Palavra do leitor
- 05 de novembro de 2010
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Tomé e os onze abestalhados
Apavorados, os discípulos se fecharam num canto amedrontados. Jesus subitamente apareceu no meio deles, e os saúda. Como se não bastasse ter entrado sem abrir portas e janelas para susto e espanto de todos, mostra-lhes os sinais.
Primeiro choque (o meu): os discípulos se alegraram por que viram o sinal de perfuração dos cravos, ou por que Jesus aparecera entre eles?
Tomé não estava entre eles naquela ocasião, de modo que não se sabe se teria espantado com o aparecimento, digamos assim, de natureza como que "quântica" de Jesus, ou se teria preferido ver se as marcas dos cravos batiam com aqueles usados na crucificação.
Penso que Tomé deve ter sido uma dessas pessoas que, ou era um chato de carteirinha, ou tinha lá seu peso intelectual específico por ter lido David Hume e Immanuel Kant um milênio e meio antes. Os discípulos foram logo contar-lhe dizendo que Jesus havia aparecido a eles.
Ouviu, bateu o pé, e não deixou por menos: “dedo e olhos, amigos, caso contrário, nesse barco furado não entro!”
Não deu outra. Tempos depois, com as portas aferrolhadas Jesus aparece novamente bem no meio deles e... óóóóóhhh! Tomé estava lá. De microscópio em punho, que naquela época era o olhar e os dedos, lá foi nosso Tomé tirar a prova dos nove.
Quanta petulância, não? Devem ter pensado alguns, se não todos. Então Jesus aguarda mais uns oito dias aqui na terra antes da ascensão só para satisfazer esse infeliz a tirar a prova dos nove?!
Quem foi Tomé? Não faço a menor idéia, mas certamente é um dos meus discípulos preferidos.
Pouco falado, muito mal compreendido, é o homem tido como ‘O Chato’ ao longo da história do cristianismo. Pedante, irritante, deveria ter sido um mauricinho, um almofadinha. Desses que prefere um livro de filosofia ou um texto de economia pé no chão de um Mailson da Nóbrega do que um papo furado televisivo de ‘Mala-feia’ ou Edir ‘Mais-cedo’; pior, ou daquelas figuras teológicas modorrentas de igrejas tradicionais que também buscam a fé via boleto, preferencialmente no Bradesco. Tomé deve ter sido um pão duro como Fernando Henrique Cardoso.
É o tipo do sujeito que não crê à primeira vista e ainda dá de ombros ao primeiro gritinho dos irmãos que dizem nos cultos de hoje, “o ceguinho viu!!!”, “o aleijadinho andou!!”.
É do tipo que se a igreja arrecadar 100 e tentar gastar o dobro, Tomé é bem capaz de pedir uma auditoria. Afinal, esse negócio de multiplicar pães e peixes é diferente de imprimir dinheiro sem lastro e pedir a Deus para fazer um ‘milagrezinho’, multiplicando os 100 por 1000. “Sapeca aí uma benção, Senhor!”.
Tomé é o meu herói. É o homem que vigia e não se deixa vencer pelo engodo, pelo canto fácil da pregação e babaquices espirituais. Não está nem aí se Jesus é o filho de Deus, se ressuscitou, se fez isso ou aquilo. “É o filho de Deus?”, dirá! Se é, não acrescentará nada às minhas elucubrações teológicas. Já é. “Primeiro quero ver”! É o homem de todos os sentidos.
Fico pensando o que Tomé diria se vivo estivesse entre nós, do ‘movimento’ (palavra fantástica, igual a ‘nuvem passageira’!) evangélico hoje. Que é exatamente o que é esse ‘movimento’, ativismo e passageiro.
Mas eu gosto de Tomé porque ao final, Jesus, o filho de Deus, aquele que atravessa paredes, anda sobre as águas, faz e desfaz, se submete ao critério de fé e verdade de um ‘tipinho’ como Tomé e enfia-lhe o dedo na cara para que Tomé enfia-lhe o dedo no lado lancetado.
Gosto, sobretudo, por que Jesus reconhece que Tomé estava certíssimo. Afinal, quem atravessa paredes poderia mandar um recado mental e encerrar a chateza de O Chato. Mas não, ele concorda em gênero, número e grau com Tomé e é taxativo: olhando para a turma de abestalhados diz, melhor mesmo são aqueles que não viram e creram.
E você leitor, acha que Jesus estava falando era para Tomé? Errou feio!
Lembram-se de quando Jesus apareceu no meio deles pela primeira vez e Tomé não estava presente? O que fizeram? Correram todos para Tomé.
