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Palavra do leitor

Relacionamentos e poder: liberdade para amar ou manipular?

Na letra da canção "Liberdade para amar", o inesquecível Sérgio Pimenta versou sobre laços de afetos inautênticos, interações artificiais e vínculos superficiais carentes da essência do genuíno amor – resultado de decepções causadoras de receios quanto a novos riscos de vulnerabilidade.

Embora tenha sido escrita há muitos anos, a referida composição musical parece bem atual, pois reflete inúmeros "relacionamentos teatrais" na vida real e relações interpessoais vazias do nosso tempo.

Por um lado, esse sintoma nas convivências e relações modernas indica "frutos de momentos de dor" vivenciados por pessoas traídas, machucadas emocionalmente ou prejudicadas gravemente. Cicatrizadas as feridas emocionais, trocaram a ingenuidade pela demasiada desconfiança.

Por outro lado, evidencia a escolha daqueles que se renderam à frieza apática ou adotaram algum tipo de maquiavelismo como mecanismo de defesa e poder, migrando da posição de "inocente" injustiçado para o de impiedoso opressor.

Nesse sentido, a sede de manipular e o medo de se expor tomaram o lugar da liberdade para amar e "externar aquilo que se é" – seja essa postura uma espécie de "pé atrás" como veto prudente contra nova experiência dolorosa, seja essa manipulação uma concreta vitória da maldade sobre uma mente que não soube ressignificar sua dor em favor de si mesmo e dos outros.

Nas obras O Príncipe (Maquiavel), A arte da Guerra (Sun Tzu), As 48 leis do poder (R. Greene), Estruturas de poder (Weber) ou mesmo Foucault em sua Microfísica do poder etc., percebemos uma realidade patente: o poder permeia todas as relações sociais e a natureza humana tem sede por domínio e autoridade.

No entanto, histórias como a de Mahatma Gandhi e M.Luther King ilustram outro tipo de poder usado a serviço do bem.

Biografia idílica à parte, Gandhi, mero corcunda descalço e desarmado, fazia a realeza britânica tremer. Luther King, por sua vez, só de iniciar um discurso pacífico arregimentava multidões pelo poder da sua oratória e caráter. Gandhi influenciou significativamente na independência da Índia e Luther King na conquista de direitos civis dos negros norte-americanos.

A sensação de ter o poder nas mãos e estar no comando favorece uma das piores ilusões do ser humano: imaginar-se divino. Essa presunção me faz lembrar Seymour Trotter dialogando com Ernest Lasch na obra Mentiras no divã (Irvin Yalom): "[...] fomos socialmente construídos para ser adorados". Neste insano afã, não só quando os fins tentam justificar os meios, Thomas Hobbes pode ser confirmado: "O homem é o lobo do homem".

Mas se o tema em questão aponta tanto para o egoísmo e soberba quanto para a tentativa de autoproteção, nota-se também em todas as esferas dos vínculos sociais (das relações hierárquicas à "arte da conquista amorosa") necessária dose de cautela aliada a inevitáveis regras, que em razão das fragilidades e riscos das relações, exigem limites bem estabelecidos.

Nesse contexto, excesso de formalidades, joguinhos e encenação são trejeitos e vícios comportamentais que parecem estar entranhados no DNA dessa geração. Logo, disputas quase latentes pela ocupação ou recusa da posição de senhor ou servo, vassalo ou suserano, mestre ou discípulo, fã ou ídolo etc., em dependência emocional, hierarquia afetiva ou subalternidade se tornam neuras perceptíveis.

Quando, por exemplo, o rapazinho segura dentro do peito sua paixão pela bonitinha debochada e esnobe para não ser "trouxa" e tornar-se desinteressante ou quando uma experiente psicanalista afirma que muitas mulheres preferem se casar com um homem que não amam (mas será dominado por elas) do que casar com aquele que amam ou amaram (mas não conseguiram domá-lo), isso exemplifica o quanto parte da humanidade adoeceu e a "frieza pragmática" num "mundo louco" aparenta ser uma opção mais sensata que "externar aquilo que se é".

Como num verdadeiro cenário de guerra, esta só acaba quando se aniquila ou captura o inimigo – ou com ele se faz uma aliança. Assim, faltam teóricos do poder para superar os estratagemas das relações humanas atuais, pois se o jogo de "se fazer de difícil" ou "posar de indisponível" não é garantia de proteção e controle da situação, o mesmo pode ser dito em relação a ocultar os sentimentos para não ser lesado.

Apesar disso, triste é reconhecer que nosso tempo comprova que estamos em transição de "relacionamentos de alô" (ou relacionamentos de "olá") para interações formais de "Oks".

No entanto, sabemos que quem finge não é autêntico, apenas artista ou personagem, mas amar é algo inseparável da autenticidade, sem precisar ingenuidade. Assim, a advertência de Jesus em outro contexto vale também para as modernas relações interpessoais: Sede símplices como as pombas e prudentes como as serpentes.

Em nossa mente, vencerá a autenticidade e poder do amor ou a falsidade e amor ao poder? Essa escolha definirá de quem será nosso exemplo e adoração. Mais ainda: definirá nosso caráter, liberdade ou escravidão.
Alagoinhas - BA
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