Palavra do leitor
- 06 de dezembro de 2012
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"Yo no me quiero ir"
Viajando pela Espanha recentemente, terminei meu roteiro em Barcelona, a capital da Catalunha. Segunda cidade do país, Barcelona é um centro de arquiteura moderna, aonde despontam os trabalhos de Gaudí, sendo o mais famoso deles a “Sagrada Familia”. Adorei a cidade! Fiquei embriagado pelo seu charme e sobriedade. A cidade catalã possui ruas amplas e bem cuidadas, seus bairros sofisticados, suas avenidas e calçadões respiram arte como no caso do mosaico de Juan Miró no final da “la rambla” cumprimentando os transeuntes, como se fosse o sorriso pernambucano de alguma obra de Romero Brito. Sem querer ofender Miró, é claro!
Meus dias pela terra de Cervantes, foram acompanhados pelas notícias da crise espanhola e das manifestações politicas que pipocavam em cada esquina. O tom daquela manhã de domingo de outono para mim, foram os cartazes que diziam “yo no me quiero ir”. Colados nas malas com rodinhas, que os manisfestantes arrastavam pelas ruas de Barcelona, a frase mais acertadamente poderia ter sido proferida por alguém, que como eu, visitava Barcelona pela primeira vez.
Pois é! Crise é um negócio sério e em geral desestabiliza o mundo interior e exterior das pessoas, que por sua vez acabam fazendo qualquer coisa para sobreviver. Dizia o “El Pais” que seis de cada dez espanhois estão dispostos a emigrar em busca de oportunidade de trabalho. Nesse sentido, a crise econômica europeia tem suas similaridades, com as muitas crises já vividas por nós latino-americanos. Muitos jovens espanhois, para sobreviver tem emigrado para outros países europeus. Creio que a frase “yo no me quiero ir” refletia a angústia diante da perspectiva trágica da perda e de ser dessarraigado da terra natal, deixando para trás amigos e familiares, só levando na mala saudades. Esse tipo de partida sempre envolve as agruras de se começar tudo de novo, a sensação de ser forasteiro em terra estranha, de iniciar novas relações sempre sob o signo da suspeita. Em busca destas oportunidades, alguns tem se aventurado a ir um pouco mais longe, e tem chegado até ao Brasil, Argentina e Uruguay.
Dizem que a Catalunha já estava ocupada em 218 AC e com a presença de tantas comunidades judaicas já durante o primeiro século, imaginei que Paulo bem que poderia ter andado por estas bandas. Mas especulações a parte, o que me veio a mente foi que “ir” sempre causou tensão na missão. Pois da mesma forma, ela também se desencadeia pela trágica crise da sexta-feira santa, produzindo mais tarde enfrentamento religioso comunitário que afeta individuos de modo económico e social, justamente por causa do encontro com o Cristo ressuscitado.
O chamado de Jesus para à missão, envolve algumas destas mesmas características, tendo a crise como pano de fundo. Na versão mateana da Grande Comissão, Jesus convida seus amigos para que “indo” façam discipulos, em meio a uma crise que discute a “pureza” religiosa da comunidade na qual estavam inseridos, aliada a pressão socio-económica que contemplava a exclusão. Foi assim que em meio a essa confusão toda, me perguntava sobre como será que deveríamos “ir”? Que características deviam permear o nosso “ide” na missão?
Depois de viver alguns anos na diáspora pensei que uma, entre as muitas respostas satisfatórias a estas perguntas, deveria ser “ir” com uma atitude de quebrantamento. O Cristianismo medieval e o Cristianismo colonial da espada e da força, do poder económico e político tendo como base bíblica de missões Lucas 14:23 “força-os a entrar”, que acabou sendo irrelevante repetindo modelos ou se transformando em sincrético. A perspectiva de “ir” com a sandália nos pés, o cajado na mão, e a capa nas costas sempre foi dificil para o cristianismo ocidental, que sem dúvida alguma precisa se converter ao evangelho de Jesus!
Nessa perspectiva o trabalho não é nosso, Deus já está trabalhando nas comunidades locais e ao redor do mundo, e Ele nos chama para discernir como trabalhar juntos no trabalho que Ele já está fazendo. E assim somos chamados a ser como Cristo, para servir como servos e considerar os outros superiores a nós mesmos. Em muitos círculos, especialmente onde se tem recursos materias e humanos, se olha para a missão desde a perspectiva de nossos próprios interesses, daquilo que nós podemos fazer sem considerar os interesses dos outros. Honrar a Deus e as pessoas que servimos significa pôr de lado nossa agenda, escutar antes de proferir palavras, tendo sobretudo tempo para construir relacionamentos, e reconhecer o espaço e o lugar onde as pessoas estão. Via de regra, a agenda já está preparada, as necessidades definidas, os pontos claros sem que sequer tenhamos ouvido dos outros quais são as necessidades reais de suas comunidades afim de ajudar a responder em conformidade.
Madre Teresa de Calcutá, é uma dessas figuras do cristianismo global, que sintetizou esse quebrantamento num ministério de amor, serviço e compaixão ao próximo, e que consequentemente ganhou o respeito e admiração do mundo inteiro, porque sua atitude de quebrantamento ressoou no coração das pessoas (crentes e não-crentes). Dessa forma, ela representou os valores do reino de Deus em ação.
