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Palavra do leitor

Um Mago. Uma Estrela. Um Rei. (Parte 1)

Melchior era um homem que gostava de contar histórias. Nos finais de semana era comum sua casa ficar cheia de parentes e amigos para comer e ouvir os contos do velho astrônomo. Todos ficavam espantados com tamanha capacidade de lembrar fatos antigos, dados, datas e números. Era o que se poderia chamar de mente brilhante. Naquela tarde, porém, aquele experiente viajante persa, já com sua vista cansada prestes a completar um século de vida, gostaria de contar aquela que fora a história mais fantástica, a experiência mais inesquecível na sua rica caminhada, o encontro que traria um novo significado para sua vida.

Tomando mais um gole do chá de hortelã, como fazia todas as tardes antes do pôr do sol, sentado sobre um tapete cor de laranja já meio amarelado pelo tempo e rodeado por ouvidos curiosos e atentos, ele começou a contar sobre aquela jornada, quando muito jovem, partiu rumo ao ocidente…

E assim iniciou sua narrativa: sempre tive muita curiosidade sobre o que haveria no cosmos, sobre a quantidade e o brilho das estrelas, a idade do universo, o movimento dos planetas. Muito cedo meu velho pai me presenteou com uma luneta ao observar meu entusiasmo pelos céus. Logo me juntei a outros também interessados pelo estudo da astronomia, ciência já bem adiantada na Pérsia e redondezas. Na escola nosso passatempo principal era a observação noturna das constelações. Das muitas leituras que fazíamos dos velhos pergaminhos, sonhávamos em fazer muitas viagens. Até que um dia tive acesso a alguns rolos que falavam de um povo que adorava um único Deus. Para mim, criado num ambiente politeísta, era difícil entender tal conceito. Os judeus, como ficaram conhecidos, aguardavam um tal Messias, um libertador que seria um grande rei e traria prosperidade e paz a uma nação iniciada por um certo caldeu de nome Abrão, também participante de uma outra ousada viagem.
Os relatos e profecias começaram a me interessar cada vez mais. A cada dia aumentava em mim o desejo de saber mais sobre aquele tal descendente de Davi, aquele que "julgaria os aflitos do povo, salvaria os filhos do necessitado, e quebrantaria o opressor" e "todos os reis se prostrariam perante ele; todas as nações o serviriam" (Sl 72 2,11). Prometi para mim mesmo que não descansaria até ver aquele sobre o qual tais profecias falavam. Depois de muitos cálculos e pesquisas com renomados sábios, tomei uma decisão que mudaria os rumos da minha existência: juntei todas as minhas economias, formei um grupo de amigos numa grande caravana e os desafiei a seguirmos uma dita estrela que haveria de surgir no horizonte celeste e que identificaria o exato lugar onde o tal Messias judeu surgiria. Não fazia a menor ideia do que presenciaria nos próximos dias…

Partimos numa bela manhã tendo o Sol e as montanhas do deserto como testemunhas da nossa empreitada. Os camelos, abarrotados com toda a logística montada para uma caminhada de dois meses. Os companheiros de aventura pareciam empolgados com o desafio que estava prestes a iniciar. Os dias seriam longos. As noites, frias.

Em alguns momentos, a dúvida, os perigos e o cansaço pairavam sobre nós, porém, a estrela à nossa frente, apontando o caminho a seguir, nos reanimava e nos inclinava a continuar a jornada. Campinas, vilarejos e fazendas de gado iam ficando para trás. A expectativa de chegar a Jerusalém e arredores era crescente. E o dia chegou. Todos estavam exaustos depois de semanas caminhando. Na cidade de Davi logo fomos recebidos pelas autoridades locais que, a mando de Herodes, nos pediram que as avisassem quando encontrássemos o rei dos judeus. O sinal celeste nos apontou para uma pequena cidade próxima. Belém era seu nome. Logo estávamos lá e uma família alegre nos recebeu com muito carinho. Uma jovem senhora, um pouco assustada, que parecia não ter mais que 15 anos. Ao seu lado, um homem de meia idade cuidava de arrumar o ambiente: um curral cujos inquilinos testemunhavam aquele acontecimento histórico. Maria e José eram seus nomes. Entre eles, um pequenino bebê dormia calmamente o sono dos justos.

Uma alegria indizível encheu meu coração. Olhei várias vezes para o céu para ter certeza que a estrela-guia estava lá sobre nós. Pairada e reluzente como o Sol de meio-dia, ela nos afirmava que nossa jornada havia alcançado o fim. Numa atitude de reverência, pedi que todos se ajoelhassem.
Havia um clima de satisfação, completude e serenidade naquele lugar. Uma paz verdadeira e profunda inundou meu gélido coração. De repente, estava diante daquilo ou daquele sobre o qual eu havia lido e estudado por tantos anos. Diante de mim, a concretização de profecias de séculos atrás. Até então, só tinha ouvido falar no "Único Deus Criador", todavia, olhar para um Deus encarnado, feito homem, e ainda uma criança, era demais para mim. Porém, aquela fé que fora em mim depositada há alguns anos de maneira inexplicada, confirmava dentro de mim que Aquele era "a expressão exata do ser de Deus" (Hb 1.3).

*continua aqui.
Tony
Brasília - DF
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