Palavra do leitor
- 25 de maio de 2010
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Três crônicas
Desespero
"Vida cristã, para ser cristã, deve compreender o reflexo do próximo no espelho da sua existência e na nascente da sua espiritualidade."
Alguém poderia dizer, com irrepreensível propriedade, ter condições de apresentar antídotos, diante dos períodos de desespero? De certo, descrever e definir condições no que toca a enfrentar tal situação se torna explicável. Evidentemente, para quem não experimenta esse estado de vácuo, de insignificância e destruição.
Em tais períodos, sejamos sinceros e sérios, tudo parece que será pulverizado. A fé cristã, a confiança na vida e nas pessoas, o abrigo na comunhão espiritual, à liberdade e o perdão protagonizado por Cristo.
Tudo adentra em convulsões. O chão se transforma em precipícios. O próximo passa a ser uma testemunha de culpa e condenação e buscar um esconderijo passa a ser a melhor alternativa. Embora estejamos na apoteose de um evangelho acima das vicissitudes, das inclemências, das torpezas e perdas da vida, quer queiramos ou não, na realidade concreta, identificamos, exatamente, o oposto.
Por mais que muitos ecos possam dizer não, as turbulências são partes da vida. Então, o que faço ou posso fazer? Ouso ciente das minhas superficialíssimas condições, adotar o primeiro mandamento, a declaração de Deus é Deus, mesmo diante da mais espinhosa das dúvidas e dos malogros.
Quem sabe, não precisamos da incidência do Deus-ser humano ‘’Jesus Cristo’’ a fim de resgatar o sentido, o destino e o motivo de uma espiritualidade revolucionária e uma coragem de ser.
A miséria que mais dói
Atrevi-me a intitular essa contida e superficialíssima intenção de, quem sabe, chegar a algum lugar, ‘’a miséria que mais dói’’. De maneira graciosa, extraí essa frase, do escritor Moçambicano Mia Couto, da obra Vozes anoitecidas. Sem nenhuma delonga, contempla-nos com a seguinte observação, aliás, fruto de uma verdade inquebrável:
‘’confrontados com a ausência de tudo, os homens abstêm-se do sonho, desarmando do desejo de serem outros’’.
Parto dessas afirmações e convido-lhes a andarmos pelos cômodos de uma realidade divorciada de uma percepção e concepção acurada da transcendência. Muito embora tenhamos a nossa disposição uma profusão de discursos voltados ao místico, divino, sobrenatural e ecumênico. No entanto, arrisco pontuar, observo uma ausência, nunca dantes vista na história da humanidade, de uma perspectiva do transcendente que leve o ser humano a uma esperança genuína, a uma fé solidária, fraterna e dialética.
Em poucas palavras, parece que aceitamos as regras do jogo de um sistema de afortunados e infortunados. Neste ínterim, tenho visto um evangelho desarmado no que toca a enfrentar um estado de escassez espiritual, de nos tornar mais gente, mais alma, mais sangue, mais liberdade... Tudo vem inclinado a uma relação de ‘’resolver os meus problemas’’ e só.
Vou além, em meio a uma cultura que faz do ser humano um espetáculo de consumo descartável; quiçá não seja também a nossa postura diante da Graça de Cristo? Por enquanto, paro por aqui e deixo, a cada um de vocês, a importância em ponderar nas palavras de Eclesiastes 04. 01.
Um mundo sem curiosidade
‘’Com Deus existindo, tudo dá esperança; sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. (...) Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim tudo dá certo.’’
As palavras decantadas pelo narrador-protagonista, o velho jagunço Riobaldo, de Grande Sertão, veredas, de Guimarães Rosa, nos levam a compreendermos, com maior elucidação, a biografia do povo brasileiro.
Aliás, indo as páginas constituidoras dessa obra, monumental e antológica, torna-se categórico e contundente uma versão do milagre pautado num processo de proximidade, de intimidade e transparência à existência humana. Faz-se notar, estabelece uma relação de confiança desenvergonhada, diante de Deus. Não por menos, ao escarafuncharmos o personagem Riobaldo, considero a urgência de bebermos da sua porção de, efetiva e retumbantemente, trilharmos por uma espiritualidade sem os pesos de provar e provar.
Digo isso, em decorrência de vivenciarmos uma panorâmica social submetida ao secularismo ‘’pragmático, utilitário e individualista’’ e isto tem desencadeado uma geração aflita e atemorizada.
Afinal de contas, num mundo de reconhecidos e rejeitados, a segunda opção pode ser catastrófica, vexatória e aviltante. Muito embora haja, no limiar do Séc. XXI, uma pluralidade de vertentes de milagres e de uma visão do divino mais parecida com um mundo perdido na sua ânsia desenfreada pelo progresso.
Lá no fundo, necessitamos, prioritariamente, de uma fé, de um milagre, de uma espiritualidade que ande afinada com utopias possíveis e com uma humanidade que não trate pessoas, segundo uma classificação de espécies úteis e descartáveis, de redefinir a proposta de os sonhos nos tornarem mais próximos e libertos em benefício da vida e de uma dimensão do sagrado não desumanizador.
