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Palavra do leitor

Tudo sobre o Nada

Para um observador minimamente atento e sensível, a vida tem sido um sentimento angustiante. Observando o mundo, podemos atentar para o caos em que as pessoas estão. Palavras pessimistas? Talvez. Porém, a realidade esta aí para quem quiser analisar.

As pessoas afogam suas mágoas em bares e fogem da carência que poderia ser suprida por um ‘’dedinho de prosa’’, no linguajar mineiro. Essa prosa, que não acontece porque temos tempo para tudo, menos para viver. Aquilo que Drummond chamou de ‘’sentimento do mundo’’, quando vemos pelas ruas tanta gente que por falta de interlocutores, conversa com ela mesma em voz alta. Dirão que essa pessoa é louca, mas a verdade é que somos autores e vítimas desse ‘’jeito doidinho de ser’’, falando em voz alta para preencher a solidão. A cada dia que passa, ficamos (para incluir-me no texto), mais distantes de tudo, aquilo que combinamos chamar de ‘’jeito humano’’ de ser. E, desenfreados, atropelamos tanto as nossas carências quanto as alheias.
Pessoas que você conhece há anos se tornam desconhecidas. Algumas esfriaram tanto que seria melhor que morassem em um freezer, lá se sentiriam bem melhores. Outras balançam mais que um carro barulhento. É a sua maneira de fingir que estão vivas, embora, nunca saem do lugar.

Na verdade, somos em algumas vezes, uma rede de ausência e autoengano com raros momentos de lucidez. Se tivéssemos a gentileza de nos conceder a liberdade e o tempo necessário ao exercício do encontro, do dedinho de prosa, do amor e da fraternidade, seríamos menos neuróticos, menos vazios e angustiados, nos despojaríamos de nossas ambigüidades e interesses e assim, trataríamos o outro com se fosse o mais valioso quadro pintado.

Essa avareza emocional nos rouba a liberdade e nos leva a agir como escravos da solidão e da sua escassez, cegos e insensatos à vida. É contra isso que o apóstolo Paulo protestava: ‘’E nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Somos injuriados e bendizemos, somos perseguidos e sofremos. Somos blasfemados e rogamos, até o presente temos chegado a ser como o lixo do mundo e a ser considerados como escória de todos...’’ (ICor. 4:12-13).

Pedindo licença para apropriar-me das palavras do apóstolo Paulo nesse contexto, temos que deixar de nos sentir como a escória do mundo. Temos que ter tempo para tudo, principalmente para viver, pois viver o nada se tornou a grande ilusão da humanidade. Ali, na esquina, há sempre um motivo para se desesperar e desistir da humanidade.

Só não podemos esquecer que a humanidade somos todos nós.
Contagem - MG
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