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Opinião

10 conselhos breves para estudantes e professores

Por Paulo F. Ribeiro
 
Como estou envolvido em ensino universitário desde 1978, reflito constantemente sobre como o estudante e/ou o professor pode se beneficiar desta grande oportunidade de crescer intelectualmente e não cair na tentação do sucesso – e aqui faço alguns comentários inopinados que espero sejam úteis. Aristóteles frequentemente inicia seus argumentos com o que ele chama de Isagoge, uma coleção de exemplos os quais não têm o objetivo de provar um princípio geral, mas meramente abrir nossos olhos para o assunto. Portanto, as seguintes observações estão em forma de Isagoge:
 
1 – Nossa ênfase no sucesso, em obter notas altas, em manter bolsas de estudo etc. alimenta a natureza humana competitiva decaída que pode levar muitos a uma trajetória desastrosa. Essa cultura é alimentada no mundo ocidental pelo individualismo, pelo desejo de relevância, pelo orgulho, e pelo “drive” de ser o mais célebre, famoso ou popular. Essas armadilhas estão em todos os lugares e são muito efetivas, e se não cuidarmos certamente cairemos nelas.
 
2 – Vivemos em uma sociedade e cultura em que alcançar o sucesso rapidamente e a qualquer custo é a prioridade número um. Tentamos minimizar essa realidade em algumas comunidades, mas as inconsistências e contradições são inequívocas e às vezes (conscientes ou não) inacreditáveis. Parece que não leram Mateus 20.16 – “Portanto, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos”. Quando ensinava na Holanda, fui convidado para proferir uma palestra num simpósio de estudantes, pesquisadores e cientistas cristãos que tinha o título: “Integridade no Topo”. Comecei minha palestra com as seguintes perguntas:
O que exatamente queremos dizer por integridade?
Por que queremos chegar ao topo?
Será que o desejo de chegar ao topo não é uma ideia contrária ao chamado cristão? 
 
3 – O sucesso é viciante – produz o prazer do orgulho e, finalmente, a arrogância. O ambiente acadêmico não é o melhor para treinar alunos e professores em humildade. A precisão pedante da academia cria uma crosta impenetrável nos indivíduos e os tornam debilitados.
 
4 – Os professores são sutilmente encorajados a viver pela promoção e reputação de suas realizações. O sistema é construído em cima desses parâmetros de publicações e citações. E o prazer do orgulho é como o prazer de coçar – enquanto tivermos a coceira da autoestima, desejaremos o prazer de autoaprovação, e finalmente só nos preocuparemos com nossa reputação.
 
5 – O sucesso não leva à alegria ou ao contentamento – pode levar à felicidade temporária; nós todos sabemos disso – e é insaciável, pois se alimenta na competição de ser melhor que os outros. O orgulho não tem prazer de ter algo, mas de ter mais do que outros.
 
6 – O conhecimento adquirido na faculdade pode ser muito útil, mas não é suficiente – se não for dosado com valores morais, apenas produzirá demônios mais espertos. Nosso objetivo não é ter sucesso, mas fazer o que é correto e justo.
 
7 – Aprender por aprender, isto é, ter prazer em simplesmente estudar (sem motivações de enriquecimento ou poder), e crescer em sabedoria devem ser os objetivos desejados. E esse desejo é uma atitude que todos precisamos desenvolver, ao invés de investir apenas em ações que podem trazer reconhecimento. Aprender de forma humilde e sincera é um alimento fantástico para o caráter. Depois que alguém aprende isso, o futuro se abre de forma muito segura, pois já não se almeja mais o emprego mais lucrativo, que a maioria dos pais (infelizmente) desejam aos seus filhos, mas aquele que podemos servir melhor. O sucesso não deve ser uma consequência procurada, mas o deleite espontâneo na excelência do trabalho.
 
8 – A sabedoria tem pouco a ver com habilidades acadêmicas – e tem que ser integrada com sensibilidade humana e social. Admito com prazer que tenho, no momento e no passado, colegas cuja modéstia, cortesia, senso de justiça, paciência e prontidão para ver o ponto de vista antagonista são admiráveis. Tenho sorte de tê-los conhecido. Mas devo admitir que também encontramos no meio acadêmico uma porcentagem, como em qualquer grupo, de valentões, paranoicos, malandros etc.
 
9 – A função da universidade deveria ser ensinar sabedoria acima de tudo. E é maravilhoso quando isso acontece desconsiderando o clima temporário de opinião política – o que faz alguém se perguntar se a pessoa que tem a ousadia de se levantar em qualquer sociedade corrupta e falar diretamente sobre justiça sempre vence? Afinal, os nazistas, em grande parte, chegaram ao poder simplesmente falando as velhas coisas sobre patriotismo e heroísmo em um país cheio de cínicos, onde a sabedoria estava praticamente extinta.
 
10 – A universidade no Brasil e no mundo vive uma realidade em que o sucesso a qualquer custo e a radicalização política tingida pela religião chegam a um nível em que a ignorância, e não o saber, parece ter se tornado o objetivo principal.
 
A universidade no Brasil também vive hoje uma crise financeira que vai levar anos para recuperação dos setores de educação, pesquisa e extensão. Mas, felizmente, a sabedoria nunca está em falta: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Provérbios 1.7).

Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente é Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao

Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
  • Textos publicados: 73 [ver]

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