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Palavra do leitor

Quo vadis?

O que diríamos se Jesus cruzasse hoje nosso caminho e nos perguntasse: Onde você está indo? Talvez, de imediato, e sem muita reflexão, responderíamos que estamos indo para o trabalho, ou para casa assistir à família, ou ao médico fazer um checkup, ou visitar um parente ou amigo, fazer compras, indo à igreja para uma reunião, preparando-se para uma viagem, enfim, algo importante ou talvez inadiável do nosso ponto de vista. Todos cumprindo uma agenda interminável. Ou quem sabe, devido à pressa ou à insensibilidade típicas de nossa era moderna, digital e hedonista, talvez nem sequer déssemos conta que Aquele era o Cristo, o mesmo que morrera numa cruz no Gólgota em Jerusalém, cumprindo a agenda do Pai. Como aqueles discípulos do vilarejo de Emaús, conforme descrito por Lucas, é bem provável que nossos olhos estivessem vendados ou, pior, que nosso coração estivesse obstruído, cauterizado, necessitando de uma intervenção cirúrgica espiritual para diagnosticar e curar possíveis anomalias.

A tradição cristã-romana conta-nos que, ao fugir de uma provável crucificação e perseguição em Roma, o apóstolo Pedro teria encontrado a Jesus ressuscitado e pergunta-lhe: "Quo vadis?" Teria Jesus respondido: "Romam vado iterum crucifigi" (Vou a Roma para ser crucificado de novo). Prontamente Pedro entende a mensagem e ganha coragem para continuar seu ministério e acabaria se tornando um dos mártires do cristianismo e um dos grandes líderes daquela nova religião que colocaria o Império de então de cabeça para baixo. Não sabemos se, de fato, isso ocorreu, mas a verdade é que muitas vezes em nossas vidas, assim como Pedro, estamos andando na direção errada, oposta. Ao invés de irmos a Roma, um símbolo do reino humano, proclamarmos e vivermos a mensagem salvadora de Cristo, o Deus que tangenciou nossa história, estamos fugindo da nossa missão buscando salvar a nós mesmos.

Evangelho é movimento em direção ao outro. Ele deve nos impactar, incomodar e nos convidar a sairmos das quatro paredes da "nossa Palestina" e irmos em direção a "Judeia, Samaria e até os confins do mundo". Diante da última comissão, do último comando de Jesus, só temos duas opções: ou o ignoramos ou o obedecemos. Não há como sermos meio-termo. Se formos mornos, seremos, indubitavelmente, vomitados (Ap 3.16). Ao lermos os Evangelhos, essa pergunta nos é feita a cada página, a cada ato redentor, a cada olhar comprometedor e amoroso de Jesus. Ela deve nos fazer refletir sobre o que estamos fazendo com nossas vidas, que sonhos temos sonhado, a que ventos estamos seguindo, pelo que ansiamos, pelo que nos preocupamos, com que gastamos nosso tempo, dinheiro, energia, dons, talentos, pois, onde está nosso coração, aí está nosso tesouro.

Mais que uma pergunta, "Quo vadis?" é um convite a (nos)transformar, um convite a uma vida com propósitos, não os nossos, mas os Dele, "Domini nostri et Salvatoris".
Brasília - DF
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