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Palavra do leitor

Relacionamentos, bençãos ambíguas

O ser humano é um ser relacional, nunca se sentirá completo em si mesmo, não porque lhe falta um pedaço, mas porque lhe falta a capacidade de se ver em si mesmo. Ainda que precisando de se ver no outro para se autodefinir, é único. Não há duas pessoas iguais. Por isso os relacionamentos são ambíguos. Nos relacionamentos buscamos tanto o aniquilamento da alteridade, quanto o que nos identifica como indivíduos.

O desejo egoísta tende à aniquilação do outro, o amor altruísta à preservação. O “desejo é vontade de consumir. Absorver, devorar, ingerir e digerir – aniquilar [...] O amor, por outro lado, é a vontade de cuidar e de preservar” (BAUMAN, 2004, p. 12-13). Assim, os relacionamentos transitam entre a construção e desconstrução do indivíduo, entre a irritação e o prazer.

Por sermos individualistas, os relacionamentos são bênçãos ambíguas, oscilam entre sonhos e pesadelos. O consumismo transforma os relacionamentos em uso do outro. Por isso os relacionamentos, prazerosos no início, acabam se tornando entediantes com o tempo. Assim como um objeto desenhado para o consumo não pode ser resistente ao tempo, um relacionamento em que o desejo é a tônica não pode durar muito tempo.

Em uma sociedade consumista, o tempo corrói os relacionamentos. As relações, transformadas em objeto de desejo, quando não descartadas, se tornam entulhos, incômodos a novos relacionamentos. “Em maior ou menor grau, o projeto do eu vai sendo traduzido como posse de bens desejados e a perseguição de estilos de vida artificialmente criados” (GIDDENS, 2002, p. 183).

No processo de utilização do outro, os relacionamentos são convertidos em conexões. Numa conexão, a convivência entre duas pessoas é mantida enquanto há o interesse de mantê-la. Não é concebível que uma conexão seja mantida sem que haja querer. Assim funcionam as redes sociais, excluem-se ou adicionam-se “amigos” como se fossem pontos de conexão, apenas isso. Sem compromisso, o que chamamos de relacionamentos são conexões frágeis que se rompem com a mesma facilidade com que se formaram. A desconexão de uma pessoa está a um clique do mouse do computador (BAUMAN, 2004).

Relacionar-se exige engajamento, compromisso, tempo gasto em situações pouco produtivas. Um relacionamento envolve decisões em que há perdas, dor e irritação. O compromisso, em um relacionamento dispendioso, é a única justificativa para sua existência. “A pessoa comprometida está preparada para aceitar os riscos que o sacrifício de outras opções potenciais envolve” (GEDDENS, 2002, p. 91).

Relacionamentos, em muitas situações são mantidos pela inflexibilidade de uma decisão de responsabilidade. Mas isso não implica que, mesmo um relacionamento em que o prazer se dissolve, não possa haver realização e alegria. A realização em um relacionamento dispendioso é diretamente proporcional ao amor que se empenha nele. “No amor, o eu é, pedaço por pedaço, transplantado para o mundo. O eu que ama se expande doando-se ao objeto amado” (BAUMAN, 2004, p. 13).

Os relacionamentos exigem doação, não apenas de parte do tempo, mas, também, de desejos, de sonhos, de projetos. Quando um relacionamento se torna mais importante que projetos pessoais, chamamos isso de amor. O sacrifício de Cristo é o maior paradigma de amor. Nesse sacrifício, Deus foi às últimas consequências de suas escolhas, deu-se completamente pelo relacionamento com o ser humano (BÍBLIA, João 3.16).

Em um relacionamento em que pessoas estão atreladas às outras pelo elo do amor, é a decisão, e não a obrigatoriedade, que sustenta o relacionamento. Uma decisão é sempre voluntária; ainda que seja, muitas vezes, indesejada; nunca é coagida. Não é possível haver amor sem que a voluntariedade e o compromisso sejam a base do relacionamento.

A existência do outro só é possível quando há amor. Sem o amor, não há o outro, não há relacionamentos. Em um mundo sem amor, cada indivíduo é, potencialmente, uma peça a ser usada para satisfazer desejos. No amor o indivíduo se dispõe a diminuir-se, a esvaziar-se para que o outro possa existir. Paulo, ao descrever o comportamento de Deus em Cristo, diz que ele, Cristo, esvaziou-se voluntariamente, diminuiu-se para que pudesse amar os seres humanos e relacionar-se com eles (BÍBLIA, Filipenses 2). É esse amor voluntário de Deus que possibilita ao ser humano sua existência.

Pela pessoalidade de cada ser humano, as relações são tensas e, quando não descambam para o consumo do outro, são sustentadas por atos de sacrifícios. O amor é o que sustenta os relacionamentos. No amor há entrega, há doação voluntária, há humildade e coragem de arriscar tudo. Sem o amor, os relacionamentos são efêmeros e de curta duração – duram enquanto for prazeroso. Sem o amor, não há compromisso, não há sacrifício e não há cuidados, apenas a fome insaciável pelo que o outro pode oferecer.


BAUMAN, Zygmunt. “Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos”. RJ: Editora Jorge Zohar, 2004.
GIDDENS, Anthony. “Modernidade e Identidade”. RJ: Jorge Zohar, 2004.
Palmas - TO
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