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Palavra do leitor

Sem Nome! (um conto sobre a originalidade cristã)

"falar de vida cristã, sem a via do compromisso e companheirismo em comunhão, soa como algo indiscerível!"...

No pacato vilarejo de todos, a vida trazia um sabor de costumes arraigados. O ar ventilava a temporaneidade e a inocência dos poucos lugares ainda sem o toque do progresso. O pequenino riacho continha águas dóceis e límpidas. Muito usado como espelho pelos viajantes. O soturno pintava o quadro de uma realidade regada e inebriada de nostalgismo e um certo tempero de melancolia.

Ali, o tempo aproveita melhor a cadência dos bons bons momentos, livre da cacofonia e das turbulências das metrópoles, da tresloucada ânsia dos mortais pelo mais, pelo muito e pelo maior. Muito embora com toda essa frugalidade e poderíamos dizer atmosfera lúdica, os habitantes daquele lugar eram chamados de alguém(s). No entanto, havia uma espécie de contradição e considerada anormalidade. Para muitos, motivo de chacota, questionações desconfortáveis e dissabores inimagináveis. Todos se dirigiam a ele como "Sem Nome". Eis a sua tétrica rotina, continuamente interpelado:

- Bom dia, Sem Nome!

Outros, enlaçados pela vileza, procediam maleivosamente:

- Qual o seu Nome?
- Você não tem Nome?
- Afinal de contas, ninguém lhe deu um Nome?

Sempre, Sem Nome, enfrentava as pontiagudas questões e quantas vezes o magoavam, o encolerizavam, o levavam a ir em direção a uma vida de aparências, de conformismo, de culpas e condenações.

Durante muito tempo, Sem Nome não mais aturou tamanho flagelo e, então, tentou adquirir estereótipos vendidos na entrada do Vilarejo por um cara chamado de ilusão. Verdadeiramente, ilusão dispunha de ícones esbeltes, gurus, heróis esplendorosos e garantia a Sem Nome:

- Se adquirir um desses estereótipos, ou heróis, ou mitos, ou deuses, com certeza, a sua vida não será mais a mesma!
- Ou se quiser, disponho de uma coleção selecionável de máscaras religiosas, de discursos avesivos a tudo e todos!

Oba, ruminou Sem Nome, lá no fundo da sua alma, encontrei o antídoto, a substância de cura para essa matéria, essa falta de significado e expressividade.

Por alguns dias, Sem Nome era um estereótipo, até apetecível, no entanto, depois da euforia, os estereótipos não conseguiam mais preencher o vácuo do eu. E assim foi, vieram ícones, mitos e deuses. além das demais válvulas de escape da religiosidade, do ateísmo e outros tantos subterfúgios. Certa feita, Sem Nome teve a oportunidade de encontrar um algúem diferente que, sem titubear, disse:

- Olá, amigo!

Neste momento, Sem Nome com o pé atrás, replicou:

- Amigo!
- Olha, dizia essse alguém, procurava-o por todas as partes do vilarejo e já perdia a esperaça.
- Por onde, andavas?

Sem Nome com a mão no queixo e receoso, no escoar de alguns momentos, disse:

- Fui ao encontro de sentido, de destino e motivação!

Prontamente, algúem enfatizou:

- Já sei!
- Você foi até a barraquinha da ilusão?

Sem Nome arregalou os olhos e expôs:

- Como você sabe?

Aí um alguém continuou:

- Deixo ver, lá havia ícones, estereótipos, mitos, deuses, couraças ideológicas, ateísticas dogmáticas e por ai vai?

Respondeu, Sem Nome:

- É isso mesmo!
- E, então, trouxe um resultado benéfico?

Sem Nome mexeu e remexeu e não soube dizer com exatidão.

Fique tranquilo, também um dia, ou muitos, busquei dos artíficios, das máscaras e das farsas tão propagandeadas por ilusão. Até o dia em que me deparei com o vigor da vida, de sermos nós mesmos e de aceitarmos a liberdade plena e integral.

Ora, Sem nome, então, disse:

- Leva-me ou me mostre como adquirir este produto?

De imediato, alguém respondeu:

- Não há custo, há sacrifício, não há imposição, não há desfiguração do que somos!

Mas, o que faço para dispor dessa novdiade? Simplesmente nada! Bem, deixo corrigir a frase.

Ah, sabia, tem algo por trás? Não. Simplesmente, vá ao riacho de águas límpidas e dóceis. O quê? Você já não ouviu falar que quem faz isso, acaba bitolado, radical, alienado e que ser um defensor da vida. Caro amigo, vã, dê-se essa oportunidade para tirar concernidas conclusões. Assim, Sem Nome foi e ao chegar lá olhou para áquelas águas límpidas e dóceis e pode perceber uma voz afetuosa, afável e lenitiva penetrar as partes mais sigilosas e segredadas do seu eu.

Os pedaços de deformações simbolizados pela rejeição, pela culpa, pela condenação, pela perda de sentido... Sem Nome sentia um remover de todos os dejetos de seu eu. Não parou por ai e uma voz exalou:

- Boa vida, Sem Nome!

A partir de agora, você passa a ser imagem e semelhança da vida. Quanta perplexidade pairava, desde então. O outrora patinho feio da família passava a ser o reflexos, a manifestação e concretização da vida.

Sem Nome tinha, agora, uma originalidade, uma transparência e certeza de que ser imagem e semelhança da vida. Diga-se de passagem, ao lado de um amigo ciente sobre as vicissitudes, as falhas, os equívocos e mudanças da vida.
São Paulo - SP
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