Palavra do leitor
- 30 de abril de 2019
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Sobre amar pessoas, brevidade da vida e o valor humano
Uma das coisas mais difíceis e angustiantes para o ser humano é ter consciência de que cada dia que passa é um dia a menos que ele tem para amar as pessoas mais importantes de sua vida. Essa ideia está registrada no livro "A simples beleza do inesperado", escrita pelo físico e astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser.
Ao perdermos alguém que amamos, percebemos mais nitidamente o quanto a realidade da morte é cruel. Ante a iminência do exício e luto, ateus como Gleiser aportam no lema latino que lembra alguns navegadores europeus da Idade Modena – Non Plus ultra, ou seja, "Nada além".
A ausência de significado da existência que o ateísmo oferece exige uma ressignificação subjetiva dos seus adeptos entre o intervalo do nascer e o último expirar, lembrando as palavras de Martin Heidegger ao afirmar que "somos uma liberdade vazia para o nada".
Os cristãos, por sua vez, adotam como lema frente a morte um "Plus ultra" (Mais além). Como escreveu o apóstolo Paulo, "Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens." (1 Coríntios 15:19, RA)
Encontramos esse pensamento da esperança cristã nas palavras de C.S. Lewis quando escreveu: "[...] Eu prefiro acreditar que Cristo vive e vai voltar pra acabar com essa guerra. A esperança que Ele dá ultrapassa a morte ou vida, vai além de trabalhar, traz sonhos pra sonhar! Não que eu queira me esquivar de olhar de frente a vida, mas bem melhor é batalhar pelo pão que vai durar, pão de Cristo, pão da vida."
Ao contrário do niilista, o cristão tem esperança -- uma bendita esperança que se revela infinitamente maior que mero otimismo, expectativa ou ilusão. No entanto, ainda assim, possui senso de finitude e mortalidade.
Diante da vida fugaz, fala-nos mais de perto o Salmo 90:12, necessária oração diária: Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.
Da perspectiva cristã, contar nos impede um simbólico lamento "auto-necrológico". Como um atleta que corre contra os segundos de um cronômetro, alcançamos sabedoria através de um viver com prioridades bem estabelecidas, oportunidades aproveitadas, sábio uso do tempo, amando as pessoas ao nosso redor e reconhecendo que somente Deus possui a imortalidade (I Tim 6:16) e eternidade (Sl 90:2).
Se amar é o fundamento da vida cristã, não somente a quem estimamos devemos assim fazê-lo, mas até aos inimigos, excedendo a justiça dos fariseus, recomendou Cristo Jesus.
Há duas maneiras básicas de não amar o próximo. Uma é delas é oferecendo o desprezo; a outra é pela afeição idólatra.
A estranha e contraditória inclinação humana em valorizar quem o despreza e desprezar quem o valoriza é a incoerência revelada na expressão de afetos moralmente invertidos, como adolescentes que denotam intensa emoção e paixão por seus ídolos, enquanto ignoram os pais ou o cônjuge que se apaixona por uma amante, mas se entedia da presença de quem fez votos nupciais.
Seria o amor como a reação química à incitação emocional provocada pelo artista ídolo ou paixão insana que oferece ao cérebro como recompensa excitante a dopamina?
No livro de Irvin D.Yalom "Quando Nietzsche chorou" encontramos a seguinte citação: "O amamos no outro é o desejo e não o desejado, por isso quando acaba o desejo acaba o amor". Difícil é encaixar essa lógica no amor verdadeiro de uma mãe. Sim, existe o ágape, mas lembro do Percival Puggina quando escreveu certa vez que "a medida do verdadeiro amor é a medida do sacrifício pelo bem do outro.
Os ídolos são superestimados não somente pelo símbolo que representam no imaginário do seduzido, mas também pelo que podem oferecer. Eles têm uma utilidade ao fã, adorador, fanático e apaixonado. Em troca, recebem devoção.
Mas subsistiria essa espécie de devoção ao crivo do que se pode chamar de amor? O que acontece quando esse ídolo se torna inútil para quem o venera?
Quando a cantora brilhante perde a voz e desafina sem parar; o astro da fórmula 1 fica num quadro vegetativo, o atleta veloz não atinge a mesma performance e ao brilhante palestrante envelhecido resta-lhe o Alzheimer, onde está o valor intrínseco do ser humano? Nas posses, talentos, diplomas, memórias, produtividade? Sem essas prerrogativas o que sobra ao ser humano? A inutilidade?
Dia 25 de abril de 2019 perdi meu pai. Dias antes, estava ao seu lado no hospital. Meus pensamentos era um filme. Lembrei-me da música "Velho" do Grupo Logos. Lembrei-me do vídeo enviado a mim ano passado com a mensagem do padre Fábio de Melo – agora já não racionalizo, mas abro o coração. "
"[...] A velhice é esse tempo em que passa a utilidade e aí fica só o seu significado como pessoa. [...] É o momento em que a gente vai ter a oportunidade de saber quem nos ama de verdade."
