Palavra do leitor
- 22 de janeiro de 2014
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Artigo publicado em resposta a De esquerda ou de direita, sejamos inteligentes e cristãos
Sobre de Esquerda ou Direita: uma carta-resposta
Prezado Rafhael,
O delineamento dos campos políticos traçado no seu artigo é bem claro e objetivo. No que diz respeito às discordâncias com a esquerda, acredito também que as respostas intempestivas, por vezes ofensivas, não servem para pautar ações de quem prega coerência e o abandono da velha máxima “olho por olho, dente por dente”.
Bem, no que se remete à esquerda (e digo no plano teórico), entendo que os ideais de igualdade social e a ruptura de hierarquias segregacionistas se aproximam sim do que Cristo estabeleceu para nós. Para muitos (como para aqueles antigos adeptos da teologia da libertação), as escrituras, as parábolas e passagens como o sermão da montanha são marcadas por intertextualidades e dialogismos, os quais sugerem uma percepção política quase que poética de teóricos socialistas.
É claro que, coerentemente, você, nesse seu artigo, não sugere a esquerda delineada no Manifesto de Marx, (a qual tinha, entre os seus ideais, um estado sem qualquer tipo de ícone, identidade ou representação religiosa), mas você menciona a esquerda que têm “certa” liberdade e “certo” grau de igualdade. Eu confesso que, hoje, essa falta de legitimidade ou de limites de variação de valor, os quais são sugeridos nas conversas com professores, amigos e colegas de esquerda, me tem feito refletir sobre a fluidez desses “ideais sociais” perante a nossa própria realidade política. (Embora você não tenha adentrado no atual cenário brasileiro, eu peço licença para fazê-lo).
Particularmente, acredito que temos uma espécie de estado “Frankenstein” hoje, um misto “esquerdadireita” que quer dividir renda, promover igualdade, sem abrir mão dos princípios neoliberais da direita conservadora, digo o laissez-faire contemporâneo, que, no Brasil, dito bem-sucedido, têm impulsionado a consolidação da sociedade de bem de consumo; do paradigma do “ter” pra “ser” que incomoda tanto os cristãos.
Em meio esse estímulo exagerado ao consumo, me apego absorta com a qualidade da educação que temos. Como professora, fico muito constrangida em dizer que a ditadura de direita (e que essa não volte nunca mais!) fez escola básica melhor que a dita esquerda agora no poder; o que é lamentável. Antes de encerrar essa resposta, cito, ainda, a minha experiência recente, dando aulas de Política e Educação na universidade onde eu estava trabalhando. Dentre os pontos de estudo, tive que me ater à política brasileira e aos planos e ações educacionais em meio à proposta de reestruturação da América Latina imposta (ou tratada) pelo famigerado Consenso de Washington de 1989 (e pela Conferência de Jomtien de 1990).
Pois bem, Rafael, o que é defendido no meio acadêmico (com raras exceções como Marilena Chauí) é que esquerda brasileira, ao assumir o Palácio do Planalto, optou pela continuidade e não pela ruptura. Bem, dada tal evidência, o que dizer? Para mim, a decepção não se cala. Para os otimistas, os defensores da esquerda “em vigência”, a nova faceta do capitalismo no Brasil vai “muito bem, obrigado”. Se é isso mesmo, então acho que alguém precisa rever aquela máxima que aponta tal sistema como gerador de desigualdade e miséria. Ratifico: Se isso é verdade, um capitalismo que minimiza pobreza e desigualdade, legitima-se o “eu te disse que não éramos tão maus” da direita e cabe a nós, como acadêmicos, realizar a revisão da trajetória dos estudos políticos e filosóficos dos séculos 19 e 20. Trazê-los à contemporaneidade. Confesso que, para mim, esse exercício, tem revelado uma esquerda, digo a brasileira, que se distancia, e muito, das percepções e ideais extremamente legítimos redigidos no seu artigo.
O delineamento dos campos políticos traçado no seu artigo é bem claro e objetivo. No que diz respeito às discordâncias com a esquerda, acredito também que as respostas intempestivas, por vezes ofensivas, não servem para pautar ações de quem prega coerência e o abandono da velha máxima “olho por olho, dente por dente”.
Bem, no que se remete à esquerda (e digo no plano teórico), entendo que os ideais de igualdade social e a ruptura de hierarquias segregacionistas se aproximam sim do que Cristo estabeleceu para nós. Para muitos (como para aqueles antigos adeptos da teologia da libertação), as escrituras, as parábolas e passagens como o sermão da montanha são marcadas por intertextualidades e dialogismos, os quais sugerem uma percepção política quase que poética de teóricos socialistas.
É claro que, coerentemente, você, nesse seu artigo, não sugere a esquerda delineada no Manifesto de Marx, (a qual tinha, entre os seus ideais, um estado sem qualquer tipo de ícone, identidade ou representação religiosa), mas você menciona a esquerda que têm “certa” liberdade e “certo” grau de igualdade. Eu confesso que, hoje, essa falta de legitimidade ou de limites de variação de valor, os quais são sugeridos nas conversas com professores, amigos e colegas de esquerda, me tem feito refletir sobre a fluidez desses “ideais sociais” perante a nossa própria realidade política. (Embora você não tenha adentrado no atual cenário brasileiro, eu peço licença para fazê-lo).
Particularmente, acredito que temos uma espécie de estado “Frankenstein” hoje, um misto “esquerdadireita” que quer dividir renda, promover igualdade, sem abrir mão dos princípios neoliberais da direita conservadora, digo o laissez-faire contemporâneo, que, no Brasil, dito bem-sucedido, têm impulsionado a consolidação da sociedade de bem de consumo; do paradigma do “ter” pra “ser” que incomoda tanto os cristãos.
Em meio esse estímulo exagerado ao consumo, me apego absorta com a qualidade da educação que temos. Como professora, fico muito constrangida em dizer que a ditadura de direita (e que essa não volte nunca mais!) fez escola básica melhor que a dita esquerda agora no poder; o que é lamentável. Antes de encerrar essa resposta, cito, ainda, a minha experiência recente, dando aulas de Política e Educação na universidade onde eu estava trabalhando. Dentre os pontos de estudo, tive que me ater à política brasileira e aos planos e ações educacionais em meio à proposta de reestruturação da América Latina imposta (ou tratada) pelo famigerado Consenso de Washington de 1989 (e pela Conferência de Jomtien de 1990).
Pois bem, Rafael, o que é defendido no meio acadêmico (com raras exceções como Marilena Chauí) é que esquerda brasileira, ao assumir o Palácio do Planalto, optou pela continuidade e não pela ruptura. Bem, dada tal evidência, o que dizer? Para mim, a decepção não se cala. Para os otimistas, os defensores da esquerda “em vigência”, a nova faceta do capitalismo no Brasil vai “muito bem, obrigado”. Se é isso mesmo, então acho que alguém precisa rever aquela máxima que aponta tal sistema como gerador de desigualdade e miséria. Ratifico: Se isso é verdade, um capitalismo que minimiza pobreza e desigualdade, legitima-se o “eu te disse que não éramos tão maus” da direita e cabe a nós, como acadêmicos, realizar a revisão da trajetória dos estudos políticos e filosóficos dos séculos 19 e 20. Trazê-los à contemporaneidade. Confesso que, para mim, esse exercício, tem revelado uma esquerda, digo a brasileira, que se distancia, e muito, das percepções e ideais extremamente legítimos redigidos no seu artigo.
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