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Opinião

7 desafios para a igreja e os pastores na pandemia

Por Vacilius Santos

A pandemia da Covid-19 traz novo cenário e novos desafios. O que muda a partir de agora e o que deveria mudar? Não sabemos… A verdade é que as transformações são impositivas, muito já foi alterado e jamais voltará a ser da mesma maneira. Hoje, na posição de liderança, surgiu para nós a reflexão sobre como nos adaptaremos a este novo tempo, ou o que temos que melhorar, pois corremos o risco de seguirmos descompassados e não sermos ouvidos.
 
A igreja que desagrega

Líderes que sempre justificam o seu valor a partir do ritmo frenético em que conduzem seus ministérios, ou mesmo os que constroem uma relação “trabalhista” para justificar o pão que recebem à medida em que servem, em uma visão utilitarista, agora estão de mãos atadas. E ainda mais suscetíveis a caírem na armadilha de terem de falar com todos, responder a todas as chamadas, produzir lives e enviar meditações como se fossem os únicos detentores da graça de Deus.
 
Para além disto, tem havido o ressurgimento do sacerdócio a partir de casa. Sinais de avivamento? Para alguns, a extensão da Igreja, para outros, mero pretexto para “desigrejar”.
 
A multimídia não pode minar a oportunidade de estar em casa, de rever o ritmo e descansar o necessário, de aprofundar as conversas em casa sem a intervenção de chamadas. É preciso investir tempo com o cônjuge, brincar com os filhos, estar ao redor da mesa, assistir a um bom filme, ter momentos devocionais mais alargados em família, fazer uma boa leitura, descansar e, por fim, dedicar-se também à solitude.
 
Não podemos seguir alimentando ovelhas insaciáveis que querem ver seus líderes no trabalho, enquanto se tornam obesas. Ainda que seus pastores trabalhem, o valor deles não está apenas naquilo que fazem, mas naquilo que representam.
 
A igreja amada

E a Igreja? As pessoas estarão carentes de abraços como nunca. Os líderes precisarão preparar abraços e palavras de carinho e conforto. Precisarão dizer o quanto sentiram falta de suas ovelhas, visitá-las e abraçá-las pessoalmente. Do contrário, encontrarão isto fora como aquela menina que caiu nos braços de um estranho porque seu pai negou-lhe amor. Líderes com bloqueios de afeto precisarão de terapia, ainda que seja a terapia apenas do abraço.
 
A igreja livre

O ponto mais agudo é que se descobriu que ninguém segue ninguém a não ser que queira. Existem centenas de opções na mesma hora em que você está ministrando. Por que alguém deixaria de ouvir o pregador x ou y para ouvir você?
 
Será preciso reforçar os pontos de conexão. Ministrar de maneira mais profunda, porque em tempos de sofrimento as pessoas descobrirão o valor da exposição da Palavra, o quanto ela conforta e dá esperança.
 
A igreja a distância

Também será necessário equilibrar o “presencial” e o “EAD” (ensino a distância), a tendência do mercado e da educação. Quando fiz o curso de Letras em 2003, não havia a opção de fazer diferente. Depois de alguns anos, fiz Pedagogia no sistema EAD e precisava viajar 3 horas para fazer os testes. Hoje, uma infinidade de cursos pode ser feita on-line, acessamos a internet e temos o que queremos a partir de qualquer lugar do mundo e em qualquer língua.
 
A Igreja precisa adaptar-se a esta realidade. O púlpito presencial não será o único ponto de partida, bem como o “Gabinete Pastoral”. Percorrer um trajeto de 30 minutos para ouvir ou falar com o pastor talvez não seja o mais prático e precisará fazer muito sentido. Por outro lado, algumas visitas poderão ser feitas por videoconferência.
 
Apesar das mudanças, o contato pessoal continuará a ter sua importância. Será preciso olhar nos olhos, tomar um café juntos e abraçar, mas não a todos e nem o tempo todo, por imposição.
 
A igreja flexível

E o lugar de trabalho? Estar fora de casa para justificar o trabalho já não faz sentido. Por outro lado, quem não criar um espaço em casa, que seja privativo e respeitado, incluindo um tempo para si, talvez precisará continuar a sair de casa todos os dias. O conceito de trabalho associado a um local exclusivo está se fragmentando. Cada vez mais o conceito WFH (Work From Home) ganha força. As pessoas querem ver o resultado e isso independentemente do local.
 
E qual é o perigo de estar em casa? Não discernir entre trabalho e descanso. O descanso demasiado pode tornar-se em ócio e o excesso de trabalho minar a harmonia do lar. Por isso, ter um lugar específico dentro de casa é recomendável.
 
A igreja e as gerações

Sobre o uso de tecnologia no ministério, ser apenas amador já não é possível, ou realizamos o uso excelente ou não seremos relevantes para este público. Entre as alternativas estão recorrer a uma assessoria remunerada, ou ter gente qualificada que voluntariamente caminha junto.
 
Será que somente os Baby Boomers* terão problema com isto? E quanto aos Millennials*? O problema do primeiro grupo será associar passado com espiritualidade. Morrerão orgulhosos e enganados. Entre os mais jovens será a dependência tecnológica, como se o Espírito Santo não fizesse diferente e por outros meios, e mergulharão em uma insensibilidade mortal.
 
O futuro da igreja

Enfim, qual a tendência? A tendência é de mão-dupla, rotinas ministeriais presenciais e a distância. E ninguém suportará mais mensagens demasiadamente longas, monótonas e irrelevantes.
 
“E dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com ciência e com inteligência.” (Jr. 3.15)
 
Que Deus nos abençoe!

• Vacilius Santos é missionário da Sepal em Portugal.
 
*Baby Boomers: pessoas da geração nascida entre 1945 e 1960, logo depois da Segunda Guerra Mundial.
*Millennials: essa geração representa os nascidos entre o período da década de 80 até o começo dos anos 2000.
 
Texto originalmente publicado no site da Sepal. Reproduzido com permissão.

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