Palavra do leitor
- 23 de junho de 2019
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Theotokos
Na Teologia cristã católica ou romana, uma palavra tem sido motivo de muitas controvérsias e elaborações filosóficas ao longo dos séculos. Refiro-me à palavra grega "Theotokos" ou em latim "Mater Dei", que literalmente significa "parteira ou portadora de Deus", e que fora aplicado desde cedo à Maria, mãe de Jesus. Os primeiros pensadores que usaram o termo certamente não imaginavam as implicações que a ideia de um ser humano poder "portar" a Deus teria para a teologia e para a cristandade. Deus se tornaria menos por ter sido concebido no ventre de um ser humano ou um ser humano se tornaria algo como um semideus por ter sido receptor biológico do Deus encarnado?
Iniciadas as discussões já nos três primeiros séculos, a doutrina que sustenta o título de "mãe de Deus" à virgem de Nazaré, foi decretada no Concílio Ecumênico de Éfeso, em 431 A.D., depois de discordâncias entre grupos divergentes liderados por Nestório e Cirilo de Alexandria. Ela foi progressivamente sendo elastizada, o que culminou com as várias crenças e os muitos títulos criados, fazendo dela, Maria, um dos pilares do cristianismo, aprofundando uma forte piedade em torno de si e ainda, transformando-a quase numa "quarta pessoa" da Trindade. Até mesmo um campo dentro da teologia foi criado, a mariologia, que estuda a figura, o mistério, a missão e o significado de Maria na história da salvação. Tão forte é a veneração da Igreja Católica pela figura mariana que ao longo dos séculos, ela passou a ser a padroeira de povoados, cidades e até de nações trazendo-nos assim a lembrança do profeta quando disse: "o meu povo se perde por falta de conhecimento" (Os 4.6).
Infelizmente, os formuladores desta crença que se tornou uma verdadeira "mariolatria", ou uma nova religião, "o marianismo", não atentaram para as palavras de Jesus quando, derrotando a Satanás no deserto, disse: "Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás"( Lc 4.8). Catedrais foram sendo levantadas em homenagem a Maria, peregrinações foram criadas em sua honra e os dogmas foram se acumulando ao longo da história, como se vê a seguir: a) Imaculada Conceição - Concebida sem a mancha do pecado original. (1854); b) Virgindade Perpétua - Virgem antes, durante e depois do parto. (1555 - Concílio de Trento); c) Assunção aos Céus - Refere-se à elevação de Maria em corpo e alma ao Céu. Este dogma foi proclamado pelo Papa Pio XII em 1950; d) Corredentora e medianeira: refere-se a participação indireta de Maria no processo de salvação. Muitos Papas homenagearam -na como: a Rainha do Céu e da Terra, (Pio IX), Rainha do Universo (Leão XIII) e Rainha do Mundo (Pio XII).
Como é sabido, nós cristãos, filhos da Reforma Protestante que impactou o mundo eclesiástico e trouxe luz e racionalidade a um milênio de trevas com uma nova perspectiva sobre a relação do homem com Deus, não subscrevemos estas crenças e dogmas que fazem de Maria aquilo que ela não é e não desejou ser jamais como serva humilde do seu Senhor e Salvador Jesus, este sim, o Verdadeiro e Suficiente Mediador, Redentor, Imaculado, Perfeito. Baseado numa Teologia simples e cristocêntrica que enfatiza a glória somente a Deus, a suficiência das Escrituras e de Cristo como Único caminho ao Pai, o povo agora sabe que tem acesso direto Àquele que tem "todo poder nos céus e na terra" (Mt 28.18), não havendo mais necessidade de sacerdotes, templos, relíquias e santos para intermediarem a relação do homem com seu Criador. O véu fora partido.
Porém gostaria aqui de trazer uma outra conotação ao termo "Theotokos", qual seja, o sentido de que todo crente e todo seguidor de Jesus deve, naturalmente, ser um "portador de Deus", ser aquele que traz e leva a vida abundante, vida que só pode ser vivida em Deus e para Deus. Como templos do Espírito Santo, como afirma Paulo aos coríntios (6.19), somos um instrumento nas mãos do Altíssimo a levar a graça redentora que dá sentido à existência humana. Ser portador de Deus é glorificá-lo nos nossos corpos (1Co 6.20), é levar a bandeira da paz que excede a todo entendimento (Fl 4.7), é construir uma ponte entre o Eterno e o efêmero, é mostrar ao perdido, ao homicida e ao suicida a beleza e o milagre da vida, é mostrar aos alienados, aos apátridas espirituais, que só há verdadeira liberdade e verdadeiro propósito Naquele que é o "Summum Bonum".
