Palavra do leitor
- 21 de setembro de 2015
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Uma mulher síria gritando por socorro
Somos atingidos por imagens de crianças afogadas, de caixões no mediterrâneo de pessoas asfixiadas em caminhões na Áustria… Tudo parece ser um pesadelo alheio, que começa a adentrar nossos mundos.
Na Europa, acostuma-se a dormir tranquilamente. Não há o assombro da criminalidade absurda. Das janelas com grades. Da paranoia do sequestro, do assalto, do assassinato e todas as formas de violência urbana que apavoram o cidadão de bem no Brasil.
Já cheguei a sonhar que o Brasil, um dia, não muito distante, mudaria para melhor. Acho que foi quando era jovem... Quando me tornei crente. Sim, naquela época cheguei a imaginar que se o povo brasileiro deixasse suas crendices, suas superstições, suas malandragens, seus confortos e luxos e começasse a se voltar para Deus, para o que é justo e verdadeiro que o país prosperaria. Na linguagem protestante acreditei que o Brasil poderia experimentar um avivamento. Talvez alimente ainda esse sonho, com migalhas, para que ele não morra de vez. Mas ele deve ter ficado bem escondidinho em algum canto de minha imaginação ao lado de outras utopias.
Uma delas, bem recente, diz respeito à avalanche de refugiados que nesse momento está escorrendo pelos corredores dos Balcãs e se derramando nas estações centrais alemãs.
Quando Jesus passou por essa terra, em solos palestinos, não encontrou um mundo de flores. Certamente em muitos aspectos – se não em todos – a situação era bem pior do que se vê hoje. Fome, guerras, mortalidade, doenças, criminalidade, opressão.
As multidões o seguiam, pois logo perceberam que ali estava a solução para todos os seus problemas. Curas, milagres, libertação: salvação!
As demandas sobre Jesus eram enormes. E ele, parece, ter estabelecido para si mesmo um limite: Israel. Não saiu pelo mundo a fora, mas em seus três anos de trabalho religioso ficou somente em solo israelita. Atendia os judeus e os samaritanos. Em seus lábios “eu vim para as ovelhas perdidas da casa de Israel”.
Mas de repente chega uma mulher síria gritando socorro (para sermos exatos ela possuía tripla cidadania greco-siro-fenícia). Ela gritava insistentemente atrás de Jesus, ao ponto de os próprios discípulos já não aguentarem a situação e pedirem a Jesus que fizesse algo.
Jesus, com palavras não muito caridosas, disse-lhe que não poderia tirar o pão dos filhos para dar aos cachorrinhos. Talvez essa seria a hora em que muito de nós teríamos recolhido o pouco de dignidade que nos restava e teria deixado o judeu em paz com sua gente, e teríamos voltado para casa com nosso problema debaixo do braço.
Mas essa mulher síria foi diferente. Estrangeira, vivendo em Israel, estava acostumada a todo tipo de preconceito e humilhação. Certamente ela percebeu nas palavras de Jesus uma deixa de carinho, talvez pelo tom de voz, ou pela expressão facial do Messias. Ela sabia, pela fé, que sua esperança estava ali, naquele homem-deus. E a chance não seria desperdiçada. “Senhor, até os cachorrinhos comem das migalhas…”
O apelo de um coração quebrantado deixa Deus sem resistências. Jesus a despede com a graça concedida – a libertação do demônio que atormentava sua filhinha. Posso imaginar as lágrimas e o sorriso daquela mãe ao reencontrar a filha transformada, saudável e em perfeito juízo.
Ah aquela mulher síria. Louca, gritando atrás de Jesus. Queriam se livrar dela. E ela, mestra eternizada nos evangelhos, deu-nos uma grande lição de humildade e fé.
O demônio está solto hoje em território Sírio. Cidades inteiras estão em ruínas. Outras estão tomadas ou por uma ditadura cruel ou por milícias não menos cruéis. A comunidade internacional não chega num acordo de como interferir no conflito de forma a pacificá-lo. USA, polícia do mundo, preferiu, pelas suas experiências má sucedidas no Iraque, ficar formalmente fora. Rússia apoia o ditador. Nesse solo espinhento brota o Estado Islâmico espalhando terror com suas decapitações on-line e recrutando jovens do mundo inteiro para uma guerra santa.
Ao cidadão comum sírio, às mulheres sírias resta não outra alternativa a não ser vir pedir socorro, salvação, a uma Europa cristã – é bom frisarmos aqui o termo cristã.
Quando começo a ver essa avalanche de islâmicos cruzarem as fronteiras germânicas começo a sonhar. Em meio a tanta miséria e terror, penso que Deus possibilita ao cristão comum europeu a chance de testemunhar do amor de Jesus a essas pessoas. Como alemão, sonho com a possibilidade do meu país reescrever sua história. Como cristão, sonho com a possibilidade única de pescar uma multidão de almas para Jesus.
São imaginações sem muita conexão com a realidade. Talvez será mais uma utopia que terei que manter, com migalhas, ao lado daquele outro sonho de ver ainda, um dia, o Brasil avivado…
Ah mulher síria, me ensine novamente sua lição de ser como um cachorrinho para que não falte a meus sonhos suas migalhas. Porque enquanto eles viverem, talvez eu mesmo permaneça vivo com eles.
