Opinião
- 24 de janeiro de 2018
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10 Proposições sobre a “Igreja” e a ”igreja”
Por Igor Miguel
(1) A Igreja é a comunidade dos chamados e salvos pela obra de Jesus Cristo, daqueles que foram batizados na Trindade e se tornaram participantes com todos os santos da herança da eternidade. A Igreja é a assembleia dos ressuscitados. Ela não está limitada no tempo e no espaço. Todos os cristãos de todas as eras e lugares estão espiritualmente unidos e fazem parte deste Corpo Místico de Cristo.
(2) A Igreja nesse sentido se torna visível na reunião da congregação local de cristãos. Por isso, também a chamamos de igreja. Uso o ‘i’ minúsculo para que haja uma distinção de (1). A igreja local e visível possui pessoas que pertencem e não pertencem a (1). Os que não pertencem podem ser réprobos, joios, falsos irmãos e/ou não-convertidos. Mas, o propósito da igreja é reunir e lidar com gente que pertence a (1). A igreja local é responsável pela administração dos sacramentos (ceia e batismo), a pregação e o ensino da Palavra de Deus e do Evangelho, pela disciplina e o cuidado pastoral de seus membros, possui obreiros ordenados (pastores, diáconos, etc) e envia obreiros em missão.
(3) Pessoas que pertencem à Igreja no sentido (1) inevitavelmente congregam e se conectam a pessoas em uma igreja local (2). Se não o fizerem por razões justificáveis (forças circunstanciais), devem ser questionadas se são cristãs. Pois não há qualquer evidência bíblica de cristãos autênticos que consciente e voluntariamente escolheram viver uma vida cristã privada e individualista, sem encontros regulares com outros cristãos. Basta olhar para como as cartas de Paulo foram endereçadas a comunidades locais e ler Atos para perceber que a vida congregacional era simplesmente um fato.
>> A Igreja Autêntica <<
(4) As igrejas no primeiro século da era cristã se reuniam em lugares improvisados, nos lares, no Templo de Jerusalém, em beira de rios, cavernas, etc. Há testemunho histórico disso nas Escrituras e em registros antigos. Entretanto, esse não era necessariamente um modelo eclesiástico. A reunião visível dos santos independe do espaço físico, isto é fato, mas na medida em que a Igreja foi agraciada pela ação de Deus na história e impactou a estrutura da própria sociedade onde se expandiu, ela foi adquirindo oportunidade para se tornar mais autônoma, e tendo condições de se organizar de maneira institucional.
(5) Claro que a igreja local não pode ser reduzida à dimensão institucional. Mas é inevitável que na medida em que Deus abriu as portas da história para que a igreja local também se institucionalizasse, ela conseguiu empreender de maneira mais eficiente várias iniciativas para o avanço do evangelho que antes eram impossíveis. Principalmente quando o mundo se tornou mais complexo. Sem uma mínima institucionalização não seria possível a existência de escolas confessionais, a publicação de livros, projetos de educação cristã infantil, trabalhos sociais, hospitais filantrópicos, casas de recuperação, impressas bíblicas, agências missionárias, escolas dominicais, seminários e universidades cristãs. Negar a dádiva da liberdade institucional é ser um tipo de neo-platonista. Pois isso só reconhece, ainda que corretamente, a existência da Igreja Invisível (o corpo místico de Cristo), mas erra quando ignora a noção de que o Espírito Santo também opera na história, inclusive providenciando instituições que acolham sua Igreja.
(6) É verdade que existem igrejas que deram muito peso à sua dimensão organizacional, e que isto acabou comprometendo sua dimensão orgânica. A igreja local acolhe a Igreja Invisível, por isso ela tem que prezar mais pelo orgânico do que pelo organizacional. Abraham Kuyper trata de forma magistral esta distinção em seu livro Rooted & Grounded, e Keller também trata da diferença “movimento” e “organização” em A Igreja Centrada. Ainda assim, o que estas igrejas precisam é de disciplina do Espírito Santo e de uma reforma, para que voltem a ter vitalidade espiritual.
