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60 anos de trabalho entre o povo indígena Xerente
Entrevista
O trabalho do casal Carlos e Wanda Krieger em aldeias do Tocantins resultou em diversos avanços não só para os Xerente, mas para o trabalho missionário com povos indígenas no Brasil.
O trabalho do casal Carlos e Wanda Krieger em aldeias do Tocantins resultou em diversos avanços não só para os Xerente, mas para o trabalho missionário com povos indígenas no Brasil.
Em campo, entre o povo indígena Xerente, desde 1958, o casal de missionários Guenther Carlos Krieger e Wanda Braidotti Krieger teve seu ministério descrito, pelo pr. Fernando Brandão – diretor executivo de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira – como uma “aula de fidelidade à vocação". Os 60 anos de trabalho em aldeias do Tocantins resultaram em diversos avanços não só para os Xerente, mas para o trabalho missionário com povos indígenas no Brasil. O Novo Testamento em Xerente, publicado em 2007, marcou as décadas de cuidados nas áreas da educação e da saúde, de empenho pelo bem-estar do povo e preservação de sua cultura, e, também, de esforço para transmitir o Evangelho de maneira acessível e para formar líderes autóctones. Uma história que é impossível de ser resumida em poucas linhas, mas que certamente possui relevância e impacto dignos de muitas páginas e, principalmente, de gratidão a Deus.
Após 60 anos de ministério, o que consideram ser os maiores avanços e os desafios que ainda persistem na evangelização de povos indígenas?
Guenther: Bem, nós temos ainda 122 etnias, segundo as últimas informações, onde não há missionário evangélico. Então, bom seria se nós, batistas brasileiros, tivéssemos visão suficiente para alcançar não só esses povos indígenas do Brasil, mas também os não alcançados pelo evangelho em toda a América e, quem sabe, até além. Porém, não resta dúvida de que houve um progresso por parte da igreja brasileira em relação à evangelização dessas etnias, de 1960 para cá. E creio que o desafio maior é conseguir obreiros para irem até esses povos com a palavra de Cristo. Um missiólogo, numa grande conferência no exterior, convidou as pessoas a orarem pela evangelização dos indígenas do Brasil. Ele disse “apesar de serem milhões de crentes, eles pouco ou nada têm de visão a respeito do desafio de alcançarem as tribos da sua própria pátria”. Então esses são os desafios.
Quais estratégias podem ser usadas para despertar as igrejas para a evangelização de povos não alcançados?
Guenther: Nós nunca podemos esquecer que a agência primeira para evangelização dos povos é a igreja. George Peters, conhecido missiólogo, disse que a razão principal de a igreja não ter avançado mais, nesses quase dois mil anos, na tarefa de alcançar os povos com o Evangelho é a falta de consciência dos pastores das igrejas quanto ao plano redentor de Deus. Acho que os líderes das entidades missionárias deveriam fazer um grande esforço para conscientizar os pastores quanto ao desafio da evangelização dos povos pré-colombianos das Américas e orientá-los a respeito da maneira de ajudarem suas igrejas a participarem do processo. Porque se os pastores tiverem a visão, os membros vão ser despertados e as condições de apoio vão surgir nas igrejas.
Wanda: Eu penso que o que falta realmente para conseguirmos alcançar especialmente os indígenas do Brasil é falta de informação. Porque a informação conduz à inspiração. E a gente percebe que falta informação para as igrejas brasileiras.
Fale um pouco sobre a decisão de iniciar a tradução do Antigo Testamento, após a conclusão do Novo, para o Xerente.
Guenther: Comecei a pensar qual seria o meu ministério, depois do Novo Testamento publicado e lembrei de uma frase atribuída a Santo Agostinho, que disse “o Novo Testamento no Antigo se esconde e o Antigo em o Novo se revela”. Então pensei em dar aos índios as passagens do Antigo Testamento citadas nas páginas do Novo. Ao pesquisar, vi que outros obreiros, em outras partes do mundo, haviam feito isso. E pensei: “assim como Deus providenciou alguém para concluir o Antigo Testamento, quando levou João Ferreira de Almeida, pode providenciar alguém que conclua o do povo Xerente, quando eu já não estiver mais aqui”. E nessa convicção lancei-me à empreitada.
Como a mulher que tem chamado missionário deve se preparar nos dias atuais?
Wanda: Essa pergunta tem muitas conotações, mas no meu modo de sentir, acho que a primeira coisa que uma mulher deve procurar conhecer bem, para poder responder ao chamado missionário e ter um ministério efetivo, é estudar a palavra de Deus. Em segundo lugar, dependendo do objetivo do trabalho e de com quem ela vai trabalhar, deverá fazer cursos que lhe darão mais possibilidades de um trabalho social efetivo. Isso dependerá de um estudo prévio por parte da missão que vai enviá-la. Assim ela terá respostas para as perguntas que aquele povo tem.
Falem um pouco sobre a relevância social da atuação missionária entre os indígenas.
Guenther: Essa é uma atividade que se fundamenta no ministério do próprio Senhor Jesus. Nós temos o testemunho de Pedro, em Atos, no capítulo 10.38, onde ele diz que Jesus de Nazaré andou por toda parte fazendo o bem. Então o desafio é esse. Quando vamos como missionários, vamos primordialmente como anunciadores da palavra de Deus, mas não é nossa única tarefa e nós temos experiência a respeito disso, fundando para um povo analfabeto a primeira escola.
Quais conselhos os senhores deixam para os jovens missionários da atualidade?
Guenther: Lutero entendia que cada um de nós foi chamado para exercer uma determinada profissão e essa profissão é nossa vocação para glorificarmos a Deus através dela. Minha primeira palavra para os jovens de hoje é: em primeiro lugar, procurem saber o lugar onde devem servir. Precisamos não só ter a vocação, mas sabermos como e onde exercê-la. E tudo que se faz para Deus merece ser bem feito, no melhor das nossas forças e capacidades. Então, que cada um que tenha consciência de sua vocação procure fazer o seu melhor para que, através do seu trabalho, o nome de Deus seja glorificado e almas sejam salvas onde Ele quiser colocá-lo.
Se pudessem definir essa trajetória de 60 anos em algumas palavras, quais seriam?
Guenther: Ao longo desses 60 anos, nem todos os dias foram fáceis, de saúde e alegria. Mas uma coisa que sempre nos sustentou foi a consciência de que o nosso Deus não erra. Logo, se você colocou sua vida no altar de Deus, saiba que Ele estará ao seu lado e que Ele nunca vai fazer nada errado. Tudo que Ele permitir que você passe terá um resultado para glória dele. E, depois de 60 anos, tenho a certeza de que, escolhendo servi-lo, escolhemos a melhor parte.
Wanda: As promessas que estão na palavra do nosso Deus nunca falham. Então, servindo fielmente no lugar que lhe designou, haja o que houver, as promessas nunca falharão. Uma das promessas que faz muito bem ao meu coração é que a palavra nunca volta vazia. Se você semear, o Reino de Deus vai crescer aqui na Terra e você se sentirá feliz com isso.
>> Apoie a evangelização de povos indígenas acessando aqui.
Nota: Entrevista originalmente publicada na revista A Pátria Para Cristo, edição 278.
Reproduzida com permissão.
Fotos: JMN
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