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Palavra do leitor

Ser sal e luz do céu não tem serventia alguma

Ser sal e luz do céu não tem serventia alguma



‘’Os homens tem perdido, se já não aconteceu, os rumos do diálogo e da abertura para compreender a importância das diferenças e não fazer disso um discurso de atos e práticas, pelo qual o próximo acaba por ser descartado, seja por meio de um caminhão, de armas, de bombas ou de outras atrocidades.’’


Mais de setenta pessoas tiveram suas vidas implacavelmente arruinadas, inclusive esse número traz dez crianças, por um homem que se valeu de um caminhão, em Nice, na França, no dia 14 de Julho (um marco na história do povo frances, porque se comemora a queda da bastilha).

A comoção se esparramou, por vários locais do mundo, e as investigações procuram, agora, determinar o nexo direto ou indireto, com a ideologia terrorista, ao qual tem deixado todo um rastro de morticínios e deliberado desapego a vida humana. Sem nenhuma pieguice, ouso dar uns passos adiante e observo uma realidade enredada por uma perda do diálogo, por um desencontro entre os povos, entre as nações, entre as comunidades. É bem verdade, o terrorismo trafega pelos mais diversos e variados enredos culturais e não se mantém restrito a Europa e atinge outros continentes. Em tudo isso, bombas, armas, caminhões, carros e sei lá mais o que tem sido mecanismos para patentear discursos contagiados de uma cólera a ser desferida no próximo, figura descartável e de pouco importância.

Vou além, aproveito esse gancho e me deparo com um cenário de falências e de que retratamos uma geração desprovida de esperança. Eis um mundo denominado de pós – moderno, com suas gerações (não sei se X, Y, Z), refém do individualismo, da ufania de um materialismo consumista para todos, de uma ética voltada a felicidade do ter para ser aceito. Não há como negar, por mais intervenções, em supostos territórios submetidos ao Estado Islâmico, por exemplo, cada vez mais, identifica – se seus adeptos arraigados e conectados pelas tecnologias digitais e a mais letal das armas, a crença numa verdade revolucionária e salvadora.

Tristemente, as palavras apregoadas pelo Carpinteiro dos Recomeços, personificação do Deus ao lado da mulher adultera, do estrangeiro dominador, do leproso repulsivo, do doutor da lei e outras faces da vida, de pessoas, não muito diferente de nós, com suas histórias, com suas incertezas, com suas dúvidas, com suas inquietações, com seus silêncios. Cada vez mais, parece haver uma sensação de que estamos diante de um jogo de cartas marcadas, de que o melhor a fazer passa e perpassa por se proteger e não arriscar muito.

Por aqui, em nosso país, vivemos os rumos de uma sociedade também escasseada dos rumos do diálogo, com os quadros das periferias excluídas de toda e qualquer conceituação de cidadania concreta e efetiva. Para piorar a situação, prosseguimos a mercê de uma dimensão política – partidária, por onde seus gestores demonstram sua ocupação com seus interesses e a fartura de posturas mesquinhas são correntes. Enquanto isso, hipoteticamente, sediaremos as Olimpíadas, com parte da imprensa, ferrenhamente, inclinada a construir toda uma maquiagem de um evento marcante, em prol da nossa sociedade, mas será mesmo?

Lamentavelmente, perdermos os rumos do diálogo, e como isso tem ocorrido, em nosso cotidiano, com a banalização da vida humana, quando os abismos sociais se alastram, mas não são reconhecidos. Verdadeiramente, como seguidor de Cristo, olho para um e outro lado, e me questiono se não perdi esse rumo? Aliás, como isso alcança corporificação, principalmente, diante de uma subjugação do serviço, da confissão, do discipulado e da comunhão pelo aclamado culto ao sucesso, ao dualismo bem e mal.

Valho – me de Jeremias 22.03 e extraio um dos fatores resultantes de toda uma pletora de mazelas, em nossa sociedade. Por fim, estamos, em mais um período de eleições, agora, municipais, e vamos nos confrontar com as mesmas, as vetustas e rançosas promessas encabeçadas por pessoas distantes de trilhar por esse rumo ao diálogo, ao qual deve nos importunar, nos incomodar, nos inconformar, porque ser sal e luz do céu não tem serventia alguma.
São Paulo - SP
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