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Palavra do leitor

Vida na periferia

A vida na periferia, apesar dos transtornos ocasionais e do preconceito que, via de regra, a cerca tem as suas compensações.

Morei em uma grande cidade onde as pessoas que moram na periferia são chamadas, pejorativamente, de suburbanas Esta designação está correta de acordo com o Dicionário, mas o que me chocava era o tom pejorativo usado nesta expressão. Morar no subúrbio, longe de ser motivo de chacotas e brincadeiras de mau gosto, é honroso se levarmos em conta a pureza evidente que aproxima as pessoas fazendo-as (supostamente) viverem mais seguras. As pessoas se conhecem e se ajudam.

A pureza flui em cada sorriso, em cada gesto e a sinceridade é latente no olhar e nas palavras. Viver na periferia, muitas vezes é sinal de humildade e pureza, mas nunca deve motivo de deboche, preconceito ou zombaria.

Com a crise dominando cada vez mais as classes sociais, sem ter outra opção, mais pessoas se mudam para os bairros distantes do centro. Os bairros vão crescendo e dando ensejo à formação de outros bairros, muitas vezes com nomes estranhos e pessoas desconhecidas vindas de outros Estados... A pequena cidade de outora passa a ser uma cidade grande, cheia de problemas estruturais e apelos sociais. Tudo parece conspirar contra esses moradores, mas aos poucos tudo vai se ajeitando, as pessoas vão se conhecendo melhor e se ajudando, formando, em virtude das circunstâncias, uma grande familia.

E esta familia de suburbanos é o exemplo mais claro de solidariedade com base na amizade recíproca, que feito semente, brota nos corações puros e carentes. A vida é feita dessas pequenas coisas que vemos e sentimos a cada dia - coisas simples, mas que nos dão mais vontade de viver.

A realidade às vezes nos obriga a fazermos certas adaptações e a nos sujeitarmos a determinadas condições. Parafraseando Euclides da Cunha, eu diria que o brasileiro é, sobretudo, um forte. O sonho de uma casa própria às vezes demora para se realizar, mas o esforço e a determinação operam o milagre da realização. O homem da periferia acalenta esse sonho e luta com todas as forças e não descansa enquanto não vê esse sonho se materializar.

A periferia fica tão longe, ainda não tem água, esgoto nem luz, mas o nosso herói enfrenta os desafios para enfim conseguir o seu intento. A união da vizinhança em torno dos objetivos comuns faz a carga ficar mais leve e todos saem recompensados.
A sobrevivência é algo básico e fundamental, as dificuldades não devem se sobrepor: há um confronto aberto, um desafio a mais que não pode sufocar a esperança que luta para sobreviver e revive a cada manhã. Talvez toda a beleza aqui descrita resida exatamente neste enfrentamento, nessa luta por que passa o bravo morador da periferia.

A vida na periferia,apesar das dificuldades e do preconceito que ainda existem, é algo que deve ser motivo de alegria, pois a vida por si só é um dom inestimável. A liberdade para conversar e desfrutar da verdaeira amizade... tudo somado, dividido e multiplicado acaba criando um laço muito dificil de ser rompido.

A vida na periferia tem o cheiro e o sabor gostoso do café passado na hora. Pessoas se sentam na calçada para jogar conversa fora ou analisar a situação atual do País. A simplicidade é o apanágio de todos e não há desentendimentos nem discussões acirradas. A paz é a coroa que todos ostentam e são felizes - simplesmente felizes. Por tudo que aqui foi exposto neste instante, neste dia, eu lhes digo que dá gosto morar na periferia.
Mogi Guaçu - SP
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