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Palavra do leitor

Um esquema aqui e outro acolá e a lei do mais esperto!

Um esquema aqui e outro acolá e a lei do mais esperto!



Pergaminho
a porta desconhecida,
ninguém a toca,
em uma caricatura de cadáveres;
em seus bastidores,
quinquilharias de sonhos,
com as sobras saudosistas;
ao abrir a gaveta,
pétalas violadas,
em mosaicos de lágrimas;
a taça vazia,
envolta por um manto de poeira,
testemunha de um pergaminho amordaçado.
·



As mais recentes denúncias sobre o esquema de desvio de recursos públicos, na Petrobrás, configura a velha prática, tão fluente e confluente, na relação pública e privada. Grosso modo, a troca de favores tem sido uma tônica, desde a descoberta do Brasil, com o conhecido toma cá e dá lá. Aliás, a teoria do é dando que as coisas funcionam, permeia e forma a nossa cultura. Desde uma multa por infração de trânsito ou a apropriação inaceitável de recursos oriundos da sociedade, sempre se encontra um jeitinho, um meio, um modo, um proceder. É bem verdade, o mais fresco esquema, com a participação de empreiteiras e pessoas ligadas diretamente ao governo federal, indiscutivelmente, vai desencadear muito pano pra manga e o desdobrar dos próximos capítulos poderão trazer resultados ainda mais alarmantes. Sem a intenção de incorrer nos descalabros de apologistas em favor de um impeachment, por exemplo, da atual gestão reeleita enfrentará uma oposição ferrenha, com o aprofundar dessa lúgubre episódio. Em meio a tudo isso, como encontrar uma ética que promova a convivência entre os indivíduos, quando o cada um pelos seus interesses ganha foro de relevância? Afinal de contas, uma andorinha só não faz verão. Não é mesmo! Em quanto permanecermos com a ideia convicta de a minha felicidade independe de um compromisso com a esfera pública, até ficaremos encolerizados, porém, passado alguns instantes, continuaremos a permanecer a fazer vistas grossas e tolerar uma cidadania fruto de uma democracia procedimentalista e restrita a enganosa crença de que o simples voto nas urnas se constitui na expressão máxima, imperativa e categórica de um povo ancorado por uma capacidade efetiva de decisão. Observa – se a urgência de revermos a trajetória de uma realidade atrelada as demandas do mercado. Pouco ou nada mais importa, senão a inserção no mundo dos incluídos e qualquer linha oposta acabam por ser execrada e vista como abjeta. Nessa busca tresloucada e impetuosa pelo sucesso, a todo custo, elegemos o relativismo, como o ponto de referência para as pessoas seguirem. Quiçá, por isso, os vergonhosos episódios de escândalos não nos incomodam tanto, até por que as contas de água, de luz e outras não podem esperar; entretanto, como aceitar um discurso enfático e eloquente pelos meus direitos, quando não atentamos para a realidade concreta de que a apropriação do público, como um espaço para interesses mesquinhos e aviltantes, suscita uma cadeia cíclica da lei do mais esperto. Em outras palavras, a lei do mais esperto que fura a fila; do mais esperto que não respeita os assentos destinados aos idosos, as gestantes e as mulheres; do mais esperto ao adquirir receituário medico falsificado; do mais esperto ao aceitar propina; do mais esperto ao usar sua posição para se promover e derrubar o próximo; do mais esperto ao creditar na força para inibir e tolher os discordantes; do mais esperto que crê no ato de pixar a propriedade alheia, como uma forma revolucionária de expressão e liberdade; do mais esperto que vende seu lugar na fila e por ai vai; além de toda uma avalanche do (s) mais esperto (s) que, lá na sua gênese, são os reflexos da um estilo de vida regidos pelos esquemas e muitos adornados a uma democracia pra boi dormir, a qual não sobrepuja as dimensões do formalismo, do normativismo procedimentalista ou, em suma, não passa de belas e sequiosas palavras. Por fim, chegamos, novamente, a escolha a fim de continuarmos na mesma ou aceitar a via alternativa de ainda lutar pelo certo, pelo bom, pelo justo, como substancias vitais em prol da liberdade, da justiça, da dignidade e do respeito ao próximo, a vida, a nós mesmo e ao oikos do qual nos encontramos.
São Paulo - SP
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