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Palavra do leitor

Um Profeta Anarquista

Um profeta anarquista



‘’As palavras são necessárias, fundamentais, relevantes, imprescindíveis e outras expressões, ao qual demonstram a importância na existência humana, agora, tornam – se vivas, na realidade da qual participamos, convivemos e partilhamos, através de atos e práticas; fora isso, não há qualquer funcionalidade e importância; eis a questão a ser ponderada e enfrentada, com relação aos cristãos, muitas vezes, cheios de palavras, mas sem ir a direção da vida. ’’


O profeta Amós tem sido uma figura carimbada, nos textos que escrevo. De certo, esse boiadeiro surge, repentinamente, com uma linguagem de ruptura e irrupção, ao qual toca na ferida dos desmandos, das arbitrariedades, dos conchavos, dos acordos por debaixo dos panos tão fluente, no reinado de Jeroboão.

Sem papa na língua, descortina a distância abissal das autoridades, diante do Deus que reivindica de seu povo não sacrifícios, não ritualismos, não liturgias, não dogmas, não ideologias, não idealismos e sei lá mais o que. Grosso modo, uma postura e um proceder em prol da justiça, não perfeita, não ideal, mas voltada a enfrentar as vicissitudes e ambiguidades de cada dia, com suas fragmentações, com suas transições, com sua finitude, com suas incertezas, com sua transitoriedade.

Vale dizer, as turbulências colossais ora presente, aqui, com as denúncias, prisões e o desmanchar, cada vez mais presente, do governo federal, nos chama para determinadas colocações. Afinal de contas, estamos diante de uma encruzilhada, com relação a também ir as ruas, protestar e ecoar nossa indignação. Para muitos, permanecer, tão somente, na esfera da oração, representa incorrer numa decisão covarde, conveniente, cômoda.

Já para outros, tudo deve convergir ajoelhados e em clamor. Seja de um ou de outro lado, somos, como igreja, chamados para sermos úteis e benéficos, ser sal na terra e luz no mundo, tanto no cenário intimista quanto como concreto. Em outras palavras, valho – me de Amós, um profeta anarquista, pelo qual não trouxe somente uma virada de disco, apontou para uma restauração urgente em favor do próximo, da vida.

Ora, um profeta anarquista, em função de dar um basta as práticas levianas e hipócritas, do toma lá e da cá, de uma fé restrita as paredes dos templos, de um Deus lançado as memórias de um passado de glórias e conquistas. Verdadeiramente, esse profeta anarquista subverteu e não se amoldou aos sistemas e subsistemas das ideologias teocráticas, desafiou os jogos de cartas marcadas e descortinou a verdade, como deveria ser.

Os panelaços, as passeatas, as manifestações, os protestos direcionam para um clamor, até justificável e compreensível, por uma recondução dos vagões nos trilhos. Agora, faz – se necessário acompanhar as experiências de Amós, invadido pela inspiração e criação de um Deus ancorado a recomeços, ou seja, possamos romper e irromper com uma leitura individualista, consumista e predadora da vida, de rever a maneira de descartar pessoas, de perceber o quanto a felicidade se constrói na convivência e na interdependência.

Tristemente, observo todo um enxame de condenações e banimentos, referente aos envolvidos com a operação lava jato. É bem verdade, devemos demonstrar nossa indignação, inaceitação e inadmissibilidade; entretanto, tenhamos a coragem para protestar com o jeitinho brasileiro, com a ausência de cidadania, com a falta de educação e tolerância, de respeito e sensibilidade (ao não furar a fila, ao não ser conivente com oportunistas e aventureiros nos púlpitos para angariarem votos, a dizer não para a imoralidade, a bestialidade, a banalidade e esse doentio relativismo social).

Nessa trajetória, não basta orar, não basta ir as ruas, mas sim tirar a vitrola, quebrar os discos e permitir ao Espírito Santo de Deus nos eleger para sermos servos, o evangelho do serviço integral (ao qual abarca o espírito, a alma e o corpo), a não se conformar com a mendicância, nas esquinas, com a prostituição venerada, com o culto aos meus direitos.

Retomando o fio da meada, o interessante do Profeta Anarquista, passou e perpassou por uma composição de palavras com efetividade e sem rodeios, sem a superficialidade dos encontros dominicais, convocou a todos para uma coalizão de libertação, de justiça, de esperança e de misericórdia.

Aliás, o impecheamant bate a porta e há uma grandiosa possibilidade de acontecer e, após isso, cairemos no esquecimento daqueles que foram alcunhados de caras pintadas, na época da derrocada do outrora Presidente Fernando Collor de Melo? Ou assumiremos nosso papel de cidadania e parar de conceber a vida como uma desgraça?

Por fim, Amós votou a ser boiadeiro, não se candidatou a nenhum cargo, não assumiu nenhuma investidura sacerdotal, não se mancomunou com propostas escusas, no entanto, banhado pela Graciosa Fecundidade do Carpinteiro dos Recomeços, trouxe a tona a transparente vontade de Deus, porque o resto é conversa fiada, pra boi dormir, Amós 05.14.
São Paulo - SP
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