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Palavra do leitor

Recall de gente

As pessoas estão acostumadas à palavra inglesa recall. Significa o recolhimento de produtos defeituosos por um fabricante, em sentido literal. Também traduz-se por lembrança, chamar de volta. Antes, quando se ouvia a palavra, geralmente estava ligada a carros com defeitos. Em casos assim, as empresas oferecem o conserto gratuito, a reposição da peça defeituosa ou, no limite, a substituição do produto por outro. A prática espalhou-se por outros setores do mercado. Já se viu recall de brinquedos, de remédio e por aí afora. A palavra também é usada na política. Não, ela não indica que políticos não funcionais sejam recolhidos, a não ser que você vote contra eles. 

A conversa zanzava por este tema e ela ouvia sem fazer qualquer intervenção, até que saiu-se com essa: “Que bom seria se fosse possível fazer recall de gente, não é?” Os demais ficaram calados. Talvez imaginando que concordavam por si mesmos ou por outros com quem conviviam. Bem que estavam precisando substituir umas peças de caráter, uns tantos parafusos de um humor que não funcionava, umas arruelas de sinceridade e, até mesmo, algum eixo cerebral deslocado. A solução foi rir para disfarçar e deixar a circunspeta participante lá com seus botões, ensimesmada. 

Consertar um mal feito é o mínimo que alguém pode fazer, seja empresa ou pessoa. O danado é que, no que diz respeito a ser humano, fora as cirurgias corretivas e embelezadoras disponíveis, não existe solução fácil para a insatisfação pessoal ou com o outro quando se julga que, em determinadas áreas, não se funciona como seria o desejável. Erra-se no mesmo ponto sempre. Fracassa-se nas promessas para si e para os outros. Muda-se de opinião ao sabor da circunstância ou vai-se de roldão no que é oferecido no mercado. Tropeça-se nos próprios pés. Os caminhos, como se vê, são tortuosos e nem sempre o resultado é algo agradável e a lista de “defeitos” é enorme. É admirável que o sujeito ainda funcione. 

Há, porém, uma fixação de que se alguém deixa armadura e máscara mais ou menos lustradas, o resto se ajeita. Exemplo grotesco disso é que recentemente um casal britânico causou polêmica por querer fazer plástica na filha com down de apenas 2 anos.* Os pais defendem que a filha se sentirá mais aceita na sociedade sem aquele rosto característico. Diante da reação das pessoas, minimizaram. Querem apenas garantir este direito à filha. A intervenção cirúrgica não seria para já, apenas quando completasse 18 anos, caso fosse discriminada pela aparência.

A questão toda está no fato de que a maioria de nós recusa-se conhecer quem se é, mas agimos como se soubéssemos. Eu é que sei de mim, afirmamos. Será? O saber-se verdadeiro é o primeiro passo para a aceitação, que não precisa ser exatamente resignada. O que não pode – nunca – é achar que uma maquiagem resolve a questão. A gente trabalha sempre com a versão de nós. Às vezes por prudência, noutras por conveniência. Somos construídos por forças que começaram a nos moldar lá atrás, ainda pequenos. O processo seguiu-se na adolescência – sabe-se Deus com que dificuldade – e avançou vida adulta adentro. No plano social, entretanto, muitos de nós somos frutos de uma marca ou da junção de várias. “Só visto diesel.” “Relógio para mim tem que ser Tag Heuer.” E há os que, nesta maioria, aceitem usar cópias piratas. Cometem um erro duplo de aparência falsa. Acrescente-se ainda ao caldeirão as marcas culturais que identificam modos e gostos.

As “peças” estão meio tortas, apresentam defeitos de fabricação ou mal uso? Lo siento, não dá para reclamar com o fabricante. Sei, tem gente fazendo gambiarra para funcionar, tomam aditivos para pegar no tranco e produzem mundinhos cor-de-rosa para atenuar aquilo que seus olhos vêem, mas que mascaram com aqueles óculos de lentes coloridas. Anestesiam-se com combustíveis adulterados dos quais se tornam, em pouco tempo, dependentes, e tem como resultante uma busca desenfreada, porque o tal substituto se esfarinha com o uso. Sei também que há os que colocam Deus na equação arrumando uma bem conformada tolice de que foi Ele quem quis assim. Esta “santa solução” deixa duas saídas: 1. O sujeito aceita um Deus mesquinho e injusto como patrão e vive morrendo de medo dele amanhecer com o pé esquerdo e lhe tascar uma porrada só porque, talvez, esteja entediado; 2. O sujeito demite Deus de sua existência, porque com este que é “culpado” de tudo não dá para caminhar. Menos ainda servir, adorar e coisas do tipo. 

Paulo, escrevendo aos Romanos, questiona. Seu tema é a soberania de Deus que, obviamente, não se confunde com capricho. Lá vai: “Mas quem é você, meu amigo, para discutir com Deus? Será que um pote de barro pode perguntar a quem o fez: ‘Por que você me fez assim?’” (Rm 9.20 – NTLH)

Perceba que o fazer de determinado modo não implica “defeitos” (sugiro ler o contexto). Você e eu somos o que somos. Não adianta chiar. Quer aceitemos teoria evolucionária ou divina em nossa arquitetura, não há como discutir nem com um nem com o outro. Aceitar tudo bovinamente, também não me parece uma boa saída. No segundo caso, a Bíblia indica que o defeito é exatamente porque o combustível que se usa, que anima a vida pessoal e intransferível de cada um, chama-se relacionamento com Deus, logo, o “conserto” implica numa volta a Ele. Já de logo aviso que também isso não acontece num passe de mágica, como certas pregações ufanistas vendem. Ou alguém, só por converter-se, já entende tudo de si e de Deus também? Difícil! 

Andar com Deus é, portanto, ajustar-se à sua vontade, aprendendo a entendê-la no caminhar. E Ele ainda nos oferta uma lambuja. Dá-nos o Espírito Santo que nos ajuda neste reaprender a ser gente. Suspeito que Ele (Deus) não gosta de trabalhar no atacado como os modistas-capitalistas que fazem uma roupa e nos convencem a nos empacotarmos nela e, se possível, nos sentir a última garrafa d’água no deserto.

Se você é cristão, esqueça qualquer recall, quem entende disso é o pessoal da reencarnação. Eles, sim, curtem reciclagem de almas, nós sabemos que é ressurreição. Há quem defenda que estas duas posições são concordantes, há controvérsias. E aí, como ficamos? Não somos os reis da cocada preta porque temos nossa religião se ainda não se aprendeu que, no Evangelho, no que diz respeito à auto-imagem, menos é mais. Imagine aquela gente que tem dinheiro e pode andar na última e acha que faz parte de uma casta elevada. Quer ver uma coisa? Sugiro que na próxima situação desagradável com alguém – tente descobrir – grande parte de sua chateação não é nem tanto pelo erro do outro que possivelmente lhe causou algum dano, é porque você se acha mais do que deve. Entendo, nem sempre dá tempo de pensar. Escorrego nisso direto. Mas não se preocupe, há sempre o caminho do pedido de perdão, inclusive a Deus. Aí já se vê que você (e eu) está começando a aprender.

* BBCBrasil 10/03/08
São Luís - MA
Textos publicados: 49 [ver]

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