Nesse ponto de meus devaneios missiológicos de final de férias, viajei na possibilidade de que a frase “yo no me quiero ir”, também pudesse ter sido proferida por Jonas, em sua negação de compartilhar os oráculos divinos com os ninivitas. Seguramente, que por várias razões alheias e semelhantes a dos espanhois em sua crise econômica, somente aqueles vocacionados a servirem a Deus podem responder com consciência clara “eis me aqui”.
Meus dias pela terra de Cervantes, foram acompanhados pelas notícias da crise espanhola e das manifestações politicas que pipocavam em cada esquina. O tom daquela manhã de domingo de outono para mim, foram os cartazes que diziam “yo no me quiero ir”. Colados nas malas com rodinhas, que os manisfestantes arrastavam pelas ruas de Barcelona, a frase mais acertadamente poderia ter sido proferida por alguém, que como eu, visitava Barcelona pela primeira vez.
Pois é! Crise é um negócio sério e em geral desestabiliza o mundo interior e exterior das pessoas, que por sua vez acabam fazendo qualquer coisa para sobreviver. Dizia o “El Pais” que seis de cada dez espanhois estão dispostos a emigrar em busca de oportunidade de trabalho. Nesse sentido, a crise econômica europeia tem suas similaridades, com as muitas crises já vividas por nós latino-americanos. Muitos jovens espanhois, para sobreviver tem emigrado para outros países europeus. Creio que a frase “yo no me quiero ir” refletia a angústia diante da perspectiva trágica da perda e de ser dessarraigado da terra natal, deixando para trás amigos e familiares, só levando na mala saudades. Esse tipo de partida sempre envolve as agruras de se começar tudo de novo, a sensação de ser forasteiro em terra estranha, de iniciar novas relações sempre sob o signo da suspeita. Em busca destas oportunidades, alguns tem se aventurado a ir um pouco mais longe, e tem chegado até ao Brasil, Argentina e Uruguay.
Dizem que a Catalunha já estava ocupada em 218 AC e com a presença de tantas comunidades judaicas já durante o primeiro século, imaginei que Paulo bem que poderia ter andado por estas bandas. Mas especulações a parte, o que me veio a mente foi que “ir” sempre causou tensão na missão. Pois da mesma forma, ela também se desencadeia pela trágica crise da sexta-feira santa, produzindo mais tarde enfrentamento religioso comunitário que afeta individuos de modo económico e social, justamente por causa do encontro com o Cristo ressuscitado.
O chamado de Jesus para à missão, envolve algumas destas mesmas características, tendo a crise como pano de fundo. Na versão mateana da Grande Comissão, Jesus convida seus amigos para que “indo” façam discipulos, em meio a uma crise que discute a “pureza” religiosa da comunidade na qual estavam inseridos, aliada a pressão socio-económica que contemplava a exclusão. Foi assim que em meio a essa confusão toda, me perguntava sobre como será que deveríamos “ir”? Que características deviam permear o nosso “ide” na missão?
Depois de viver alguns anos na diáspora pensei que uma, entre as muitas respostas satisfatórias a estas perguntas, deveria ser “ir” com uma atitude de quebrantamento. O Cristianismo medieval e o Cristianismo colonial da espada e da força, do poder económico e político tendo como base bíblica de missões Lucas 14:23 “força-os a entrar”, que acabou sendo irrelevante repetindo modelos ou se transformando em sincrético. A perspectiva de “ir” com a sandália nos pés, o cajado na mão, e a capa nas costas sempre foi dificil para o cristianismo ocidental, que sem dúvida alguma precisa se converter ao evangelho de Jesus!
Nessa perspectiva o trabalho não é nosso, Deus já está trabalhando nas comunidades locais e ao redor do mundo, e Ele nos chama para discernir como trabalhar juntos no trabalho que Ele já está fazendo. E assim somos chamados a ser como Cristo, para servir como servos e considerar os outros superiores a nós mesmos. Em muitos círculos, especialmente onde se tem recursos materias e humanos, se olha para a missão desde a perspectiva de nossos próprios interesses, daquilo que nós podemos fazer sem considerar os interesses dos outros. Honrar a Deus e as pessoas que servimos significa pôr de lado nossa agenda, escutar antes de proferir palavras, tendo sobretudo tempo para construir relacionamentos, e reconhecer o espaço e o lugar onde as pessoas estão. Via de regra, a agenda já está preparada, as necessidades definidas, os pontos claros sem que sequer tenhamos ouvido dos outros quais são as necessidades reais de suas comunidades afim de ajudar a responder em conformidade.
Madre Teresa de Calcutá, é uma dessas figuras do cristianismo global, que sintetizou esse quebrantamento num ministério de amor, serviço e compaixão ao próximo, e que consequentemente ganhou o respeito e admiração do mundo inteiro, porque sua atitude de quebrantamento ressoou no coração das pessoas (crentes e não-crentes). Dessa forma, ela representou os valores do reino de Deus em ação.
Nesse ponto de meus devaneios missiológicos de final de férias, viajei na possibilidade de que a frase “yo no me quiero ir”, também pudesse ter sido proferida por Jonas, em sua negação de compartilhar os oráculos divinos com os ninivitas. Seguramente, que por várias razões alheias e semelhantes a dos espanhois em sua crise econômica, somente aqueles vocacionados a servirem a Deus podem responder com consciência clara “eis me aqui”.
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