Palavra do leitor
- 07 de julho de 2010
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"Teolorgia" da propriedade
Estava lendo um texto de Max Weber e, em uma das partes, fiquei chocado com a atualidade da descrição que ele faz da noção do merecimento de bênçãos no universo religioso por parte dos fiéis.
Os afortunados raramente se contentam com o fato de serem afortunados. Além disso, necessitam saber que têm o direito à sua boa sorte. Desejam ser convencidos de que a "merecem" e, acima de tudo, que a merecem em comparação com os outros. Desejam acreditar que os menos afortunados também estão recebendo o que merecem. A boa fortuna deseja, assim, "legitimar-se".
WEBER, Max. A psicologia social das religiões mundiais. In: ____. Ensaios de sociologia. 3.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1974. p.314.
Pensando bem na terminologia empregada para designar a pregação de bens materiais e o materialismo-consumista que invade, descaradamente, os púlpitos na atualidade, acredito que não seria sacrilégio mudar a corrente designação. Por que teologia da prosperidade? Por que não teolorgia da propriedade?
Vamos por partes, como o Jack - já que a moral anda tão degradada. Teolorgia: por quê? O Houaiss define orgia como "festa que se caracteriza pela euforia, pelos excessos de bebida, de desregramentos etc.; abundância, profusão". E não é isso que acontece na consciência daqueles que propagam a dita cuja? Se teologia ainda é o "estudo de Deus e suas relações com o homem", não consigo entender como se pode conceber a ideia de que, por ser filho do Rei e demais jargões de boca, tenho o direito de exigir prosperidade. Bíblica e historicamente, percebo que o homem e a mulher se enriquecem através do seu trabalho. E o trabalho, que é consequência do pecado, é o instrumento usado por Deus para nos dignificar.
Quem quer dinheiro? A maioria da população brasileira aprendeu, com o Sílvio Santos, a responder a essa questão inserindo-se na lista de interessados. A riqueza, o dinheiro é nosso desejo. Ainda que a teolorgia da propriedade não tenha suas raízes nas terras tupiniquins, o território brasileiro constitui, para ela, espaço ideal para propagação. Você ainda se lembra que nossa sociedade se caracteriza por uma minoria rica e uma esmagadora maioria pobre?
Não parece estranho tentar elaborar uma justificativa para legitimar esse desejo? Não soa absurdo cometer crimes à exegese para forjar um respaldo bíblico à nossa ganância? Talvez, por estarmos tão acostumados em tentar justificar nossos próprios erros, nem nos damos conta do perigo que é levar adiante as mentiras sobre nós mesmos, contando mais uma meia-verdade. Adão e Eva tentam esse método desde quando comeram o fruto proibido no Éden.
Os afortunados raramente se contentam com o fato de serem afortunados. Além disso, necessitam saber que têm o direito à sua boa sorte. Desejam ser convencidos de que a "merecem" e, acima de tudo, que a merecem em comparação com os outros. Desejam acreditar que os menos afortunados também estão recebendo o que merecem. A boa fortuna deseja, assim, "legitimar-se".
WEBER, Max. A psicologia social das religiões mundiais. In: ____. Ensaios de sociologia. 3.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1974. p.314.
Pensando bem na terminologia empregada para designar a pregação de bens materiais e o materialismo-consumista que invade, descaradamente, os púlpitos na atualidade, acredito que não seria sacrilégio mudar a corrente designação. Por que teologia da prosperidade? Por que não teolorgia da propriedade?
Vamos por partes, como o Jack - já que a moral anda tão degradada. Teolorgia: por quê? O Houaiss define orgia como "festa que se caracteriza pela euforia, pelos excessos de bebida, de desregramentos etc.; abundância, profusão". E não é isso que acontece na consciência daqueles que propagam a dita cuja? Se teologia ainda é o "estudo de Deus e suas relações com o homem", não consigo entender como se pode conceber a ideia de que, por ser filho do Rei e demais jargões de boca, tenho o direito de exigir prosperidade. Bíblica e historicamente, percebo que o homem e a mulher se enriquecem através do seu trabalho. E o trabalho, que é consequência do pecado, é o instrumento usado por Deus para nos dignificar.
Quem quer dinheiro? A maioria da população brasileira aprendeu, com o Sílvio Santos, a responder a essa questão inserindo-se na lista de interessados. A riqueza, o dinheiro é nosso desejo. Ainda que a teolorgia da propriedade não tenha suas raízes nas terras tupiniquins, o território brasileiro constitui, para ela, espaço ideal para propagação. Você ainda se lembra que nossa sociedade se caracteriza por uma minoria rica e uma esmagadora maioria pobre?
Não parece estranho tentar elaborar uma justificativa para legitimar esse desejo? Não soa absurdo cometer crimes à exegese para forjar um respaldo bíblico à nossa ganância? Talvez, por estarmos tão acostumados em tentar justificar nossos próprios erros, nem nos damos conta do perigo que é levar adiante as mentiras sobre nós mesmos, contando mais uma meia-verdade. Adão e Eva tentam esse método desde quando comeram o fruto proibido no Éden.
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