Palavra do leitor
- 18 de maio de 2009
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Repensando as bases do pentecostalismo
Existem vários caminhos entre o pentecostalismo derivado da Rua Azusa – que exalta demasiadamente o falar em outras línguas – e o pensamento de que os dons carismáticos cessaram. Podemos citar aqui algumas afirmações intermediárias que há por aí:
a) os dons carismáticos não cessaram, mas são raros atualmente;
b) os dons carismáticos não cessaram, mas profecia é pregação, e não uma capacitação sobrenatural para entregar à igreja uma mensagem de edificação, consolação e exortação vinda da parte de Deus;
c) os dons carismáticos não cessaram, mas línguas estranhas não são a única evidência do batismo com o Espírito Santo;
d) os dons carismáticos não cessaram, mas batismo com o Espírito Santo é regeneração, diferente do revestimento de poder, que se evidencia de muitas maneiras, não somente pelas línguas estranhas;
e) os dons carismáticos não cessaram, mas revelações não existem, porque a única revelação é a Palavra de Deus.
Essas são ideias que se encontram no meio caminho entre o cessacionismo e o pentecostalismo que caracteriza o chamado "Movimento Pentecostal". Há certamente outras ideias, e todas elas devem ter seus pontos de interseção, concordando entre si e contrariando-se mutuamente.
O problema é que no Brasil a Assembleia de Deus, minha denominação, trouxe um pentecostalismo que supervaloriza o falar em línguas, quando, na realidade, a glossolalia desacompanhada de interpretação é o menor de todos os dons (cf. I Co 12 a 14). Afirma-se que não é bem assim, mas a partir do momento em que o batismo com o Espírito Santo é uma experiência indicada a todos, e que o falar noutras línguas é sua evidência indispensável, logo se deduz que as línguas estranhas são um sinal procurado por aqueles que pretendem ser reconhecidos como “batizados no Espírito” - uma categoria com direitos especiais.
"Ora, se eu for batizado e não falar em línguas", pensa o pentecostal assembleiano, "não saberei se fui realmente batizado, e ninguém mais saberá, o que me impedirá, ainda, de alcançar o diaconato e a consagração a pastor". Esse raciocínio criado na seara pentecostal de matriz assembleiana – e de suas congêneres estrangeiras – faz com que a glossolalia seja enaltecida em desfavor de dons mais importantes, superiores, como a profecia e o dom de ensino.
Para não parecer pragmático, e a fim de me lançar ao argumento teológico, afirmo que considero artificial a distinção entre “línguas como sinal do batismo” e “dom de variedade de línguas”. De onde vem isso? Das narrativas de revestimento de poder em At 2, 8, 10 e 19? Ora, não se considera o momento histórico daqueles eventos? Não se entende que ali o Espírito Santo era derramado com línguas estranhas, línguas vernáculas e profecias? Será que apenas o falar em línguas evidencia o ser cheio do Espírito? Será que precisamos dessa evidência? Será que o batismo com o Espírito Santo não consiste justamente em revestimento de poder para evangelizar (Lc 24.49; At 1.5,8), dispensando, assim, quaisquer burocracias denominacionais no sentido de diferenciar “quem é batizado e quem não é”?
Aguardo um movimento pentecostal que repense o Movimento Pentecostal. Um movimento com letra minúscula, significando manifestações teológicas de moderação e reflexão crítica, tendo diante de si as Escrituras e a experiência histórica do Movimento com letra maiúscula.
De fato, é bom lembrar que o Movimento Pentecostal não patenteou o poder de Deus, não detém o monopólio do pentecostalismo. Em matéria de ação sobrenatural e carismática do Espírito Santo, não há como colocar as coisas na régua e no compasso. Quisera eu os irmãos históricos entendessem que, na verdade, o Movimento Pentecostal é muito mais racionalista do que eles imaginam, pois chegou ao ponto de supor que o poder de Deus precisa ser evidenciado de tal e qual maneira. O que é isso, de onde vem e para onde vai o vento?
