Palavra do leitor
- 15 de abril de 2014
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Ventos de mudanças?
Há pouco mais de um ano, um fato tomou conta da mídia mundial e certamente ficará gravado nos anais da História: a renúncia inesperada do Papa Bento XVI. Diante do ineditismo do fato senti a necessidade de dissertar um pouco sobre esse episódio e o momento peculiar em que vive o maior rebanho cristão do mundo.
Muitas dúvidas pairam no ar sobre os reais motivos que levaram à renúncia papal. Alguns falam do cansaço físico consequente de tantos compromissos e responsabilidades. Outros falam de decepção diante de tantos casos ilícitos envolvendo clérigos , incluindo alguns de alta patente dentro da estrutura eclesiástica, problemas com o banco do vaticano etc. Talvez só a História nos dirá, a posteriori, o que realmente aconteceu.
Diante de tantas especulações,gostaria aqui de trazer uma hipótese na tentativa de clarear este fato: a de que Bento XVI tenha dado início a um lento processo de reforma, tão urgente dentro do Catolicismo. Para tal, passo a lembrar alguns fatos e momentos significativos dentro da história da igreja.
O Catolicismo romano passou por vários momentos de tensão ao longo de seus 17 séculos de história. Porém, três eventos marcaram mais significativamente sua caminhada: o Cisma de 1054, o Cativeiro Babilônico no século XIV e a Reforma Protestante no século XVI. Em todos esses eventos algo estava muito claro: a igreja corria sérios riscos caso não realizasse mudanças profundas em sua teologia e em sua práxis.
No século XI, o grande Cisma pôs fim a um longa “guerra fria” entre o Ocidente e o Oriente. Desde que Constantino resolveu mudar a sede da igreja e, portanto, do império para Constantinopla, os dois lados da Europa passaram a ver um ao outro como inimigos querendo cada um a supremacia sobre o outro. Depois de séculos de tensão entre as partes, corroborada pelas diferenças culturais, finalmente a cisão acontece quebrando de vez a estabilidade e a uniformidade características da Alta Idade Média.
Outro fato digno de nota foi aquilo que os historiadores chamam de “cativeiro babilônico”, quando o Papa foi obrigado a mudar de domicílio saindo de Roma e se estabelecendo na França. O rei francês, Filipe IV, aproveitando a fraqueza ou ausência de liderança papal, conseguiu eleger Clemente V, que era francês, novo Papa e o convence a mudar a sede da igreja por quase 70 anos para a França. Esse fato só aumentou o atrito nas relações entre França e Inglaterra, pois esta última se recusava a enviar impostos para uma igreja que estava subordinada ao rei da França. Esse período é considerado o mais decadente na história do papado. Roma acabou elegendo um segundo Papa que não reconhecia o de Avignon, e este também não reconhecia o de Roma. Para solucionar a questão foi escolhido um terceiro. Agora eram três os "representantes de Pedro”. A controvérsia só seria resolvida no concílio de Constança em 1415.
Considero o século XVI, juntamente com o XVIII, os séculos mais relevantes para a história da humanidade considerando o aspecto da construção do conhecimento. Me deterei mais no primeiro por ter sido nele que a Reforma Protestante se fortaleceu dando início à criação das igrejas nacionais independentes e livres do poder romano. Depois de séculos de tentativas de mudanças internas, o monge agostiniano Martinho Lutero, apoiado que fora por nobres senhores ávidos por se libertarem do poder papal e por todo um clima de mudanças profundas que passava a Idade Média, quebrou de vez a unidade do Catolicismo ocidental dando início a um processo que ainda duraria cerca de 150 anos. Diante do poder explosivo trazido por Lutero e seus seguidores que denunciava uma igreja cada vez mais distante do Evangelho de Cristo, a igreja católica medieval não viu outra solução a não ser iniciar um processo duro, intransigente e impopular que ficaria conhecido como “Contra-Reforma”.
Voltando então ao Papa Bento e sua renúncia, e considerando todos os fatos acima relatados e a contemporaneidade de alguns deles, como a questão da ética e da relação igreja-Estado, identifico no ato de Ratzinger uma mensagem quase que subliminar aos seus irmãos de que a igreja precisa, mais uma vez, tomar sérias e profundas medidas para se adequar melhor aos tempos modernos e numa atitude de humildade e conversão voltar aos rudimentos e às bases de um Evangelho puro e comprometido com a Verdade. Para um bom entendedor meia palavra basta, diz o ditado popular. Renunciando ao posto máximo da igreja, Bento XV quer dá o exemplo.
A mensagem que não foi ouvida pela cúria romana no século XVI volta a badalar como um sino gritando aos quatro cantos do mundo que uma igreja sem o coração do Cristo não tem nenhuma relevância, que um Evangelho desprovido de Graça e Salvação não pode transformar um mundo cada vez mais alienado do Único que pode levar o homem a um relacionamento de volta a Deus. A escolha de Francisco talvez tenha sido o passo seguinte para que uma reforma, de fato, aconteça dentro da igreja que mais tem influenciado o Ocidente. Assim seja!