>> Dê Outra Chance à Igreja <<
(7) Experiências ruins em ambientes eclesiásticos abusivos não justificam o abandono da experiência e da vida congregacional. Todo cristão evangélico tem a Bíblia na mão e possui por isso a obrigação espiritual de avaliar pelas Escrituras se o ambiente no qual que se vive está ou não de acordo com as Escrituras. Se você está em um ambiente ou um contexto em que Jesus Cristo não é afirmado, pregado e anunciado como centro, como diriam meus irmãos pentecostais: “Chuta que é laço!”.
(8) Não generalize sua experiência negativa com uma igreja. Não se torne cínico. Em geral, pessoas que sofreram em ambientes abusivos tendem ao orgulho, ao cinismo e à introversão. A verdade não está condicionada à sua experiência, esta é uma armadilha psicológica. Desconfie de si mesmo. Não tente impor sobre as Escrituras e a história o que você acha, deixe a Palavra de Deus falar contra você. Lamente pelas péssimas igrejas que existem por aí, mas não se esqueça de que Jesus é o Senhor da Igreja, e ele providenciou ambientes onde você pode desfrutar de boa comunhão.
(9) Não idealize a igreja local. Não exija dos pastores um desempenho dos pregadores de YouTube. Se Jesus é afirmado, se a mensagem orbita ao redor da realidade da obra de Cristo, se exalta o Deus Trino e aponta para suas fragilidades pessoais, se te convida ao arrependimento e à fé em Jesus e se há compromisso com as Escrituras, dê graças! Isto é raro!
>> O Discipulado na Igreja Local <<
(10) Evite a tentação de tentar conformar a igreja local às suas expectativas. A igreja local não é customizável. Muita gente já está intoxicada com um tipo de individualismo e subjetivismo na sua espiritualidade e não percebe que está o tempo inteiro querendo “experimentar” algo e conformar a igreja às suas demandas de consumo. A igreja local é uma comunidade. Ela é a cara do “nós” e não do “eu”.
• Igor Miguel é teólogo, pedagogo, especialista em educação cognitiva, consultor educacional, mestre em hebraico pela USP. Gestor de projetos sociais e educacionais na SERVED e é pastor da Igreja Esperança em Belo Horizonte, MG.
(1) A Igreja é a comunidade dos chamados e salvos pela obra de Jesus Cristo, daqueles que foram batizados na Trindade e se tornaram participantes com todos os santos da herança da eternidade. A Igreja é a assembleia dos ressuscitados. Ela não está limitada no tempo e no espaço. Todos os cristãos de todas as eras e lugares estão espiritualmente unidos e fazem parte deste Corpo Místico de Cristo.
(2) A Igreja nesse sentido se torna visível na reunião da congregação local de cristãos. Por isso, também a chamamos de igreja. Uso o ‘i’ minúsculo para que haja uma distinção de (1). A igreja local e visível possui pessoas que pertencem e não pertencem a (1). Os que não pertencem podem ser réprobos, joios, falsos irmãos e/ou não-convertidos. Mas, o propósito da igreja é reunir e lidar com gente que pertence a (1). A igreja local é responsável pela administração dos sacramentos (ceia e batismo), a pregação e o ensino da Palavra de Deus e do Evangelho, pela disciplina e o cuidado pastoral de seus membros, possui obreiros ordenados (pastores, diáconos, etc) e envia obreiros em missão.
(3) Pessoas que pertencem à Igreja no sentido (1) inevitavelmente congregam e se conectam a pessoas em uma igreja local (2). Se não o fizerem por razões justificáveis (forças circunstanciais), devem ser questionadas se são cristãs. Pois não há qualquer evidência bíblica de cristãos autênticos que consciente e voluntariamente escolheram viver uma vida cristã privada e individualista, sem encontros regulares com outros cristãos. Basta olhar para como as cartas de Paulo foram endereçadas a comunidades locais e ler Atos para perceber que a vida congregacional era simplesmente um fato.
