarquizar esses "sinais de vida", Stott dedica atenção a cada um desses sinais, separadamente.
Incentivado por ele, gostaria de refletir sobre aspectos da adoração nessa igreja viva. E já inicio concordando com ele sobre o caráter bíblico da verdadeira adoração, lembrando que não são poucas, nos evangelhos e nas cartas, as recomendações sobre a ordem no culto, o falar de si para si mesmo, as orações vazias e repetitivas, e tantas outras máculas à autenticidade das celebrações.
Buscamos, então, em todas essas recomendações, algumas lições que podem nos ajudar a melhor conduzir a adoração na igreja.
A razão da adoração
A adoração surge da gratidão. Diferentemente do medo ou do interesse, presentes no costume pagão, em que todos os atos se destinam a aplacar a ira da divindade ou dela obter alguma vantagem, a adoração em uma igreja viva provém de uma disposição do coração, que se harmoniza, afetuosamente, com o que Deus é e faz, "com cânticos e ações de graça". Dessa harmonia surgem as expressões de louvor; a moldar os ritos e as liturgias, em todas as suas cores.
O destinatário da adoração
Em uma igreja autêntica, a adoração tem como destinatário o próprio Deus. Claro que considera aspectos eclesiásticos, como conforto, organização, horários, homilética, etc. Mas não se mede em decibéis, em opinião pública e coisas assim. Não se destina a agradar ao auditório, mas a Deus. A expressão "não gostei deste culto" pode revelar esse equívoco.
Mais que isso, o destinatário da adoração bíblica é um Deus bom. Um Deus a ser servido por amor, acima de tudo, como quem responde ao seu chamado amoroso: "filho meu, dá-me o teu coração".
Os âmbitos da adoração
Íntimo e público. Pode começar na intimidade do quarto, da madrugada, da solitude e se estender ao culto público; ou, em sentido inverso, ter seu despertar no sentar à mesa, no cântico congregacional, no compartilhamento, na meditação sobre a Palavra; impressões que, recolhidas, serão "metabolizadas" no momento solitário com Deus. De todo modo, qualquer que seja o sentido em que a experiência pessoal ocorra, é importante pensar que os dois âmbitos são complementares e necessários. Não se deve pensar que o encontro na solitude é bastante; nem imaginar que o banquete público preenche todas as necessidades da alma. O caminhar de um espaço para o outro é salutar.
As funções da adoração
A adoração pública cumpre muitas funções. Mencionamos quatro:
A função doxológica é entendida como o processo pelo qual todos dos passos e ritos de um culto público afirmam, expressa ou simbolicamente, conteúdos da fé que se professa. Assim, é importante que as letras dos cânticos sejam biblicamente corretas e expressivas; as meditações sejam expositivas, tanto quanto possível; e a própria liturgia tenha conteúdo e forma condizente com o evangelho.
A função catártica é aquele espaço em que se propicia a confissão, a súplica, os votos e decisões profundas, sejam coletivas ou individuais.
O culto também tem uma função pedagógica. Tudo o que acontece, desde que as atividades são iniciadas, têm o poder de ensinar. Aprendemos até com os ritos e rituais, sejam eles explicitados em seus significados ou não. Seja pela letra de um cântico, seja pela bênção impetrada, seja pelo sermão proferido, em tudo estamos sendo ensinados, para o bem ou para o mal.
Finalmente, a função devocional da adoração pública. É o momento em que, tendo Deus falado ao meu coração, faz-se como por milagre, a pergunta: "o que você vai fazer a respeito?" Ou então: "o que você quer que eu te faça?". Ou, ainda, sendo mais literal: "há esperança para esses ossos secos, filho do homem?". Sim, devoção significa oferta. Devotar é ofertar. E há um momento em que sou perguntado sobre o que eu vou oferecer. Que decisão irei tomar. E a resposta que me encanta é algo assim: "levantar-me-ei e irei ter com o meu pai; e lhe direi...".
O resultado da adoração
A adoração bíblica produz um mesmo resultado em qualquer adorador: transformação. Lembremo-nos que estaremos na presença de Deus, e contamos com Jesus entre nós. Estaremos na dimensão do milagre, do impensável, das respostas, do poder de Deus. Estaremos nos expondo às irradiações do seu amor. Estaremos, com alegria e gratidão, nos expondo às influências do seu Espírito Santo. E ali, tudo é "infinitamente mais do que pedimos ou pensamos".
