Opinião
- 12 de julho de 2017
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100 anos de animação no Brasil
Por Lemuel Massuia
A história da animação no Brasil é uma história de sobrevivência. Um reflexo da própria realidade do país que busca desenvolver todo seu potencial. Apesar do tamanho do desafio vemos, no passado e no presente, artistas apaixonados que têm se dedicado à arte de dar vida a desenhos e objetos.
Há cem anos, em 1917, a charge animada Kaiser, de Álvaro Martins (Seth), era lançada ao público como anúncio para a entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial, firmando o marco inicial da história da animação no Brasil. Pouco restou da animação e artistas nacionais se dedicaram a recompor versões dela em homenagem ao trabalho de um dos primeiros animadores do país.
Na década de 1930 e 1940, vemos cartunistas já conhecidos animando charges e telejornais, exibindo suas entradas com desenhos animados. A animação entra nos lares brasileiros através da televisão, pelo trabalho de artistas como Luiz Sá (autor de “Reco-Reco, Bolão e Azeitona” e “As Aventuras de Virgulino”).
Em 1953, após cinco anos de muito trabalho, foi lançado “Sinfonia Amazônica”, de Anélio Latini Filho, o primeiro longa-metragem brasileiro em preto e branco. Um dos grandes marcos da animação nacional.
Na década de 1960, a presença de animações na publicidade era vista em comerciais de empresas como Casas Pernambucanas, desenhados pelo animador Ypê Nakashima. Também os personagens da Turma da Mônica, de Maurício de Sousa, anunciavam extratos de tomate e outros produtos.
A propaganda no Brasil se tornou um terreno viável para a produção de animações. O valor da emoção transmitida pelos personagens animados ficou mais claro para o investidor. Apesar disso, as produções ainda requerem um alto investimento em profissionais e equipamento, que não poderia ser importado devido a leis da época.
Nas décadas de 1970 e 1980, os profissionais de animação no Brasil assistiram a chegada de desenhos importados. Os estúdios de animação estrangeiros, com mão de obra mais barata e equipamentos melhores, produziam a custos que inviabilizavam a competição do mercado de produção nacional. Os canais de televisão compravam séries de desenhos animados de diversos países, principalmente Estados Unidos, França e Canadá. Personagens de estúdios como Hanna Barbera e Disney fazem a infância de gerações, seguidos por desenhos e programas japoneses.
Com o lançamento de programas de financiamento tornam-se possíveis produções maiores. Surge um caminho para a produção de animação nacional. Desenhos de caráter educativo, focados na divulgação da cultura brasileira.
Programas como Rá Tim Bum e outros mais recentes como Peixonauta se destacaram em meio outros programas por utilizarem, em parte ou totalmente, de animações para falar sobre assuntos como higiene, folclore, história e ciências para as crianças brasileiras e também de outros países. Com financiamento e esforço de muitos profissionais a animação nacional ganhou qualidade e passou a ser exportada.
No entanto, o desenvolvimento de um mercado de animação brasileiro, pelo qual muitos profissionais lutaram ao longo do tempo, requer também iniciativas independentes da ação do Governo. Projetos com temas variados precisam de empresas com capacidade de investir em produções lucrativas.
Apesar das dificuldades, temos muito que celebrar. O advento da internet somado à popularização da banda larga impulsionou as produções de animação em canais como Youtube e em redes sociais. Somado a isso vemos o crescimento do cinema nacional, o surgimento de cursos e de festivais como o “Anima Mundi”.
Estes são alguns dos sinais de que o futuro pode ser visto com esperança e que o esforço de muitos artistas do passado e do presente, em continuar mantendo a animação nacional viva, não terá sido em vão.
• Lemuel Massuia é ilustrador, animador e designer. Conheça seu trabalho em
www.lemuelstudio.com.br.
Imagem ilustrativa: Flickr Agência Brasil Fotografias.
A história da animação no Brasil é uma história de sobrevivência. Um reflexo da própria realidade do país que busca desenvolver todo seu potencial. Apesar do tamanho do desafio vemos, no passado e no presente, artistas apaixonados que têm se dedicado à arte de dar vida a desenhos e objetos.
Há cem anos, em 1917, a charge animada Kaiser, de Álvaro Martins (Seth), era lançada ao público como anúncio para a entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial, firmando o marco inicial da história da animação no Brasil. Pouco restou da animação e artistas nacionais se dedicaram a recompor versões dela em homenagem ao trabalho de um dos primeiros animadores do país.
Na década de 1930 e 1940, vemos cartunistas já conhecidos animando charges e telejornais, exibindo suas entradas com desenhos animados. A animação entra nos lares brasileiros através da televisão, pelo trabalho de artistas como Luiz Sá (autor de “Reco-Reco, Bolão e Azeitona” e “As Aventuras de Virgulino”).
Em 1953, após cinco anos de muito trabalho, foi lançado “Sinfonia Amazônica”, de Anélio Latini Filho, o primeiro longa-metragem brasileiro em preto e branco. Um dos grandes marcos da animação nacional.
Na década de 1960, a presença de animações na publicidade era vista em comerciais de empresas como Casas Pernambucanas, desenhados pelo animador Ypê Nakashima. Também os personagens da Turma da Mônica, de Maurício de Sousa, anunciavam extratos de tomate e outros produtos.
A propaganda no Brasil se tornou um terreno viável para a produção de animações. O valor da emoção transmitida pelos personagens animados ficou mais claro para o investidor. Apesar disso, as produções ainda requerem um alto investimento em profissionais e equipamento, que não poderia ser importado devido a leis da época.
Nas décadas de 1970 e 1980, os profissionais de animação no Brasil assistiram a chegada de desenhos importados. Os estúdios de animação estrangeiros, com mão de obra mais barata e equipamentos melhores, produziam a custos que inviabilizavam a competição do mercado de produção nacional. Os canais de televisão compravam séries de desenhos animados de diversos países, principalmente Estados Unidos, França e Canadá. Personagens de estúdios como Hanna Barbera e Disney fazem a infância de gerações, seguidos por desenhos e programas japoneses.
Com o lançamento de programas de financiamento tornam-se possíveis produções maiores. Surge um caminho para a produção de animação nacional. Desenhos de caráter educativo, focados na divulgação da cultura brasileira.
Programas como Rá Tim Bum e outros mais recentes como Peixonauta se destacaram em meio outros programas por utilizarem, em parte ou totalmente, de animações para falar sobre assuntos como higiene, folclore, história e ciências para as crianças brasileiras e também de outros países. Com financiamento e esforço de muitos profissionais a animação nacional ganhou qualidade e passou a ser exportada.
No entanto, o desenvolvimento de um mercado de animação brasileiro, pelo qual muitos profissionais lutaram ao longo do tempo, requer também iniciativas independentes da ação do Governo. Projetos com temas variados precisam de empresas com capacidade de investir em produções lucrativas.
Apesar das dificuldades, temos muito que celebrar. O advento da internet somado à popularização da banda larga impulsionou as produções de animação em canais como Youtube e em redes sociais. Somado a isso vemos o crescimento do cinema nacional, o surgimento de cursos e de festivais como o “Anima Mundi”.
Estes são alguns dos sinais de que o futuro pode ser visto com esperança e que o esforço de muitos artistas do passado e do presente, em continuar mantendo a animação nacional viva, não terá sido em vão.
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