Muitas dúvidas pairam no ar sobre os reais motivos que levaram à renúncia papal. Alguns falam do cansaço físico consequente de tantos compromissos e responsabilidades. Outros falam de decepção diante de tantos casos ilícitos envolvendo clérigos , incluindo alguns de alta patente dentro da estrutura eclesiástica, problemas com o banco do vaticano etc. Talvez só a História nos dirá, a posteriori, o que realmente aconteceu.
Diante de tantas especulações,gostaria aqui de trazer uma hipótese na tentativa de clarear este fato: a de que Bento XVI tenha dado início a um lento processo de reforma, tão urgente dentro do Catolicismo. Para tal, passo a lembrar alguns fatos e momentos significativos dentro da história da igreja.
O Catolicismo romano passou por vários momentos de tensão ao longo de seus 17 séculos de história. Porém, três eventos marcaram mais significativamente sua caminhada: o Cisma de 1054, o Cativeiro Babilônico no século XIV e a Reforma Protestante no século XVI. Em todos esses eventos algo estava muito claro: a igreja corria sérios riscos caso não realizasse mudanças profundas em sua teologia e em sua práxis.
No século XI, o grande Cisma pôs fim a um longa “guerra fria” entre o Ocidente e o Oriente. Desde que Constantino resolveu mudar a sede da igreja e, portanto, do império para Constantinopla, os dois lados da Europa passaram a ver um ao outro como inimigos querendo cada um a supremacia sobre o outro. Depois de séculos de tensão entre as partes, corroborada pelas diferenças culturais, finalmente a cisão acontece quebrando de vez a estabilidade e a uniformidade características da Alta Idade Média.
Outro fato digno de nota foi aquilo que os historiadores chamam de “cativeiro babilônico”, quando o Papa foi obrigado a mudar de domicílio saindo de Roma e se estabelecendo na França. O rei francês, Filipe IV, aproveitando a fraqueza ou ausência de liderança papal, conseguiu eleger Clemente V, que era francês, novo Papa e o convence a mudar a sede da igreja por quase 70 anos para a França. Esse fato só aumentou o atrito nas relações entre França e Inglaterra, pois esta última se recusava a enviar impostos para uma igreja que estava subordinada ao rei da França. Esse período é considerado o mais decadente na história do papado. Roma acabou elegendo um segundo Papa que não reconhecia o de Avignon, e este também não reconhecia o de Roma. Para solucionar a questão foi escolhido um terceiro. Agora eram três os "representantes de Pedro”. A controvérsia só seria resolvida no concílio de Constança em 1415.
Considero o século XVI, juntamente com o XVIII, os séculos mais relevantes para a história da humanidade considerando o aspecto da construção do conhecimento. Me deterei mais no primeiro por ter sido nele que a Reforma Protestante se fortaleceu dando início à criação das igrejas nacionais independentes e livres do poder romano. Depois de séculos de tentativas de mudanças internas, o monge agostiniano Martinho Lutero, apoiado que fora por nobres senhores ávidos por se libertarem do poder papal e por todo um clima de mudanças profundas que passava a Idade Média, quebrou de vez a unidade do Catolicismo ocidental dando início a um processo que ainda duraria cerca de 150 anos. Diante do poder explosivo trazido por Lutero e seus seguidores que denunciava uma igreja cada vez mais distante do Evangelho de Cristo, a igreja católica medieval não viu outra solução a não ser iniciar um processo duro, intransigente e impopular que ficaria conhecido como “Contra-Reforma”.
Voltando então ao Papa Bento e sua renúncia, e considerando todos os fatos acima relatados e a contemporaneidade de alguns deles, como a questão da ética e da relação igreja-Estado, identifico no ato de Ratzinger uma mensagem quase que subliminar aos seus irmãos de que a igreja precisa, mais uma vez, tomar sérias e profundas medidas para se adequar melhor aos tempos modernos e numa atitude de humildade e conversão voltar aos rudimentos e às bases de um Evangelho puro e comprometido com a Verdade. Para um bom entendedor meia palavra basta, diz o ditado popular. Renunciando ao posto máximo da igreja, Bento XV quer dá o exemplo.
A mensagem que não foi ouvida pela cúria romana no século XVI volta a badalar como um sino gritando aos quatro cantos do mundo que uma igreja sem o coração do Cristo não tem nenhuma relevância, que um Evangelho desprovido de Graça e Salvação não pode transformar um mundo cada vez mais alienado do Único que pode levar o homem a um relacionamento de volta a Deus. A escolha de Francisco talvez tenha sido o passo seguinte para que uma reforma, de fato, aconteça dentro da igreja que mais tem influenciado o Ocidente. Assim seja!
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