Leia mais
Igreja: Uma palavra destruída
Congresso Brasileiro de Missões: O que a igreja precisa saber sobre os novos desafios da missão
Os Cristãos e os Desafios Contemporâneos [John Stott]
A Igreja Autêntica [John Stott]
A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja [Ricardo Barbosa]
Foto ilustrativa: Unsplash.com
Em seu livro A Igreja Autêntica (Ultimato/ABU), John Stott diz sonhar com uma igreja viva: uma igreja bíblica, adoradora, acolhedora, que serve e que espera pelo Senhor. Curiosamente, associa vida a autenticidade, como se fossem gêmeas. De fato, a igreja viva é também autêntica, e vice-versa. Sem hierarquizar esses "sinais de vida", Stott dedica atenção a cada um desses sinais, separadamente.
Incentivado por ele, gostaria de refletir sobre aspectos da adoração nessa igreja viva. E já inicio concordando com ele sobre o caráter bíblico da verdadeira adoração, lembrando que não são poucas, nos evangelhos e nas cartas, as recomendações sobre a ordem no culto, o falar de si para si mesmo, as orações vazias e repetitivas, e tantas outras máculas à autenticidade das celebrações.
Buscamos, então, em todas essas recomendações, algumas lições que podem nos ajudar a melhor conduzir a adoração na igreja.
A razão da adoração
A adoração surge da gratidão. Diferentemente do medo ou do interesse, presentes no costume pagão, em que todos os atos se destinam a aplacar a ira da divindade ou dela obter alguma vantagem, a adoração em uma igreja viva provém de uma disposição do coração, que se harmoniza, afetuosamente, com o que Deus é e faz, "com cânticos e ações de graça". Dessa harmonia surgem as expressões de louvor; a moldar os ritos e as liturgias, em todas as suas cores.
O destinatário da adoração
Em uma igreja autêntica, a adoração tem como destinatário o próprio Deus. Claro que considera aspectos eclesiásticos, como conforto, organização, horários, homilética, etc. Mas não se mede em decibéis, em opinião pública e coisas assim. Não se destina a agradar ao auditório, mas a Deus. A expressão "não gostei deste culto" pode revelar esse equívoco.
Mais que isso, o destinatário da adoração bíblica é um Deus bom. Um Deus a ser servido por amor, acima de tudo, como quem responde ao seu chamado amoroso: "filho meu, dá-me o teu coração".
Os âmbitos da adoração
Íntimo e público. Pode começar na intimidade do quarto, da madrugada, da solitude e se estender ao culto público; ou, em sentido inverso, ter seu despertar no sentar à mesa, no cântico congregacional, no compartilhamento, na meditação sobre a Palavra; impressões que, recolhidas, serão "metabolizadas" no momento solitário com Deus. De todo modo, qualquer que seja o sentido em que a experiência pessoal ocorra, é importante pensar que os dois âmbitos são complementares e necessários. Não se deve pensar que o encontro na solitude é bastante; nem imaginar que o banquete público preenche todas as necessidades da alma. O caminhar de um espaço para o outro é salutar.
As funções da adoração
A adoração pública cumpre muitas funções. Mencionamos quatro:
A função doxológica é entendida como o processo pelo qual todos dos passos e ritos de um culto público afirmam, expressa ou simbolicamente, conteúdos da fé que se professa. Assim, é importante que as letras dos cânticos sejam biblicamente corretas e expressivas; as meditações sejam expositivas, tanto quanto possível; e a própria liturgia tenha conteúdo e forma condizente com o evangelho.
A função catártica é aquele espaço em que se propicia a confissão, a súplica, os votos e decisões profundas, sejam coletivas ou individuais.
O culto também tem uma função pedagógica. Tudo o que acontece, desde que as atividades são iniciadas, têm o poder de ensinar. Aprendemos até com os ritos e rituais, sejam eles explicitados em seus significados ou não. Seja pela letra de um cântico, seja pela bênção impetrada, seja pelo sermão proferido, em tudo estamos sendo ensinados, para o bem ou para o mal.
Finalmente, a função devocional da adoração pública. É o momento em que, tendo Deus falado ao meu coração, faz-se como por milagre, a pergunta: "o que você vai fazer a respeito?" Ou então: "o que você quer que eu te faça?". Ou, ainda, sendo mais literal: "há esperança para esses ossos secos, filho do homem?". Sim, devoção significa oferta. Devotar é ofertar. E há um momento em que sou perguntado sobre o que eu vou oferecer. Que decisão irei tomar. E a resposta que me encanta é algo assim: "levantar-me-ei e irei ter com o meu pai; e lhe direi...".
O resultado da adoração
A adoração bíblica produz um mesmo resultado em qualquer adorador: transformação. Lembremo-nos que estaremos na presença de Deus, e contamos com Jesus entre nós. Estaremos na dimensão do milagre, do impensável, das respostas, do poder de Deus. Estaremos nos expondo às irradiações do seu amor. Estaremos, com alegria e gratidão, nos expondo às influências do seu Espírito Santo. E ali, tudo é "infinitamente mais do que pedimos ou pensamos".
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