Afinal, se o critério era não ver para crer, por que cargas d’água queriam que Tomé visse para crer? Os ‘descrentes’ eram todos eles, menos Tomé.
Primeiro choque (o meu): os discípulos se alegraram por que viram o sinal de perfuração dos cravos, ou por que Jesus aparecera entre eles?
Tomé não estava entre eles naquela ocasião, de modo que não se sabe se teria espantado com o aparecimento, digamos assim, de natureza como que "quântica" de Jesus, ou se teria preferido ver se as marcas dos cravos batiam com aqueles usados na crucificação.
Penso que Tomé deve ter sido uma dessas pessoas que, ou era um chato de carteirinha, ou tinha lá seu peso intelectual específico por ter lido David Hume e Immanuel Kant um milênio e meio antes. Os discípulos foram logo contar-lhe dizendo que Jesus havia aparecido a eles.
Ouviu, bateu o pé, e não deixou por menos: “dedo e olhos, amigos, caso contrário, nesse barco furado não entro!”
Não deu outra. Tempos depois, com as portas aferrolhadas Jesus aparece novamente bem no meio deles e... óóóóóhhh! Tomé estava lá. De microscópio em punho, que naquela época era o olhar e os dedos, lá foi nosso Tomé tirar a prova dos nove.
Quanta petulância, não? Devem ter pensado alguns, se não todos. Então Jesus aguarda mais uns oito dias aqui na terra antes da ascensão só para satisfazer esse infeliz a tirar a prova dos nove?!
Quem foi Tomé? Não faço a menor idéia, mas certamente é um dos meus discípulos preferidos.
Pouco falado, muito mal compreendido, é o homem tido como ‘O Chato’ ao longo da história do cristianismo. Pedante, irritante, deveria ter sido um mauricinho, um almofadinha. Desses que prefere um livro de filosofia ou um texto de economia pé no chão de um Mailson da Nóbrega do que um papo furado televisivo de ‘Mala-feia’ ou Edir ‘Mais-cedo’; pior, ou daquelas figuras teológicas modorrentas de igrejas tradicionais que também buscam a fé via boleto, preferencialmente no Bradesco. Tomé deve ter sido um pão duro como Fernando Henrique Cardoso.
É o tipo do sujeito que não crê à primeira vista e ainda dá de ombros ao primeiro gritinho dos irmãos que dizem nos cultos de hoje, “o ceguinho viu!!!”, “o aleijadinho andou!!”.
É do tipo que se a igreja arrecadar 100 e tentar gastar o dobro, Tomé é bem capaz de pedir uma auditoria. Afinal, esse negócio de multiplicar pães e peixes é diferente de imprimir dinheiro sem lastro e pedir a Deus para fazer um ‘milagrezinho’, multiplicando os 100 por 1000. “Sapeca aí uma benção, Senhor!”.
Tomé é o meu herói. É o homem que vigia e não se deixa vencer pelo engodo, pelo canto fácil da pregação e babaquices espirituais. Não está nem aí se Jesus é o filho de Deus, se ressuscitou, se fez isso ou aquilo. “É o filho de Deus?”, dirá! Se é, não acrescentará nada às minhas elucubrações teológicas. Já é. “Primeiro quero ver”! É o homem de todos os sentidos.
Fico pensando o que Tomé diria se vivo estivesse entre nós, do ‘movimento’ (palavra fantástica, igual a ‘nuvem passageira’!) evangélico hoje. Que é exatamente o que é esse ‘movimento’, ativismo e passageiro.
Mas eu gosto de Tomé porque ao final, Jesus, o filho de Deus, aquele que atravessa paredes, anda sobre as águas, faz e desfaz, se submete ao critério de fé e verdade de um ‘tipinho’ como Tomé e enfia-lhe o dedo na cara para que Tomé enfia-lhe o dedo no lado lancetado.
Gosto, sobretudo, por que Jesus reconhece que Tomé estava certíssimo. Afinal, quem atravessa paredes poderia mandar um recado mental e encerrar a chateza de O Chato. Mas não, ele concorda em gênero, número e grau com Tomé e é taxativo: olhando para a turma de abestalhados diz, melhor mesmo são aqueles que não viram e creram.
E você leitor, acha que Jesus estava falando era para Tomé? Errou feio!
Lembram-se de quando Jesus apareceu no meio deles pela primeira vez e Tomé não estava presente? O que fizeram? Correram todos para Tomé.
Afinal, se o critério era não ver para crer, por que cargas d’água queriam que Tomé visse para crer? Os ‘descrentes’ eram todos eles, menos Tomé.
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