Essa é minha batalha silenciosa e renhida, além de outras não menos desafiadoras e impopulares. Mas as grandes reformas começam com ideias aparentemente estapafúrdias, que depois se transformam no cotidiano das igrejas.
Mais uma coisa: talvez eu não tenha experimentado o falar em línguas para que refletisse sobre a legitimidade de exigir o fenômeno aos aspirantes a pastor.
a) os dons carismáticos não cessaram, mas são raros atualmente;
b) os dons carismáticos não cessaram, mas profecia é pregação, e não uma capacitação sobrenatural para entregar à igreja uma mensagem de edificação, consolação e exortação vinda da parte de Deus;
c) os dons carismáticos não cessaram, mas línguas estranhas não são a única evidência do batismo com o Espírito Santo;
d) os dons carismáticos não cessaram, mas batismo com o Espírito Santo é regeneração, diferente do revestimento de poder, que se evidencia de muitas maneiras, não somente pelas línguas estranhas;
e) os dons carismáticos não cessaram, mas revelações não existem, porque a única revelação é a Palavra de Deus.
Essas são ideias que se encontram no meio caminho entre o cessacionismo e o pentecostalismo que caracteriza o chamado "Movimento Pentecostal". Há certamente outras ideias, e todas elas devem ter seus pontos de interseção, concordando entre si e contrariando-se mutuamente.
O problema é que no Brasil a Assembleia de Deus, minha denominação, trouxe um pentecostalismo que supervaloriza o falar em línguas, quando, na realidade, a glossolalia desacompanhada de interpretação é o menor de todos os dons (cf. I Co 12 a 14). Afirma-se que não é bem assim, mas a partir do momento em que o batismo com o Espírito Santo é uma experiência indicada a todos, e que o falar noutras línguas é sua evidência indispensável, logo se deduz que as línguas estranhas são um sinal procurado por aqueles que pretendem ser reconhecidos como “batizados no Espírito” - uma categoria com direitos especiais.
"Ora, se eu for batizado e não falar em línguas", pensa o pentecostal assembleiano, "não saberei se fui realmente batizado, e ninguém mais saberá, o que me impedirá, ainda, de alcançar o diaconato e a consagração a pastor". Esse raciocínio criado na seara pentecostal de matriz assembleiana – e de suas congêneres estrangeiras – faz com que a glossolalia seja enaltecida em desfavor de dons mais importantes, superiores, como a profecia e o dom de ensino.
Para não parecer pragmático, e a fim de me lançar ao argumento teológico, afirmo que considero artificial a distinção entre “línguas como sinal do batismo” e “dom de variedade de línguas”. De onde vem isso? Das narrativas de revestimento de poder em At 2, 8, 10 e 19? Ora, não se considera o momento histórico daqueles eventos? Não se entende que ali o Espírito Santo era derramado com línguas estranhas, línguas vernáculas e profecias? Será que apenas o falar em línguas evidencia o ser cheio do Espírito? Será que precisamos dessa evidência? Será que o batismo com o Espírito Santo não consiste justamente em revestimento de poder para evangelizar (Lc 24.49; At 1.5,8), dispensando, assim, quaisquer burocracias denominacionais no sentido de diferenciar “quem é batizado e quem não é”?
Aguardo um movimento pentecostal que repense o Movimento Pentecostal. Um movimento com letra minúscula, significando manifestações teológicas de moderação e reflexão crítica, tendo diante de si as Escrituras e a experiência histórica do Movimento com letra maiúscula.
De fato, é bom lembrar que o Movimento Pentecostal não patenteou o poder de Deus, não detém o monopólio do pentecostalismo. Em matéria de ação sobrenatural e carismática do Espírito Santo, não há como colocar as coisas na régua e no compasso. Quisera eu os irmãos históricos entendessem que, na verdade, o Movimento Pentecostal é muito mais racionalista do que eles imaginam, pois chegou ao ponto de supor que o poder de Deus precisa ser evidenciado de tal e qual maneira. O que é isso, de onde vem e para onde vai o vento?
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