Uma espiritualidade sem marcas [2]

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Indo ao texto de Gênesis 05. 18 a 24, nada mais e nada menos, encontramos a afirmação de que Enoque andou com Deus.

Aproveito essa simples descrição e vejo um Enoque sem a biografia de um conquistador, como Davi; sem os feitos e efeitos de milagres vivenciados, como Moisés; sem a sabedoria e a profundidade de Salomão; sem a superação de adversidades, através da fé, como Abraão e seus descendentes; sem ser considerado um marco na conversão de vidas, numa só tacada, como Pedro; sem ser visto como um expoente do período pós – crucificação, caso de Paulo; de ser reputado como o Profeta dos Profetas, como Isaías; de não ser incumbido de ser o meio das revelações dos últimos tempos, como João.

Presumidamente, a princípio, observo uma espiritualidade chata, sem nuances, sem estardalhaço, sem nada a oferecer, sem relatos de sofrimentos, sem episódios de martírios, sem doutrinas, sem dogmas, sem discussões teológicas, sem prodígios, sem ressurreições, sem riquezas.

Via de regra, e devemos abrir o jogo, somos persuadidos por uma espiritualidade grandiloquente, dotada de um currículo de que fiz, isso e acolá. Diametralmente oposto, Enoque espelha uma espiritualidade de andar com Deus, longe das bitolagens de um evangelho para provar, longe de viver acima da culpa e da condenação, longe da paranoia das maldições hereditárias, longe do obsessão para descobrir uma vida de sucesso e vitoriosa.

Simplesmente, Enoque andou com Deus e, com certeza, representou toda a diferença. Sem sombra de dúvida, a trajetória deve nos fazer ponderar sobre nossa caminhada cristã. Afinal de contas, quiçá não necessitamos de, sem mais delongas, decidir e aceitar andar com Deus, deixar na Cruz os pesos e contrapesos de uma vida perfeita e de, efetivamente, andar com Deus nas periferias de nossa vida (no momentos corriqueiros do cotidiano) e no centro (aquelas situações que nos afligem, nos assolam, nos achatam).

Deveras, andar com Deus, abrir as portas e deixar à dúvida, as incertezas, as inseguranças escoarem ladeira abaixo e chegar até o Cristo Ressurrecto; andar com Deus, sem se tornar numa versão de zumbi, semelhante a série Dealking, ou seja, sem sentimento, sem paixão, sem lágrimas, sem criatividade, sem animo, sem docilidade e apenas com um desejo de anular a vida, o próximo e a si mesmo; andar com Deus e diante do espelho ser envolvido com a coragem para dizer:

- Senhor, não quero vestir a roupagem de ter respostas para tudo, mas quero ser sério e sincero nos momentos em que olho para a bíblia e a interpreto como um desperdício e concebo a oração como um fardo; quando cogito, nas entrelinhas ou nas rodas de nota de roda pé da minha interioridade, adotar um evangelho conformado.
De notar, Enoque andou com Deus, somente isso!

Talvez seja o momento de você romper com a mediocridade de uma alegria, a muito tempo, perdida, de regurgitar os porquês soterrados no inconsciente, de reconhecer que, em certos momentos, o tempo oprime, que o futuro aponta para a obscuridade e o presente aparenta ser um jogo de cartas marcadas e, ademais, viver uma espiritualidade que, provavelmente, não faça parte dos best-sellers da fé, mesmo assim, não deixará de andar com Deus.

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Opinião do leitor