Palavra do leitor
- 29 de novembro de 2010
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Tive fome, e ainda tenho
Padecemos, pois muitos males afligem-nos; nós, a Igreja, por mania gastamos energia e tempo à procura de formas de gastarmos mais energia e tempo. Fazemos muito por muitas pessoas, mas nossas ações se diluem ao invés de nos concentrarmos e atacarmos um problema por vez.
Gasto tempo burilando a mente em busca de ideias que provoquem a fé e a disposição da Igreja; sonhamos fazer as "coisas grandes" e "as ainda maiores" ao mesmo tempo. Fui chamado pra cuidar de mendigos e obedeci; mesmo que pra isso tenha desobedecido a disposição superior de cuidar de uma igreja.
Entretanto, sofro do mesmo mal que assola-nos como igreja, "síndrome de onipresença"; outro dia li algo em Ultimato e em seguida, um flagrante xilique de onipresença me afligiu entre ser voluntário no Haiti ou evangelista em Cuba; (por telefone a Elê me mandou sossegar o facho, “Uma aflição missionário-geográfica absurda! O sertão baiano ta de bom tamanho.”)
Exerço da melhor forma que aprendi o meu ofício: cuidar de mendigos no programa de recuperação da Missão vida. Haiti e Cuba sobreviverão sem mim.
Neste exato momento me encontro ao lado de uma maca de hospital público exercendo o meu ofício, oro e falo do amor de Deus enquanto troco fraldas e lençóis e checo o soro de um moço que a Missão Vida “teima em acolher e cuidar”, quando até a assistência social e os médicos já sumiram.
Foi nesse conflito de pensar em coisas grandes ao mesmo tempo em que faço o urgente e necessário é que comecei a matutar sobre nós, a Igreja, fundada pelo sangue e sustentada pelo Espírito de Cristo Jesus. Sem dúvidas a fé sem obras é defunta tanto quanto o contrário disso não é Cristianismo; tudo quanto fizermos para promover o bem é louvável, mas toda ação social sem ação evangelística é só serviço.
Assistência social paliativa é prerrogativa do governo, que faz isso com uma incompetência apavorante (é apavorante ver um paciente cair da maca, bater com a cabeça e ficar ferido e nu naquele chão sujo até que eu me levante pra fazer algo, enquanto gente que deveria fazer algo assiste TV na sala ao lado).
Penso em nós, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, com nosso discurso acerca das ações em favor daqueles que não são ainda, herdeiros conosco; meu pensar é o pensar de um missionário membro do povo de Deus chamado metodista, povo que nasceu proclamando o “caráter social do Evangelho”; penso nas oportunidades que perdemos diariamente ali na porta.
Distribuímos cestas básicas na minha igreja, cuidamos de gente lá e quero dizer que me alegro com isso, mas preciso pensar se fazemos isso como serviço social, somente, ou se é por respondermos amorosamente aos ensinos de Jesus.
Paulo Rogério é crente em Jesus faz só um mês, (levantou a mão na pregação sobre Bartimeu) foi acolhido por nós e me disse que nunca ninguém fez por ele o que fazemos “e gostaria de ser da nossa família”. (claro que não chorei na frente dele). Está dormindo agora; alimentado, agasalhado, a fralda e o lençol estão secos, e se sente seguro, (todas as vezes que abriu os olhos encontrou um de nós ao seu lado).
O moço que caiu é morador de rua, está numa maca quebrada, o lençol e a fralda estão sujos, faz frio aqui e certamente está com fome; chegou depois do mingau das dez.
De tanto matutar angustio-me, pois olhar ao redor me leva a pensar n’Aquele Dia quando nós, a Igreja, ouviremos: “Tive fome,sede, frio, estive enfermo e preso e, vocês fizeram mais que reuniões e discursos.” Ouviremos?
A Igreja nunca conseguirá cuidar de toda a gente abandonada por aí; não tiraremos todos os moradores de rua das ruas, só tiraremos aqueles que quiserem vir conosco, e só cuidaremos daqueles que aceitarem os nossos cuidados.
Muitos ouviram falar sobre a “nova vocação da igreja”, vocação social! Só que, as boas obras de antemão preparadas para que nelas andemos, eu me recuso identificá-las como uma nova vocação. O Evangelho social foi “inaugurado” antes mesmo do calvário. Nas bodas de Caná, na multiplicação dos pães, na ressurreição do filho da viúva, Jesus fez mais “que sinais, milagres e prodígios”, Jesus assistiu aquelas pessoas.
A nossa seminal vocação é social, somos a agência de transformação partindo das boas novas. Sal da Terra e Luz do Mundo! Creio nisso, da mesma forma que entendo que as boas obras e os atos honrosos são inerentes ao corpo de Cristo, privilégio dos santos.
Não salvaremos todo mundo da miséria, dos vícios e da condenação, mas como instrumentos, abrimos mão de muitas coisas pra trabalharmos todos os dias em favor dos que aceitarem a nossa ajuda; como crente e missionário, isso afirmo.
O funcionário que indaguei sobre uma maca com grades, lençóis e fraldas secas e alguém pra dar uma olhada na cabeça do moço que caiu, disse que “isso não é assunto meu.”
