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Palavra do leitor

Artigo publicado em resposta a Os evangélicos em 2011

Sobre evangélicos da Reforma ao Pentecostalismo moderno

O PENTECOSTALISMO NÃO É TRINITÁRIO

O Frei Martinho Lutero começou a Reforma da Igreja dentro da igreja na qual fora ordenado, e foi ministro da mesma até os últimos dias de sua vida (séc.16). Como tantos outros reformadores ordenados na igreja romana, propôs a Reforma dentro da sua igreja.

Na Reforma, nenhum reformador foi re-ordenado ministro da igreja, ao que se sabe. Sem corrupção do ordo, todos permaneceram com a ordenação original (Calvino, porém, jamais foi ordenado ministro evangélico, como disse François Wendel, Calvin,1965). Sustentaram a herança original da Igreja dos Apóstolos, da Igreja Antiga, Ocidental ou Oriental (romana; bizantina).

Em 1054 houve o cisma entre a igreja romana (Ocidente) a bizantina (Oriente). A matriz do protestantismo é a Igreja Romana. Como um filho é por toda vida cria de sua mãe, a igreja evangélica procede do catolicismo romano. Porém, a matriz moderna de batistas, presbiterianos e congregacionais, incluindo metodistas, é, mesmo em segunda via, a Igreja Anglicana do séc. 17, cem anos depois do grande reformador Thomas Cranmer, arcebispo na Inglaterra. Nem é preciso pesquisa histórica acurada. O pentecostalismo "clássico" não existe, historicamente, a não ser como movimento religioso não trinitário entre os que acompanham o cristianismo desde os séculos iniciais (Igreja Antiga).

As primeiras confissões cristãs (Credo Apostólico, Confissão de Nicéia, Credo Calcedônico, Credo Niceno-Constantinopolitano) são aceitas integralmente pelas igrejas evangélicas protestantes e ecumênicas. Esse princípio confessional foi ampliado no Movimento Protestante do séc. 16, nas “Confissões Reformadas” (1530: Augsburg; 1567: Heidelberg; 1561: Belga ). Sola Fide, Sola Gratia, Sola Scriptura, são princípios que a teologia católico-romana contemporânea também não discute quanto à sua validade. Foram discutidos desde a Pré-Reforma. Ao contrário, hoje, afirma-os com mais veemência que o desmemoriado movimento evangélico pentecostal contemporâneo.

Desde a Idade Média, a expressão “reformata semper reformanda” (reformada sempre se reformando) era conhecida. Não só John Wyclif, outros reformadores antecederam Lutero, Zwínglio, Calvino ou Cranmer. Aliás, batistas e presbiterianos deveriam estudar melhor sua procedência, desde Wyclif e Cranmer, e a própria Igreja Celta dos séculos 3 a 7 desta era, legítimos antecessores de seus movimentos religiosos no século 17 (quando os cristãos celtas foram obrigado, politicamente, a ingressar na Igreja Católica britânica; cf. Oxford Dictionary of Christian Church).

A imagem monoteísta de Deus em Israel e no Novo Testamento – o Deus revelado em Jesus – não é de um Deus com poder político. Em Israel, segundo a Bíblia Hebraica, Deus mostrou-se junto a quem não tinha nem poder nem riqueza, junto aos que sofriam e eram vítimas. E um Deus dos pequenos e dos pobres: “Eu habito em lugar alto e santo, mas estou junto ao abatido e humilde” (Is 57,15). Deus é grande e imortal, mas não é encontrado olhando-se para cima, para fora da terra. Ele se deixa encontrar na Trindade Santíssima quando se olha para baixo, para os mais frágeis e mortais, para os que precisam de compaixão e de proteção. Por isso mesmo o profeta Jeremias radicalizou, ao lembrar um bom governador de Jerusalém: “Praticou o direito e a justiça, julgou a causa do pobre e do indigente; não é isso conhecer-me?” (Jr 22,15-16). Mas não divinizou-o.

O Novo Testamento é tão radical nessa união que chega à identificação impressionante: o Espírito é enviado pelo Pai e pelo Filho, para que o Reino seja acessível ao mundo inteiro (Moltmann). O longo caminho percorrido, na arte bizantina, na representação do ícone da Trindade do ortodoxo André Rublev, é atingido – pois através de meios humanos traduz-se uma realidade que escapa – em sua natureza transcendental, a linguagem humana não a alcança. Parece uma empresa impossível representar o mistério da Trindade. No entanto, através do admirável ícone russo ortodoxo, mostram-se em afeição íntima, três pessoas que apresentam-se em unidade profunda. A unidade liga mutuamente as três pessoas, fazendo delas uma só imagem. Assim, a Igreja para ser trinitária, deve reconhece-se una, ecumênica, ou já traiu suas origens.

A Trindade Santíssima não será exibida nem se representa em espetáculos de grandeza religiosa triunfante, como no evangelical show business, ou em catedrais dedicadas à Theotókos (mãe de Deus) em fascinantes espaços e palcos religiosos; em luzes, gelo seco, parafernálias hightec e tremores e emoções soltas, pois, para a fé, o Deus Trinitário não precisa de aplausos e de fãs; de bajuladores e reconhecimento superficial nos louvores interesseiros. Isso seria transformá-lo em ídolo, e não reconhecê-lo como o Deus vivo. O verdadeiro louvor e a verdadeira religião são o socorro ao pobre, ao órfão e à viúva (Tg 1,27; Os 6,6; Mq 6,8). Dessa forma, não se separa a Trindade da ética, já que o centro da ética e do culto cristão é o outro. O amor e o culto ag
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