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Palavra do leitor

Se alguém tivesse procurado Judas?

Se alguém tivesse procurado Judas?


‘’Ama – se não nas catedrais, como também o amor não se encontra nos rituais e em seus sacrifícios; aliás, amar não mantém nenhuma identidade com os símbolos de divindade, com mitológicos, de santidade e muito menos está no transcendente, no sobrenatural, no místico, mas sim, conforme a Carta de 1 João 4. 01 a 20, declara, como pressuposto mais elementar, e, por isso, Deus se revelou e se revela, por meio do amor, em Cristo Jesus, que veio como gente, como pessoa e como ser humano, ou seja, nas relações humanas.’’


A figura de Judas Iscariotes, dentre os doze discípulos, pode ser vista como uma das mais emblemáticas, como um palco para as mais diversas considerações da saga do Messias, de como alguém, mesmo diante do Filho de Deus, pudesse o trair, o negociar, o entregar para seus algozes. Nessa linha de raciocínio, Judas permeia e povoa o imaginário dos crentes, por todo o mundo, matéria de elucubrações de teólogos e historiadores, interpretações opostas aos relatos descritos na bíblia e por ai vão. Evidentemente, ainda hoje, há a praxe enraizada em uma abundância de culturas, com relação a malhar o Judas, e os filmes o retratam como um personagem obscuro, inescrupuloso e desafeito aos autênticos desígnios do evangelho. De certo, ouso, então, fazer uma ligação do texto Mateus 26. 14 a 6 e 20 a 25, ao qual se encontra com a Epístola de I João 4. 01 a 20, para divagar um pouco, sem descambar em pontuações tolas e estúpidas, voltado a verificar se, porventura, um dos discípulos tivessem lutado, com insistência, por Judas.

Ora, o mesmo esteve com os demais, havia e houve, sim e sim, as vias dialogais, os momentos de tensões, de incertezas, de avanços, de conquistas, de descobertas e, indiscutivelmente, em momento algum, ninguém ou nenhum dos onze arriscou em se aproximar do potencial traidor. Mesmo após a consumação da prisão de Jesus, todos se evadiram e cada um por si e Deus por todos. As vezes, estabeleço uma conexão com a situação de uma realidade evangélica, cada vez mais, embriagada por uma espécie de fé individualista, da relação com a Graça, tristemente, limitada as fronteiras dos templos, dos seus púlpitos e de suas lideranças carismáticas. Nada mais e nada menos! Eis a ênfase de me dar a minha benção para depois o anjo subir, de multidões andarilhos, de cultuadores de discursos pelo qual apresentem o caminho mais rápido e eficiente de obter as dádivas, aqui, neste oikos, obviamente, segundo meus interesses, sem a leitura do próximo, sem percepção de como esta e se encontra.

Tistemente, agimos, com muita facilidade, diante dos caídos, afastamo – nos, abomina – os, tratamo – los como leprosos, páginas de histórias repugnantes e desprezíveis. Afinal de contas, nós somos os bons, os certos, os justos, os predestinados e, enquanto isso, aquele que sucumbiu no adultério, na corrupção, no ceticismo, no desvirtuamento da fé e tantas outras situações que nos chamam para andar uma légua a mais, dar a outra face, ir a direção da perspectiva do amor que nos humaniza, que nos torna livres, libertos e libertários para uma liberdade solidária, fraterna, pacífica, bondosa, intensa, apaixonada e inconformada.

Dou mais uma pincelada, cadê os onze, desapareceram, esconderam – se, hibernaram – se e será que, durante três anos, Judas esteve com o coração fechado, a emoção insensível, o espírito ressecado e o ponto de reciprocidade, do amor que rompe e irrompe com as toras das distâncias étnicas, culturais, religiosas, sociais, ideológicas e todos passaram e perpassaram, como se não houvesse nada a fazer? Então, inclusive no momento de uma subentendida denuncia de Jesus, permaneceram alheios ou indiferentes?

Verdadeiramente, no escoar de tudo, antes da crucificação, o por qual motivo não foi a procura e:

- Hei Judas, não venho a sua procura para condená-lo, mas, caso queira, minhas mãos se estendem e vamos o ajudar a recomeçar?

Em poucas palavras, a postura de Jesus alterou o script e foi a procura de Pedro e sem o diminuir, o desmerecer, o rebaixar, o desprezar, mas o recolocou nos trilhos para retomar o fio da meada, ou seja, a vida humana. Sinceramente, como temos procedido, quando nos deparamos com os falidos, com os desesperançados, com os desiludidos, com os amargurados, com os desanimados, com os derrotados, bem ao nosso lado, durante os domingos ou na semana? Será que prosseguimos a fazer de conta de não ser conosco, de que o que homem planta, colhe, de ser ele e Deus, de não poder fazer nada? Sem hesitar, Jesus seria crucificado e ressuscitaria, mas, independentemente disso, Judas poderia, o por qual motivo não, está elencado, como uma das obras do novo testamento e, alguns podem dizer:

- E as profecias de que o Filho seria entregue?

Ouso uma resposta:

- O Filho do homem seria entregue e, mesmo diante dessa afirmativa, uma vida seria restaurada e reconciliada, uma vida seria e não deixaria de ser importante!
São Paulo - SP
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