Palavra do leitor
- 23 de novembro de 2018
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Sandálias são sinônimo de humildade?
Hoje a sandália que me ajudava a caminhar durante dois anos quebrou. Então resolvi aproveitar a ocasião para tecer algum comentário sobre sandálias.
Eu, particularmente quando penso em sandálias lembro-me de algumas figuras: os hebreus da antiguidade, Abraão, Moisés, os soldados romanos, Jesus de Nazaré e Francisco de Assis.
A função das sandálias é calçar os homens, ajudando-os a caminhar e peregrinar sem ferir os pés. Mas se por um lado elas conferem àquele que as usa certo ar pomposo e dignidade, por outro lado elas são símbolos de humildade.
Humildade, pois com os pés tão próximos à terra (humus, em latim), lembramo-nos que o pó levantado quando pisamos o chão não é muito diferente do pó que forma nosso próprio corpo. Isto porque a maioria dos elementos que compõem a terra que pisamos compõem também o nosso corpo. Então o pó batido das sandálias suja e se mistura com nosso corpo. Somos pó e ao pó tornaremos um dia.
Devemos então levar em conta que as sandálias carregam em si esta dupla simbologia: (i) estar vestido ao mesmo tempo em que se está despido, em humildade, (ii) apresentar-se dignamente ao mesmo tempo em que apresentamo-nos humildemente.
Todavia, se as sandálias simbolizam ao mesmo tempo dignidade e humildade, aquele que descalça totalmente os pés e toca com eles a própria terra, aproxima-se mais da humildade. "Desce", ou melhor sobe um degrau em humildade.
Todas as vezes que o texto bíblico buscou alegorias adequadas à humildade ele lançou mão dos pés descalços: (i) Javé ordenou que Moisés retirasse as sandálias, pois estava na presença Daquele que é santo três vezes santo. (ii) João Batista ao ter encontrado seu primo Jesus, disse-lhe que não era digno de tirar-lhe as sandálias.
Entretanto as sandálias também foram utilizadas como alegoria para advertir contra o abuso do pobre. Foi assim que o profeta Amós acusou os comerciantes de sua época por venderem gente desprotegida e inocente pelo preço de sandálias.
Mas tomemos sempre cuidado com o exterior e as aparências. Afinal, nem tudo o que parece é; e não é o hábito que faz o monge. Portanto a humildade, que é uma das principais virtudes na vida cristã deve ser buscada sempre interiormente e jamais exteriormente. Para que não caiamos na vaidade da simplicidade ou na vaidade da humildade.
Finalmente vale dizer que, se a soberba é a raiz de todos os males, a humildade é a raiz de todos os bens. Da humildade provém um coração gentil e generoso. Pronto a perdoar, a oferecer a outra face, a ser paciente e a olhar a todos com benevolência e gratidão.
* José Chadan é mestre em filosofia pela PUC-SP.
E-mail de contato: zepchadan@outlook.com
Facebook: https://www.facebook.com/jose.chadan.315
Site: https://josechadan.wixsite.com/professor/livros
Eu, particularmente quando penso em sandálias lembro-me de algumas figuras: os hebreus da antiguidade, Abraão, Moisés, os soldados romanos, Jesus de Nazaré e Francisco de Assis.
A função das sandálias é calçar os homens, ajudando-os a caminhar e peregrinar sem ferir os pés. Mas se por um lado elas conferem àquele que as usa certo ar pomposo e dignidade, por outro lado elas são símbolos de humildade.
Humildade, pois com os pés tão próximos à terra (humus, em latim), lembramo-nos que o pó levantado quando pisamos o chão não é muito diferente do pó que forma nosso próprio corpo. Isto porque a maioria dos elementos que compõem a terra que pisamos compõem também o nosso corpo. Então o pó batido das sandálias suja e se mistura com nosso corpo. Somos pó e ao pó tornaremos um dia.
Devemos então levar em conta que as sandálias carregam em si esta dupla simbologia: (i) estar vestido ao mesmo tempo em que se está despido, em humildade, (ii) apresentar-se dignamente ao mesmo tempo em que apresentamo-nos humildemente.
Todavia, se as sandálias simbolizam ao mesmo tempo dignidade e humildade, aquele que descalça totalmente os pés e toca com eles a própria terra, aproxima-se mais da humildade. "Desce", ou melhor sobe um degrau em humildade.
Todas as vezes que o texto bíblico buscou alegorias adequadas à humildade ele lançou mão dos pés descalços: (i) Javé ordenou que Moisés retirasse as sandálias, pois estava na presença Daquele que é santo três vezes santo. (ii) João Batista ao ter encontrado seu primo Jesus, disse-lhe que não era digno de tirar-lhe as sandálias.
Entretanto as sandálias também foram utilizadas como alegoria para advertir contra o abuso do pobre. Foi assim que o profeta Amós acusou os comerciantes de sua época por venderem gente desprotegida e inocente pelo preço de sandálias.
Mas tomemos sempre cuidado com o exterior e as aparências. Afinal, nem tudo o que parece é; e não é o hábito que faz o monge. Portanto a humildade, que é uma das principais virtudes na vida cristã deve ser buscada sempre interiormente e jamais exteriormente. Para que não caiamos na vaidade da simplicidade ou na vaidade da humildade.
Finalmente vale dizer que, se a soberba é a raiz de todos os males, a humildade é a raiz de todos os bens. Da humildade provém um coração gentil e generoso. Pronto a perdoar, a oferecer a outra face, a ser paciente e a olhar a todos com benevolência e gratidão.
* José Chadan é mestre em filosofia pela PUC-SP.
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dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
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