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Palavra do leitor

Sobre amar pessoas, brevidade da vida e valor humano

Uma das coisas mais difíceis e angustiantes para o ser humano é ter consciência de que cada dia que passa é um dia a menos que ele tem para amar as pessoas mais importantes de sua vida. Essa ideia está registrada no livro "A simples beleza do inesperado", escrita pelo físico e astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser.

Ao perdermos alguém que amamos, percebemos mais nitidamente o quanto a realidade da morte é cruel. Frente a perda e luto, muitos ateus como Gleiser aportam no lema latino de alguns navegadores europeus da Idade Moderna traduzido pelos seguintes dizeres: "Non Plus ultra", ou seja, "Nada além".

A ausência de significado para a existência oferecida pelo ateísmo, exige por parte de seus adeptos uma ressignificação subjetiva entre o nascer e o último expirar, lembrando as palavras de M. Heidegger quando afirmou: "somos uma liberdade vazia para o nada".

Os cristãos, porém, encaram a morte com o lema "Plus ultra" (Mais além). Como escreveu o apóstolo Paulo, "Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens." (1Co 15:19)

A crença na vida eterna e a esperança na ressureição também foram registradas por C.S. Lewis ao escrever: "[...] Eu prefiro acreditar que Cristo vive e vai voltar pra acabar com essa guerra. A esperança que Ele dá ultrapassa a morte ou vida, vai além de trabalhar, traz sonhos pra sonhar! Não que eu queira me esquivar de olhar de frente a vida, mas bem melhor é batalhar pelo pão que vai durar, pão de Cristo, pão da vida."

Ao contrário do niilista, o cristão crê que a vida tem propósito e sentido, quando mesmo na morte uma bendita esperança se revela infinitamente maior que mero otimismo, expectativa ou ilusão. Ainda assim, é ciente de sua provisória limitação temporal e mortalidade.

Diante da vida fugaz, fala-nos mais de perto o Salmo 90:12, necessária oração diária: Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.

Contar os dias impede também um simbólico lamento "auto-necrológico". Como um atleta disciplinado correndo contra segundos de um cronômetro, alcançamos sabedoria pelo sábio uso do tempo e amando intensamente pessoas queridas, reconhecendo que somente Deus é imortal (1Tm 6:16) e eterno (Sl 90:2).

Se amar é a essência da vida cristã, justamente por ser uma virtude da graça ao pecador, precisa ser estendida a quem não mereceria ser amado. Basicamente, existem duas maneiras de não amar o próximo: oferecendo-lhe o desprezo e pela afeição idólatra.

A estranha e contraditória inclinação humana em valorizar quem o despreza e desprezar quem o valoriza é a incoerência revelada na expressão de afetos moralmente invertidos, como ocorre em adolescentes que demonstram intensa emoção e paixão por seus ídolos, enquanto ignoram os pais – assim como o cônjuge que troca quem lhe fez votos nupciais (e permanece em amor e fidelidade) por outra pessoa que lhe desperta sentimentos e sensações com novidades.

Mas seria o amor uma mera reação química emocional provocada pelo artista ídolo ou aquela paixão insana que oferece ao cérebro como recompensa uma excitante dopamina?

No livro Quando Nietzsche Chorou encontramos um trecho que poderia ser parafraseado com a ideia de que "não amamos o outro, mas a sensação de amar ou estar sendo amado pelo outro". Ágape à parte, difícil é encaixar essa lógica no amor verdadeiro de uma mãe.

Os ídolos são superestimados não somente pelo símbolo que representam no imaginário do seduzido, mas também pelo que podem oferecer. Eles têm uma utilidade ao fã, adorador ou apaixonado. Oferecem frenesi e excitação emocional. Em troca, recebem devoção.

No entanto, subsistiria essa espécie de devoção ao crivo do que se pode realmente chamar de amor? O que acontece quando esse ídolo se torna inútil para quem o venera?

Quando a cantora brilhante perde a bela voz e desafina sem parar; quando Astro da Fórmula 1 fica num quadro vegetativo e o atleta veloz já não atinge a mesma performance; quando ao brilhante palestrante envelhecido resta-lhe o Alzheimer, onde está o valor intrínseco do ser humano? Nas posses, diplomas, prêmios e história de produtividade? Sem essas prerrogativas o que sobra ao ser humano? A inutilidade?

Dia 25 de abril de 2019 perdi meu pai. Dias antes, ele estava no leito de hospital. Ao seu lado, meus pensamentos eram como um filme. Lembrei-me da música "Velho" (Grupo Logos) e do vídeo que me enviaram muito antes sobre "Amor e utilidade" - Pe. Fábio de Melo. Agora já não rejeito a mensagem, mas abro o coração. "[...] A velhice é esse tempo em que passa a utilidade e aí fica só o seu significado como pessoa. [...] É o momento em que a gente vai ter a oportunidade de saber quem nos ama de verdade."

Para aprender a viver e amar, é preciso conhecer a Cristo, a Fonte da vida e amor. E para medir o valor humano? Agostinho de Hipona responde: "Queres saber o teu real valor? Olha para a Cruz, tu vales um Deus crucificado." Ressuscitado!

Original: 30.05.19 - em luto.
Alagoinhas - BA
Textos publicados: 48 [ver]

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