Apoie com um cafezinho
Olá visitante!
Cadastre-se

Esqueci minha senha

  • sacola de compras

    sacola de compras

    Sua sacola de compras está vazia.
Seja bem-vindo Visitante!
  • sacola de compras

    sacola de compras

    Sua sacola de compras está vazia.

Palavra do leitor

Ventos de mudanças?

Há pouco mais de um ano, um fato tomou conta da mídia mundial e certamente ficará gravado nos anais da História: a renúncia inesperada do Papa Bento XVI. Diante do ineditismo do fato senti a necessidade de dissertar um pouco sobre esse episódio e o momento peculiar em que vive o maior rebanho cristão do mundo.

Muitas dúvidas pairam no ar sobre os reais motivos que levaram à renúncia papal. Alguns falam do cansaço físico consequente de tantos compromissos e responsabilidades. Outros falam de decepção diante de tantos casos ilícitos envolvendo clérigos , incluindo alguns de alta patente dentro da estrutura eclesiástica, problemas com o banco do vaticano etc. Talvez só a História nos dirá, a posteriori, o que realmente aconteceu.

Diante de tantas especulações,gostaria aqui de trazer uma hipótese na tentativa de clarear este fato: a de que Bento XVI tenha dado início a um lento processo de reforma, tão urgente dentro do Catolicismo. Para tal, passo a lembrar alguns fatos e momentos significativos dentro da história da igreja.

O Catolicismo romano passou por vários momentos de tensão ao longo de seus 17 séculos de história. Porém, três eventos marcaram mais significativamente sua caminhada: o Cisma de 1054, o Cativeiro Babilônico no século XIV e a Reforma Protestante no século XVI. Em todos esses eventos algo estava muito claro: a igreja corria sérios riscos caso não realizasse mudanças profundas em sua teologia e em sua práxis.

No século XI, o grande Cisma pôs fim a um longa “guerra fria” entre o Ocidente e o Oriente. Desde que Constantino resolveu mudar a sede da igreja e, portanto, do império para Constantinopla, os dois lados da Europa passaram a ver um ao outro como inimigos querendo cada um a supremacia sobre o outro. Depois de séculos de tensão entre as partes, corroborada pelas diferenças culturais, finalmente a cisão acontece quebrando de vez a estabilidade e a uniformidade características da Alta Idade Média.

Outro fato digno de nota foi aquilo que os historiadores chamam de “cativeiro babilônico”, quando o Papa foi obrigado a mudar de domicílio saindo de Roma e se estabelecendo na França. O rei francês, Filipe IV, aproveitando a fraqueza ou ausência de liderança papal, conseguiu eleger Clemente V, que era francês, novo Papa e o convence a mudar a sede da igreja por quase 70 anos para a França. Esse fato só aumentou o atrito nas relações entre França e Inglaterra, pois esta última se recusava a enviar impostos para uma igreja que estava subordinada ao rei da França. Esse período é considerado o mais decadente na história do papado. Roma acabou elegendo um segundo Papa que não reconhecia o de Avignon, e este também não reconhecia o de Roma. Para solucionar a questão foi escolhido um terceiro. Agora eram três os "representantes de Pedro”. A controvérsia só seria resolvida no concílio de Constança em 1415.

Considero o século XVI, juntamente com o XVIII, os séculos mais relevantes para a história da humanidade considerando o aspecto da construção do conhecimento. Me deterei mais no primeiro por ter sido nele que a Reforma Protestante se fortaleceu dando início à criação das igrejas nacionais independentes e livres do poder romano. Depois de séculos de tentativas de mudanças internas, o monge agostiniano Martinho Lutero, apoiado que fora por nobres senhores ávidos por se libertarem do poder papal e por todo um clima de mudanças profundas que passava a Idade Média, quebrou de vez a unidade do Catolicismo ocidental dando início a um processo que ainda duraria cerca de 150 anos. Diante do poder explosivo trazido por Lutero e seus seguidores que denunciava uma igreja cada vez mais distante do Evangelho de Cristo, a igreja católica medieval não viu outra solução a não ser iniciar um processo duro, intransigente e impopular que ficaria conhecido como “Contra-Reforma”.

Voltando então ao Papa Bento e sua renúncia, e considerando todos os fatos acima relatados e a contemporaneidade de alguns deles, como a questão da ética e da relação igreja-Estado, identifico no ato de Ratzinger uma mensagem quase que subliminar aos seus irmãos de que a igreja precisa, mais uma vez, tomar sérias e profundas medidas para se adequar melhor aos tempos modernos e numa atitude de humildade e conversão voltar aos rudimentos e às bases de um Evangelho puro e comprometido com a Verdade. Para um bom entendedor meia palavra basta, diz o ditado popular. Renunciando ao posto máximo da igreja, Bento XV quer dá o exemplo.

A mensagem que não foi ouvida pela cúria romana no século XVI volta a badalar como um sino gritando aos quatro cantos do mundo que uma igreja sem o coração do Cristo não tem nenhuma relevância, que um Evangelho desprovido de Graça e Salvação não pode transformar um mundo cada vez mais alienado do Único que pode levar o homem a um relacionamento de volta a Deus. A escolha de Francisco talvez tenha sido o passo seguinte para que uma reforma, de fato, aconteça dentro da igreja que mais tem influenciado o Ocidente. Assim seja!
Brasília - DF
Textos publicados: 80 [ver]
Os artigos e comentários publicados na seção Palavra do Leitor são de única e exclusiva responsabilidade
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.

Ultimato quer falar com você.

A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.

PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.


Opinião do leitor

Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta

Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.