>> A Igreja Autêntica <<
(4) As igrejas no primeiro século da era cristã se reuniam em lugares improvisados, nos lares, no Templo de Jerusalém, em beira de rios, cavernas, etc. Há testemunho histórico disso nas Escrituras e em registros antigos. Entretanto, esse não era necessariamente um modelo eclesiástico. A reunião visível dos santos independe do espaço físico, isto é fato, mas na medida em que a Igreja foi agraciada pela ação de Deus na história e impactou a estrutura da própria sociedade onde se expandiu, ela foi adquirindo oportunidade para se tornar mais autônoma, e tendo condições de se organizar de maneira institucional.
(5) Claro que a igreja local não pode ser reduzida à dimensão institucional. Mas é inevitável que na medida em que Deus abriu as portas da história para que a igreja local também se institucionalizasse, ela conseguiu empreender de maneira mais eficiente várias iniciativas para o avanço do evangelho que antes eram impossíveis. Principalmente quando o mundo se tornou mais complexo. Sem uma mínima institucionalização não seria possível a existência de escolas confessionais, a publicação de livros, projetos de educação cristã infantil, trabalhos sociais, hospitais filantrópicos, casas de recuperação, impressas bíblicas, agências missionárias, escolas dominicais, seminários e universidades cristãs. Negar a dádiva da liberdade institucional é ser um tipo de neo-platonista. Pois isso só reconhece, ainda que corretamente, a existência da Igreja Invisível (o corpo místico de Cristo), mas erra quando ignora a noção de que o Espírito Santo também opera na história, inclusive providenciando instituições que acolham sua Igreja.
(6) É verdade que existem igrejas que deram muito peso à sua dimensão organizacional, e que isto acabou comprometendo sua dimensão orgânica. A igreja local acolhe a Igreja Invisível, por isso ela tem que prezar mais pelo orgânico do que pelo organizacional. Abraham Kuyper trata de forma magistral esta distinção em seu livro Rooted & Grounded, e Keller também trata da diferença “movimento” e “organização” em A Igreja Centrada. Ainda assim, o que estas igrejas precisam é de disciplina do Espírito Santo e de uma reforma, para que voltem a ter vitalidade espiritual.
>> Dê Outra Chance à Igreja <<
(7) Experiências ruins em ambientes eclesiásticos abusivos não justificam o abandono da experiência e da vida congregacional. Todo cristão evangélico tem a Bíblia na mão e possui por isso a obrigação espiritual de avaliar pelas Escrituras se o ambiente no qual que se vive está ou não de acordo com as Escrituras. Se você está em um ambiente ou um contexto em que Jesus Cristo não é afirmado, pregado e anunciado como centro, como diriam meus irmãos pentecostais: “Chuta que é laço!”.
(8) Não generalize sua experiência negativa com uma igreja. Não se torne cínico. Em geral, pessoas que sofreram em ambientes abusivos tendem ao orgulho, ao cinismo e à introversão. A verdade não está condicionada à sua experiência, esta é uma armadilha psicológica. Desconfie de si mesmo. Não tente impor sobre as Escrituras e a história o que você acha, deixe a Palavra de Deus falar contra você. Lamente pelas péssimas igrejas que existem por aí, mas não se esqueça de que Jesus é o Senhor da Igreja, e ele providenciou ambientes onde você pode desfrutar de boa comunhão.
(9) Não idealize a igreja local. Não exija dos pastores um desempenho dos pregadores de YouTube. Se Jesus é afirmado, se a mensagem orbita ao redor da realidade da obra de Cristo, se exalta o Deus Trino e aponta para suas fragilidades pessoais, se te convida ao arrependimento e à fé em Jesus e se há compromisso com as Escrituras, dê graças! Isto é raro!
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(10) Evite a tentação de tentar conformar a igreja local às suas expectativas. A igreja local não é customizável. Muita gente já está intoxicada com um tipo de individualismo e subjetivismo na sua espiritualidade e não percebe que está o tempo inteiro querendo “experimentar” algo e conformar a igreja às suas demandas de consumo. A igreja local é uma comunidade. Ela é a cara do “nós” e não do “eu”.
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