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Palavra do leitor

Uma carta, simplesmente!

"as gerações futuras apenas levarão a palavra como norte da vida."

Biografia aberta

muito mais
palavras lançadas
diluídas no oceano
sonhos dispersos
nas páginas diárias;

perdas
lágrimas
abraços
recomeços
pontuações
cravadas
no silêncio da alma;

a pena
a tinta
a areia
o palco
a agenda
as teclas
testamentos do que somos.

Deveríamos deixar de fazer dos fracassos uma carta na manga para nos justificarmos. Não seria mais honroso, em meio ao turbilhão de atitudes a serem tomadas, diante de determinadas trajetórias, pararmos um pouco, permitirmos o mover e o soar das mudanças.

Quem sabe assim, evitaríamos cravar estacas irremovíveis nas memórias e lembranças do outro. Por que não temos a coragem para nos desfazermos de uma quinquilharia de estratégias para agradarmos, sermos apetecíveis, colhermos restos de uma patética admiração por nossa pretensa disponibilidade. Na crua e nua verdade, menos princípios 'a torto e a direita' e mais voltados a contemplarmos a luminosidade de uma manhã de verão, com a porta da alma aberta, a embevecermos o espírito com a imaginação da renascença da primavera e a transcendência no silêncio do outono.

Sabe aceitarmos a alforria para subirmos ao palco da nossa história, sem a vergonha de abrirmos os olhos. Chorarmos como o simples gesto de entrega e não impulsionados por sensações passageiras. Rir com a leveza da infância. Amar no improviso do primeiro beijo. Submergir no palpitar da paixão, das emoções e dos sentimentos.

Em tudo isso, dá passagem a uma espiritualidade sensível as tensões e as contradições. Verdadeiramente, chegar a casa e, nada mais e menos, olhar para a amada, saborear o ócio, anular a corrida tresloucada pelo sucesso, pelo êxtase e pela estabilidade de aparências. Simplesmente, parar e ao lado do silêncio trilhar pelos enredos do que somos. Ouvir, partilhar e doar gestos de uma vida mais lúdica. Resgatar a inocência para perdoar, estender as mãos, estar a par das fronteiras próximo. Eis o desafio a ser escolhido e encontrar a felicidade diariamente na candura de uma criança e no alentar do aconchego.

É bem verdade, os anos pesam como chumbo, a correria do dia - a - dia parece um deserto de anônimos a espreita, o sono se assemelha ao presságio de mais um dia de morticínio. Quantas vezes acabamos por colocar o outro nessa visão automatista, nos tratamos como peças de uma engrenagem expositiva. Enfim, buscamos ícones e não pessoas de carne, de osso, de alma, de inconsciente e por ai vai; optamos por paradigmas de uma excelência duvidosa; despersonalizamos-nos para sermos adequados e politicamente corretos. Não queremos de modo algum sair mal na foto; então, ofuscamos a liberdade; soterramos as fragilidades com um patético e cínico emblema de martírio e fé; cuspimos no Criador em troca de miríades de criadores a venda, em cada esquina; demarcamos as quedas adstritas a uma visão congênita moralística (ao invés de acolhermos o convalido); toleramos de bom grado a inquisição inexorável dos abatidos; alojamo - nos em teoremas ideológicos sobre as causas das desgraças alheias; elegemos a história, a hereditariedade, a família e sei lá mais o que para não reconhecermos a nossa responsabilidade.

Sinceramente, lá no fundo, subterfugiamo-nos na culpa, na condenação, na necessidade de execrar sempre alguém. Para piorar a situação, medimos o quão bom somos, através das mazelas do próximo; usamos o discurso da caridade para única e exclusivamente suportarmos a nossa mediocridade. Além de tudo isso, nos engajamos numa devoção de aplausos opacos. Sejamos honestos, ao menos uma vez, preferimos a massa de um amém de conveniências para creditarmos numa eternidade que nem sequer botamos todas as nossas fichas.

Tornamo - nos mestres em persuasão e rejeitarmos terminantemente servir, discipular e ouvir na penumbra do cotidiano. Que bom pudéssemos observar a vida, o próximo, a nós mesmos e a Deus, por meio da retina de Cristo. Isto nos pouparia anos e tentativas estúpidas de justificarmos a salvação. De notar, talvez melhor aceitar o siga - me e dizer não as respostas prontas movidas por mentes adaptadas a uma realidade falaciosa, cujos males e problemas não existem. Em outras palavras, siga - me. Sim e sim, para baixarmos a opulência de sermos os predestinados; de que a eternidade se ergue no virar das páginas diárias; de que Deus, em muitas situações, será encontrado na dúvida, na insegurança, na solidão, na perda, no prazer, na revolta, na revelação, no não, no sim, na amargura, na angústia e etceres. Sermos sinceros no que toca a verdade inquestionável de que a bíblia não representa um compêndio de respostas para tudo.

Ademais, deveríamos parar de tentar de alterar o mundo, segundo as nossas convicções adoecidas pelo receio de que sermos livres e autores da nossa história e, tão somente assim, renasceríamos sobre a dimensão da alegria, da esperança, da justiça e vida que nos convida para Cristo.
São Paulo - SP
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