"Vida cristã, para ser cristã, deve compreender o reflexo do próximo no espelho da sua existência e na nascente da sua espiritualidade."
Alguém poderia dizer, com irrepreensível propriedade, ter condições de apresentar antídotos, diante dos períodos de desespero? De certo, descrever e definir condições no que toca a enfrentar tal situação se torna explicável. Evidentemente, para quem não experimenta esse estado de vácuo, de insignificância e destruição.
Em tais períodos, sejamos sinceros e sérios, tudo parece que será pulverizado. A fé cristã, a confiança na vida e nas pessoas, o abrigo na comunhão espiritual, à liberdade e o perdão protagonizado por Cristo.
Tudo adentra em convulsões. O chão se transforma em precipícios. O próximo passa a ser uma testemunha de culpa e condenação e buscar um esconderijo passa a ser a melhor alternativa. Embora estejamos na apoteose de um evangelho acima das vicissitudes, das inclemências, das torpezas e perdas da vida, quer queiramos ou não, na realidade concreta, identificamos, exatamente, o oposto.
Por mais que muitos ecos possam dizer não, as turbulências são partes da vida. Então, o que faço ou posso fazer? Ouso ciente das minhas superficialíssimas condições, adotar o primeiro mandamento, a declaração de Deus é Deus, mesmo diante da mais espinhosa das dúvidas e dos malogros.
Quem sabe, não precisamos da incidência do Deus-ser humano ‘’Jesus Cristo’’ a fim de resgatar o sentido, o destino e o motivo de uma espiritualidade revolucionária e uma coragem de ser.
A miséria que mais dói
Atrevi-me a intitular essa contida e superficialíssima intenção de, quem sabe, chegar a algum lugar, ‘’a miséria que mais dói’’. De maneira graciosa, extraí essa frase, do escritor Moçambicano Mia Couto, da obra Vozes anoitecidas. Sem nenhuma delonga, contempla-nos com a seguinte observação, aliás, fruto de uma verdade inquebrável:
‘’confrontados com a ausência de tudo, os homens abstêm-se do sonho, desarmando do desejo de serem outros’’.
Parto dessas afirmações e convido-lhes a andarmos pelos cômodos de uma realidade divorciada de uma percepção e concepção acurada da transcendência. Muito embora tenhamos a nossa disposição uma profusão de discursos voltados ao místico, divino, sobrenatural e ecumênico. No entanto, arrisco pontuar, observo uma ausência, nunca dantes vista na história da humanidade, de uma perspectiva do transcendente que leve o ser humano a uma esperança genuína, a uma fé solidária, fraterna e dialética.
Em poucas palavras, parece que aceitamos as regras do jogo de um sistema de afortunados e infortunados. Neste ínterim, tenho visto um evangelho desarmado no que toca a enfrentar um estado de escassez espiritual, de nos tornar mais gente, mais alma, mais sangue, mais liberdade... Tudo vem inclinado a uma relação de ‘’resolver os meus problemas’’ e só.
Vou além, em meio a uma cultura que faz do ser humano um espetáculo de consumo descartável; quiçá não seja também a nossa postura diante da Graça de Cristo? Por enquanto, paro por aqui e deixo, a cada um de vocês, a importância em ponderar nas palavras de Eclesiastes 04. 01.
Um mundo sem curiosidade
‘’Com Deus existindo, tudo dá esperança; sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. (...) Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim tudo dá certo.’’
As palavras decantadas pelo narrador-protagonista, o velho jagunço Riobaldo, de Grande Sertão, veredas, de Guimarães Rosa, nos levam a compreendermos, com maior elucidação, a biografia do povo brasileiro.
Aliás, indo as páginas constituidoras dessa obra, monumental e antológica, torna-se categórico e contundente uma versão do milagre pautado num processo de proximidade, de intimidade e transparência à existência humana. Faz-se notar, estabelece uma relação de confiança desenvergonhada, diante de Deus. Não por menos, ao escarafuncharmos o personagem Riobaldo, considero a urgência de bebermos da sua porção de, efetiva e retumbantemente, trilharmos por uma espiritualidade sem os pesos de provar e provar.
Digo isso, em decorrência de vivenciarmos uma panorâmica social submetida ao secularismo ‘’pragmático, utilitário e individualista’’ e isto tem desencadeado uma geração aflita e atemorizada.
Afinal de contas, num mundo de reconhecidos e rejeitados, a segunda opção pode ser catastrófica, vexatória e aviltante. Muito embora haja, no limiar do Séc. XXI, uma pluralidade de vertentes de milagres e de uma visão do divino mais parecida com um mundo perdido na sua ânsia desenfreada pelo progresso.
Lá no fundo, necessitamos, prioritariamente, de uma fé, de um milagre, de uma espiritualidade que ande afinada com utopias possíveis e com uma humanidade que não trate pessoas, segundo uma classificação de espécies úteis e descartáveis, de redefinir a proposta de os sonhos nos tornarem mais próximos e libertos em benefício da vida e de uma dimensão do sagrado não desumanizador.
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