De manhã durante o trajeto de volta à base da Missão Vida eu pensei assim: “Aquele sujeito ta errado, “gente desse tipo” é e sempre será assunto meu, e da Igreja, sim senhor.” E você, pensa o quê?
Missão Vida. Porque eu amo gente!
Gasto tempo burilando a mente em busca de ideias que provoquem a fé e a disposição da Igreja; sonhamos fazer as "coisas grandes" e "as ainda maiores" ao mesmo tempo. Fui chamado pra cuidar de mendigos e obedeci; mesmo que pra isso tenha desobedecido a disposição superior de cuidar de uma igreja.
Entretanto, sofro do mesmo mal que assola-nos como igreja, "síndrome de onipresença"; outro dia li algo em Ultimato e em seguida, um flagrante xilique de onipresença me afligiu entre ser voluntário no Haiti ou evangelista em Cuba; (por telefone a Elê me mandou sossegar o facho, “Uma aflição missionário-geográfica absurda! O sertão baiano ta de bom tamanho.”)
Exerço da melhor forma que aprendi o meu ofício: cuidar de mendigos no programa de recuperação da Missão vida. Haiti e Cuba sobreviverão sem mim.
Neste exato momento me encontro ao lado de uma maca de hospital público exercendo o meu ofício, oro e falo do amor de Deus enquanto troco fraldas e lençóis e checo o soro de um moço que a Missão Vida “teima em acolher e cuidar”, quando até a assistência social e os médicos já sumiram.
Foi nesse conflito de pensar em coisas grandes ao mesmo tempo em que faço o urgente e necessário é que comecei a matutar sobre nós, a Igreja, fundada pelo sangue e sustentada pelo Espírito de Cristo Jesus. Sem dúvidas a fé sem obras é defunta tanto quanto o contrário disso não é Cristianismo; tudo quanto fizermos para promover o bem é louvável, mas toda ação social sem ação evangelística é só serviço.
Assistência social paliativa é prerrogativa do governo, que faz isso com uma incompetência apavorante (é apavorante ver um paciente cair da maca, bater com a cabeça e ficar ferido e nu naquele chão sujo até que eu me levante pra fazer algo, enquanto gente que deveria fazer algo assiste TV na sala ao lado).
Penso em nós, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, com nosso discurso acerca das ações em favor daqueles que não são ainda, herdeiros conosco; meu pensar é o pensar de um missionário membro do povo de Deus chamado metodista, povo que nasceu proclamando o “caráter social do Evangelho”; penso nas oportunidades que perdemos diariamente ali na porta.
Distribuímos cestas básicas na minha igreja, cuidamos de gente lá e quero dizer que me alegro com isso, mas preciso pensar se fazemos isso como serviço social, somente, ou se é por respondermos amorosamente aos ensinos de Jesus.
Paulo Rogério é crente em Jesus faz só um mês, (levantou a mão na pregação sobre Bartimeu) foi acolhido por nós e me disse que nunca ninguém fez por ele o que fazemos “e gostaria de ser da nossa família”. (claro que não chorei na frente dele). Está dormindo agora; alimentado, agasalhado, a fralda e o lençol estão secos, e se sente seguro, (todas as vezes que abriu os olhos encontrou um de nós ao seu lado).
O moço que caiu é morador de rua, está numa maca quebrada, o lençol e a fralda estão sujos, faz frio aqui e certamente está com fome; chegou depois do mingau das dez.
De tanto matutar angustio-me, pois olhar ao redor me leva a pensar n’Aquele Dia quando nós, a Igreja, ouviremos: “Tive fome,sede, frio, estive enfermo e preso e, vocês fizeram mais que reuniões e discursos.” Ouviremos?
A Igreja nunca conseguirá cuidar de toda a gente abandonada por aí; não tiraremos todos os moradores de rua das ruas, só tiraremos aqueles que quiserem vir conosco, e só cuidaremos daqueles que aceitarem os nossos cuidados.
Muitos ouviram falar sobre a “nova vocação da igreja”, vocação social! Só que, as boas obras de antemão preparadas para que nelas andemos, eu me recuso identificá-las como uma nova vocação. O Evangelho social foi “inaugurado” antes mesmo do calvário. Nas bodas de Caná, na multiplicação dos pães, na ressurreição do filho da viúva, Jesus fez mais “que sinais, milagres e prodígios”, Jesus assistiu aquelas pessoas.
A nossa seminal vocação é social, somos a agência de transformação partindo das boas novas. Sal da Terra e Luz do Mundo! Creio nisso, da mesma forma que entendo que as boas obras e os atos honrosos são inerentes ao corpo de Cristo, privilégio dos santos.
Não salvaremos todo mundo da miséria, dos vícios e da condenação, mas como instrumentos, abrimos mão de muitas coisas pra trabalharmos todos os dias em favor dos que aceitarem a nossa ajuda; como crente e missionário, isso afirmo.
O funcionário que indaguei sobre uma maca com grades, lençóis e fraldas secas e alguém pra dar uma olhada na cabeça do moço que caiu, disse que “isso não é assunto meu.”
De manhã durante o trajeto de volta à base da Missão Vida eu pensei assim: “Aquele sujeito ta errado, “gente desse tipo” é e sempre será assunto meu, e da Igreja, sim senhor.” E você, pensa o quê?
Missão Vida. Porque eu amo gente!
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