Na Europa, acostuma-se a dormir tranquilamente. Não há o assombro da criminalidade absurda. Das janelas com grades. Da paranoia do sequestro, do assalto, do assassinato e todas as formas de violência urbana que apavoram o cidadão de bem no Brasil.
Já cheguei a sonhar que o Brasil, um dia, não muito distante, mudaria para melhor. Acho que foi quando era jovem... Quando me tornei crente. Sim, naquela época cheguei a imaginar que se o povo brasileiro deixasse suas crendices, suas superstições, suas malandragens, seus confortos e luxos e começasse a se voltar para Deus, para o que é justo e verdadeiro que o país prosperaria. Na linguagem protestante acreditei que o Brasil poderia experimentar um avivamento. Talvez alimente ainda esse sonho, com migalhas, para que ele não morra de vez. Mas ele deve ter ficado bem escondidinho em algum canto de minha imaginação ao lado de outras utopias.
Uma delas, bem recente, diz respeito à avalanche de refugiados que nesse momento está escorrendo pelos corredores dos Balcãs e se derramando nas estações centrais alemãs.
Quando Jesus passou por essa terra, em solos palestinos, não encontrou um mundo de flores. Certamente em muitos aspectos – se não em todos – a situação era bem pior do que se vê hoje. Fome, guerras, mortalidade, doenças, criminalidade, opressão.
As multidões o seguiam, pois logo perceberam que ali estava a solução para todos os seus problemas. Curas, milagres, libertação: salvação!
As demandas sobre Jesus eram enormes. E ele, parece, ter estabelecido para si mesmo um limite: Israel. Não saiu pelo mundo a fora, mas em seus três anos de trabalho religioso ficou somente em solo israelita. Atendia os judeus e os samaritanos. Em seus lábios “eu vim para as ovelhas perdidas da casa de Israel”.
Mas de repente chega uma mulher síria gritando socorro (para sermos exatos ela possuía tripla cidadania greco-siro-fenícia). Ela gritava insistentemente atrás de Jesus, ao ponto de os próprios discípulos já não aguentarem a situação e pedirem a Jesus que fizesse algo.
Jesus, com palavras não muito caridosas, disse-lhe que não poderia tirar o pão dos filhos para dar aos cachorrinhos. Talvez essa seria a hora em que muito de nós teríamos recolhido o pouco de dignidade que nos restava e teria deixado o judeu em paz com sua gente, e teríamos voltado para casa com nosso problema debaixo do braço.
Mas essa mulher síria foi diferente. Estrangeira, vivendo em Israel, estava acostumada a todo tipo de preconceito e humilhação. Certamente ela percebeu nas palavras de Jesus uma deixa de carinho, talvez pelo tom de voz, ou pela expressão facial do Messias. Ela sabia, pela fé, que sua esperança estava ali, naquele homem-deus. E a chance não seria desperdiçada. “Senhor, até os cachorrinhos comem das migalhas…”
O apelo de um coração quebrantado deixa Deus sem resistências. Jesus a despede com a graça concedida – a libertação do demônio que atormentava sua filhinha. Posso imaginar as lágrimas e o sorriso daquela mãe ao reencontrar a filha transformada, saudável e em perfeito juízo.
Ah aquela mulher síria. Louca, gritando atrás de Jesus. Queriam se livrar dela. E ela, mestra eternizada nos evangelhos, deu-nos uma grande lição de humildade e fé.
O demônio está solto hoje em território Sírio. Cidades inteiras estão em ruínas. Outras estão tomadas ou por uma ditadura cruel ou por milícias não menos cruéis. A comunidade internacional não chega num acordo de como interferir no conflito de forma a pacificá-lo. USA, polícia do mundo, preferiu, pelas suas experiências má sucedidas no Iraque, ficar formalmente fora. Rússia apoia o ditador. Nesse solo espinhento brota o Estado Islâmico espalhando terror com suas decapitações on-line e recrutando jovens do mundo inteiro para uma guerra santa.
Ao cidadão comum sírio, às mulheres sírias resta não outra alternativa a não ser vir pedir socorro, salvação, a uma Europa cristã – é bom frisarmos aqui o termo cristã.
Quando começo a ver essa avalanche de islâmicos cruzarem as fronteiras germânicas começo a sonhar. Em meio a tanta miséria e terror, penso que Deus possibilita ao cristão comum europeu a chance de testemunhar do amor de Jesus a essas pessoas. Como alemão, sonho com a possibilidade do meu país reescrever sua história. Como cristão, sonho com a possibilidade única de pescar uma multidão de almas para Jesus.
São imaginações sem muita conexão com a realidade. Talvez será mais uma utopia que terei que manter, com migalhas, ao lado daquele outro sonho de ver ainda, um dia, o Brasil avivado…
Ah mulher síria, me ensine novamente sua lição de ser como um cachorrinho para que não falte a meus sonhos suas migalhas. Porque enquanto eles viverem, talvez eu mesmo permaneça vivo com eles.
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