Para aprender a viver e amar, é preciso conhecer a Cristo, pois Ele é a própria vida e amor. E para medir o valor humano? Agostinho de Hipona responde: "Queres saber o teu real valor? Olha para a Cruz, tu vales um Deus crucificado."
Ao perdermos alguém que amamos, percebemos mais nitidamente o quanto a realidade da morte é cruel. Ante a iminência do exício e luto, ateus como Gleiser aportam no lema latino que lembra alguns navegadores europeus da Idade Modena – Non Plus ultra, ou seja, "Nada além".
A ausência de significado da existência que o ateísmo oferece exige uma ressignificação subjetiva dos seus adeptos entre o intervalo do nascer e o último expirar, lembrando as palavras de Martin Heidegger ao afirmar que "somos uma liberdade vazia para o nada".
Os cristãos, por sua vez, adotam como lema frente a morte um "Plus ultra" (Mais além). Como escreveu o apóstolo Paulo, "Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens." (1 Coríntios 15:19, RA)
Encontramos esse pensamento da esperança cristã nas palavras de C.S. Lewis quando escreveu: "[...] Eu prefiro acreditar que Cristo vive e vai voltar pra acabar com essa guerra. A esperança que Ele dá ultrapassa a morte ou vida, vai além de trabalhar, traz sonhos pra sonhar! Não que eu queira me esquivar de olhar de frente a vida, mas bem melhor é batalhar pelo pão que vai durar, pão de Cristo, pão da vida."
Ao contrário do niilista, o cristão tem esperança -- uma bendita esperança que se revela infinitamente maior que mero otimismo, expectativa ou ilusão. No entanto, ainda assim, possui senso de finitude e mortalidade.
Diante da vida fugaz, fala-nos mais de perto o Salmo 90:12, necessária oração diária: Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.
Da perspectiva cristã, contar nos impede um simbólico lamento "auto-necrológico". Como um atleta que corre contra os segundos de um cronômetro, alcançamos sabedoria através de um viver com prioridades bem estabelecidas, oportunidades aproveitadas, sábio uso do tempo, amando as pessoas ao nosso redor e reconhecendo que somente Deus possui a imortalidade (I Tim 6:16) e eternidade (Sl 90:2).
Se amar é o fundamento da vida cristã, não somente a quem estimamos devemos assim fazê-lo, mas até aos inimigos, excedendo a justiça dos fariseus, recomendou Cristo Jesus.
Há duas maneiras básicas de não amar o próximo. Uma é delas é oferecendo o desprezo; a outra é pela afeição idólatra.
A estranha e contraditória inclinação humana em valorizar quem o despreza e desprezar quem o valoriza é a incoerência revelada na expressão de afetos moralmente invertidos, como adolescentes que denotam intensa emoção e paixão por seus ídolos, enquanto ignoram os pais ou o cônjuge que se apaixona por uma amante, mas se entedia da presença de quem fez votos nupciais.
Seria o amor como a reação química à incitação emocional provocada pelo artista ídolo ou paixão insana que oferece ao cérebro como recompensa excitante a dopamina?
No livro de Irvin D.Yalom "Quando Nietzsche chorou" encontramos a seguinte citação: "O amamos no outro é o desejo e não o desejado, por isso quando acaba o desejo acaba o amor". Difícil é encaixar essa lógica no amor verdadeiro de uma mãe. Sim, existe o ágape, mas lembro do Percival Puggina quando escreveu certa vez que "a medida do verdadeiro amor é a medida do sacrifício pelo bem do outro.
Os ídolos são superestimados não somente pelo símbolo que representam no imaginário do seduzido, mas também pelo que podem oferecer. Eles têm uma utilidade ao fã, adorador, fanático e apaixonado. Em troca, recebem devoção.
Mas subsistiria essa espécie de devoção ao crivo do que se pode chamar de amor? O que acontece quando esse ídolo se torna inútil para quem o venera?
Quando a cantora brilhante perde a voz e desafina sem parar; o astro da fórmula 1 fica num quadro vegetativo, o atleta veloz não atinge a mesma performance e ao brilhante palestrante envelhecido resta-lhe o Alzheimer, onde está o valor intrínseco do ser humano? Nas posses, talentos, diplomas, memórias, produtividade? Sem essas prerrogativas o que sobra ao ser humano? A inutilidade?
Dia 25 de abril de 2019 perdi meu pai. Dias antes, estava ao seu lado no hospital. Meus pensamentos era um filme. Lembrei-me da música "Velho" do Grupo Logos. Lembrei-me do vídeo enviado a mim ano passado com a mensagem do padre Fábio de Melo – agora já não racionalizo, mas abro o coração. "
"[...] A velhice é esse tempo em que passa a utilidade e aí fica só o seu significado como pessoa. [...] É o momento em que a gente vai ter a oportunidade de saber quem nos ama de verdade."
Para aprender a viver e amar, é preciso conhecer a Cristo, pois Ele é a própria vida e amor. E para medir o valor humano? Agostinho de Hipona responde: "Queres saber o teu real valor? Olha para a Cruz, tu vales um Deus crucificado."
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dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
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