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Palavra do leitor

Santidade, uma palavra a ser revista!

Beijos e estilhaços

beijar – te,
como a palha na lareira
que na teimosia de fênix
renasce na ternura de sua retina;

na ironia da vida,
em um simples encontro,
aspira – se as fagulhas do eterno
gravado nas entrelinhas do silêncio;

pouco importa:

a retórica emudecida,
o dicionário sem portas,
o açude com veias de barro;

entre o tempo e o espaço,
sou: indiferente a minha alma:

uma andarilha na madrugada,
refém de uma esperança,
na cabeceira do inconsciente,
embevecida pelos estilhaços de seus lábios.

Não preciso de uma santidade que me torne indiferente as pessoas, por uma pretensa postura de ser separado, escolhido para algo maior. Afinal de contas, conforme a escritura sagrada define e declara como o maior ou o coração – útero de todos os mandamentos não consiste em amar a Deus, ao próximo como a ti mesmo?

Logo, vem, ao meu ouvido, como um som estranho, uma santidade de invólucros, seja por meio de dogmas, seja por meio de doutrinas, seja por meio de um misticismo barateado, seja por meio de apologias que mais se comprometem a espedaçar a Cruz de Cristo, seja por meio de um humanismo liberal cristão que reduz a Graça a um punhado de idealismos.

Sinceramente, devo confessar, o quanto, em muitos momentos, seja – me apreciável e conveniente militar por uma santidade, a qual não leva as trincheiras de resistir em favor da vida, ainda luto por uma santidade voltada a fazer ser útil e benéfico, não como se fossem o fim da minha identidade cristã e humana, mas sim como a manifestação clara, objetiva, séria e sincera para não negar a vida, com suas oposições, com suas injustiças e com suas iniquidades.

Grosso modo, trilhar por uma santidade que reflita um evangelho livre, aberto para os acertos, para os ajustes, para a aceitação e inclusão de ser humano. Vou adiante, uma santidade que desce as ladeiras e se encontra com as diversas culturas e suas buscas, com uma linguagem sensível sobre o quanto a verdade, a esperança, a justiça e a misericórdia são utopias construídas, a cada dia, e não obtidas, como num passe de mágica.

Então, a santidade mantém uma correlação inextricável em ser santo (ser útil e benéfico), ou seja, aqui, agora, no presente e isto envolve um não a uma santidade que mais se assemelha a estereótipos, com seus jargões, com sues clichês, com suas crendices e com seus moralismos, com uma perda da individualidade, da singularidade e da importância do próximo, como parte da nossa salvação consumada em Cristo.

Enfim, não preciso de uma santidade que concebe pecado como uma necessidade, entretanto, como o estado de indiferença, com relação a vida, ao próximo e a um sentido maior de nossa existência, que não me torna em escravo e sim num ser humano livre para os recomeços; aliás, uma santidade a qual reconcilia a arte, a escrita, a imaginação, as opiniões fecundas, a tolerância, a espiritualidade, a ciência, o avanço, a música e outras artérias pulsásseis, por onde nos tornamos, sem nenhuma sombra de dúvida, imagem e semelhança de Deus.

Eis, aqui, um desafio ou, melhor dito, uma prática que deveria ser seguida pelos chamados seguidores de Cristo e tal pergunta, preferentemente e profundamente, me atinge.
São Paulo - SP
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