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Palavra do leitor

Quero uma esperança sem vergonha

‘’A manifestação da Graça abre espaço para o encontro dos inaceitáveis.’’

As vésperas da Copa do Mundo, observo a mídia e as alas envolvidas na organização do evento num desdobrar de estratégias e diretrizes a fim de atenuar as outras nuances do país sede.

Tristemente, faço alusão as nuances de uma sociedade carente de uma cidadania plena e fundamentada em organismos legais propícios a conceder a participação efetiva de seus cidadãos, por mais idílico possa ser, na constituição de uma democracia consistente.

Os episódios de superfaturamento nas obras dos estádios, de uma gestão duvidosa na aplicabilidade dos recursos, quer queiram ou não, sejam de maneira profunda ou superficial, acarretou e tem acarretado um inconformismo.

Sem sombra de dúvida, as manifestações vão pipocar, do iapo ao xuí, independentemente de haver uma linha de intenção político partidária ou não. Não por menos, quem utiliza o transporte público, numa metrópole, caso de São Paulo, externa suas indagações sobre a falácia de consideráveis mudanças, ao qual tem sido veiculado. Em meio a tudo isso, as eleições batem as portas, situação vira oposição e oposição tenta se redefinir e miríades de promessas serão lançadas, a torto e a direita.

Evidentemente, os próximos capítulos mostraram os encontros e colisões de ecos de contestação, diante de vergonhosas práticas e posturas dos responsáveis pela condução das decisões públicas. É bem verdade, em parte somos cúmplices, quando aceitamos, de bom grado, uma espécie de direito divino dos reis na política e também nas dimensões eclesiásticas, ao qual pessoas assumem e se perpetuam, através de seus descendentes nas lideranças institucionais.

Por enquanto, atenho – me ao texto de Eclesiastes 04.01 e me pergunto, como já fiz em outros eventos:

- Cadê a esperança?

Vou adiante, porque não falamos mais nada dela?

Acredito, piamente, sem arroubos estúpidos, que carecemos de uma esperança com decência, com coragem para enfrentar as sérias e crônicas ambigüidades, tensões e anomalias; ou seja, uma esperança com a capacidade para ir adiante, chorar, ser sensível aos pedaços do dia a dia, não fazer do abatido (uma justificativa para uma pretensa justificativa).

Em outras palavras, a esperança percebida no nascer de uma vida, no alento diante da perda, de não ter respostas para tudo, na condição de romper com a mais maléfica da subjugação demoníaca, ou seja, fazer do próximo e de nós mesmos numa objeto e por ai vai.

Eis ai e aqui um cartão de palavras desusadas, vista como conversa pra boi dormir, lorota, perda de tempo. Afinal de contas, tudo se resume a uma vida reduzida a cultura dos bens de consumo, das trocas imediatas, da obscuridade do contato, do olhara, de um humanismo imbuído de sentido, de destino e de motivo de ser e existir em comunidade, em convivência e em interdependência.

Ultimamente, deparo – me também com uma delegação das mazelas as potestades, aos sistema e subsistemas, mas nos esquecemos de nosso papel, de nossa, cada vez maior, rejeição a esperança que nos faz aportar no serviço ao próximo.

Atentemos para as palavras de Jesus, em MATEUS 05, e sua ênfase ao ouvir, antes da tagarelice frívola, a uma espiritualidade criativa e aberta a acolher e aceitar, a um humanismo personificado no ide por todo o mundo e apregoai o viver e não uma cartilha triunfalistas, ao qual dita um fé exclusivista, individualista, expansionista e indiferente ao próximo.

Enfim, a esperança sem vergonha inclinada a estender as mãos para uma mulher prestes a ser apedrejada; a não lançar nenhum pentagrama do certo e justo, quando diante de uma mulher samaritana; a suspender todas as segregações e xenofobias, diante do clamor de uma mulher sírio – fenícia e outros cenários e contextos de gente com suas histórias.

Arrisco a dizer, o quanto demando dessa esperança sem vergonha, dessa Crucificação desvencilhada dos pudores do farisaísmo, alforriada das ideologias baratas.
São Paulo - SP
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