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- 12 de março de 2019
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70 segundos
Por Marcelo Renan D. Santos
Não imaginei que voltaria a escrever sobre este assunto tão rápido. Mais um grande desastre ambiental e humano no Brasil volta a horrorizar o mundo. De acordo com notícias veiculadas na televisão, 70 segundos foi o tempo que a barragem da Vale na mina Córrego do Feijão levou para sepultar com lama mais de trezentas pessoas que estavam no local. Nesse tempo, nenhum plano de contingência poderia ser acionado. Ninguém seria capaz de olhar para uma placa de saída e fugir para as montanhas em 70 segundos. Mesmo que houvesse soado uma sirene de emergência, para uma pessoa entender o que estava acontecendo, se situar e tomar uma ação coordenada para se salvar e salvar outras pessoas sem pânico, seria necessário muito mais que 70 segundos. Não houve escapatória. Não houve tempo.
A mina Córrego do Feijão foi inaugurada em 1956 e adquirida pela Vale em 2001. Nesses 63 anos foi acumulando rejeitos em várias barragens. Tanto tempo, e não houve tempo para parar e pensar no que estavam fazendo. Tiveram tempo para decidir pelo que era mais barato. Mais simplório. Mais arriscado.
Mas faltou tempo.
Faltou tempo para avaliar riscos, faltou tempo para tomar decisões seguras. Faltou tempo para decidir pelo melhor e renunciar ao pior e mais arriscado.
Não houve tempo para licenciamento adequado. Foi melhor abaixar o nível de risco do que gastar tempo com medidas adequadas, afinal tempo é dinheiro.
Agora o tempo para achar os corpos desaparecidos na lama é uma eternidade para os parentes. O tempo para reparar os danos psicológicos é infinito e talvez nunca chegue.
A recuperação do rio Paraopeba levará muito tempo. Assim como a do rio Doce. Talvez a expectativa de chegar o tempo de águas limpas fique para outras gerações.
Enquanto isso, a terra geme e continua aguardando o tempo da reconciliação com seu Criador. Com ela, gemem os que sofrem com as catástrofes inventadas cujos responsáveis não dedicaram tempo para renunciar.
Nota: Notícia originalmente publicada na edição 376 de Ultimato.
• Marcelo Renan D. Santos, médico veterinário e ecólogo, congrega na Igreja Batista da Praia do Canto, em Vitória, ES.
Leia mais
» Uma mancha irremovível
» À procura de uma rota de fuga: Brumadinho, a lama e os cristãos
» Luz em meio à lama e tristeza em Brumadinho
Não imaginei que voltaria a escrever sobre este assunto tão rápido. Mais um grande desastre ambiental e humano no Brasil volta a horrorizar o mundo. De acordo com notícias veiculadas na televisão, 70 segundos foi o tempo que a barragem da Vale na mina Córrego do Feijão levou para sepultar com lama mais de trezentas pessoas que estavam no local. Nesse tempo, nenhum plano de contingência poderia ser acionado. Ninguém seria capaz de olhar para uma placa de saída e fugir para as montanhas em 70 segundos. Mesmo que houvesse soado uma sirene de emergência, para uma pessoa entender o que estava acontecendo, se situar e tomar uma ação coordenada para se salvar e salvar outras pessoas sem pânico, seria necessário muito mais que 70 segundos. Não houve escapatória. Não houve tempo.
A mina Córrego do Feijão foi inaugurada em 1956 e adquirida pela Vale em 2001. Nesses 63 anos foi acumulando rejeitos em várias barragens. Tanto tempo, e não houve tempo para parar e pensar no que estavam fazendo. Tiveram tempo para decidir pelo que era mais barato. Mais simplório. Mais arriscado.
Mas faltou tempo.
Faltou tempo para avaliar riscos, faltou tempo para tomar decisões seguras. Faltou tempo para decidir pelo melhor e renunciar ao pior e mais arriscado.
Não houve tempo para licenciamento adequado. Foi melhor abaixar o nível de risco do que gastar tempo com medidas adequadas, afinal tempo é dinheiro.
Agora o tempo para achar os corpos desaparecidos na lama é uma eternidade para os parentes. O tempo para reparar os danos psicológicos é infinito e talvez nunca chegue.
A recuperação do rio Paraopeba levará muito tempo. Assim como a do rio Doce. Talvez a expectativa de chegar o tempo de águas limpas fique para outras gerações.
Enquanto isso, a terra geme e continua aguardando o tempo da reconciliação com seu Criador. Com ela, gemem os que sofrem com as catástrofes inventadas cujos responsáveis não dedicaram tempo para renunciar.
Nota: Notícia originalmente publicada na edição 376 de Ultimato.
• Marcelo Renan D. Santos, médico veterinário e ecólogo, congrega na Igreja Batista da Praia do Canto, em Vitória, ES.
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