Neste último sentido, creio que Maria foi sim uma "Theotokos", pois reconhecendo sua total pequenez e dependência do Pai, se colocou à sua disposição para ser canal através do qual Cristo pudesse ser encarnado e cumprir sua missão: ser o mensageiro das Boas Novas e ao mesmo tempo ser a própria mensagem. Como ela, somos receptores de tão grande salvação.
Você está convidado a ser portador e representante de uma nova história, a ser um fio condutor que leva a luz do Filho de Deus, a ser peregrino em uma jornada que leva-nos direto ao Pai, a nadar num rio que deságua no mar de um Deus amoroso e justo. Enfim, convidado a ser um "Cristotokos".
Pb. Tony
Instituto Haggai
Iniciadas as discussões já nos três primeiros séculos, a doutrina que sustenta o título de "mãe de Deus" à virgem de Nazaré, foi decretada no Concílio Ecumênico de Éfeso, em 431 A.D., depois de discordâncias entre grupos divergentes liderados por Nestório e Cirilo de Alexandria. Ela foi progressivamente sendo elastizada, o que culminou com as várias crenças e os muitos títulos criados, fazendo dela, Maria, um dos pilares do cristianismo, aprofundando uma forte piedade em torno de si e ainda, transformando-a quase numa "quarta pessoa" da Trindade. Até mesmo um campo dentro da teologia foi criado, a mariologia, que estuda a figura, o mistério, a missão e o significado de Maria na história da salvação. Tão forte é a veneração da Igreja Católica pela figura mariana que ao longo dos séculos, ela passou a ser a padroeira de povoados, cidades e até de nações trazendo-nos assim a lembrança do profeta quando disse: "o meu povo se perde por falta de conhecimento" (Os 4.6).
Infelizmente, os formuladores desta crença que se tornou uma verdadeira "mariolatria", ou uma nova religião, "o marianismo", não atentaram para as palavras de Jesus quando, derrotando a Satanás no deserto, disse: "Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás"( Lc 4.8). Catedrais foram sendo levantadas em homenagem a Maria, peregrinações foram criadas em sua honra e os dogmas foram se acumulando ao longo da história, como se vê a seguir: a) Imaculada Conceição - Concebida sem a mancha do pecado original. (1854); b) Virgindade Perpétua - Virgem antes, durante e depois do parto. (1555 - Concílio de Trento); c) Assunção aos Céus - Refere-se à elevação de Maria em corpo e alma ao Céu. Este dogma foi proclamado pelo Papa Pio XII em 1950; d) Corredentora e medianeira: refere-se a participação indireta de Maria no processo de salvação. Muitos Papas homenagearam -na como: a Rainha do Céu e da Terra, (Pio IX), Rainha do Universo (Leão XIII) e Rainha do Mundo (Pio XII).
Como é sabido, nós cristãos, filhos da Reforma Protestante que impactou o mundo eclesiástico e trouxe luz e racionalidade a um milênio de trevas com uma nova perspectiva sobre a relação do homem com Deus, não subscrevemos estas crenças e dogmas que fazem de Maria aquilo que ela não é e não desejou ser jamais como serva humilde do seu Senhor e Salvador Jesus, este sim, o Verdadeiro e Suficiente Mediador, Redentor, Imaculado, Perfeito. Baseado numa Teologia simples e cristocêntrica que enfatiza a glória somente a Deus, a suficiência das Escrituras e de Cristo como Único caminho ao Pai, o povo agora sabe que tem acesso direto Àquele que tem "todo poder nos céus e na terra" (Mt 28.18), não havendo mais necessidade de sacerdotes, templos, relíquias e santos para intermediarem a relação do homem com seu Criador. O véu fora partido.
Porém gostaria aqui de trazer uma outra conotação ao termo "Theotokos", qual seja, o sentido de que todo crente e todo seguidor de Jesus deve, naturalmente, ser um "portador de Deus", ser aquele que traz e leva a vida abundante, vida que só pode ser vivida em Deus e para Deus. Como templos do Espírito Santo, como afirma Paulo aos coríntios (6.19), somos um instrumento nas mãos do Altíssimo a levar a graça redentora que dá sentido à existência humana. Ser portador de Deus é glorificá-lo nos nossos corpos (1Co 6.20), é levar a bandeira da paz que excede a todo entendimento (Fl 4.7), é construir uma ponte entre o Eterno e o efêmero, é mostrar ao perdido, ao homicida e ao suicida a beleza e o milagre da vida, é mostrar aos alienados, aos apátridas espirituais, que só há verdadeira liberdade e verdadeiro propósito Naquele que é o "Summum Bonum".
Neste último sentido, creio que Maria foi sim uma "Theotokos", pois reconhecendo sua total pequenez e dependência do Pai, se colocou à sua disposição para ser canal através do qual Cristo pudesse ser encarnado e cumprir sua missão: ser o mensageiro das Boas Novas e ao mesmo tempo ser a própria mensagem. Como ela, somos receptores de tão grande salvação.
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