Quero sim: Um Cristo menos mestre, deus, santo, perfeito e mais gente!

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Quero sim: Um Cristo menos mestre, deus, santo, perfeito e mais gente!



‘’A Graça é a decisão, única e certeira, em favor da vida, do próximo e, enfim, do ser humano. ’’



A trajetória de Cristo desembocou na vida, com todas suas contradições e contrariedades. O esperado Messias, conforme alentavam os judeus, adentrou num cenário marcado pela desfiguração de um povo subjugado pelo caudilho ditatorial do império romano.

Muito embora ainda houvesse o cultivar de todo um emaranhado de ritos envoltos ao judaísmo, a realidade crua e nua era muito diferente. Em meio a todas as questões de uma perda hemorrágica de toda e qualquer resistência, Cristo caminha nas ruas, nos templos, nas casas, em todas as variadas e multifacetadas manifestações humanas. Para muitos, mais um maluco beleza, mais um megalomaníaco, mais um a toa, mais um a proclamar uma resistência inócua e tola. Já para outros, a oportunidade de uma insurreição que pudesse proporcionar o erguer de um novo Israel.

Em direção oposta, os evangelhos demonstram um Cristo gente como a gente, de lágrimas, de risos, de afetos, de momentos de tensão e indignação e, indiscutivelmente, menos ocupado e preocupado com as prédicas, as teses infindáveis sobre os manuscritos da torá, sobre este ou aquele pensamento.

Simplesmente, desceu as ladeiras da vida, subiu no barco de pescadores, estendeu a mão para os condenados a exclusão, vistos como párias (os leprosos, as mulher adultera, a mulher samaritana), colocou aqueles considerados como escórias (no mesmo patamar dos escolhidos) e por ai foi, como um carpinteiro de almas, ao qual possibilitou uma espiritualidade que, somente, tem sentido, quando me leva ao outro e abre divisas para nos tornarmos em próximos, que apresenta a Graça além das fronteiras do legalismo, rompe e irrompe com um Criador escondido nas quatro paredes, expõe uma transcendência que serve, que anima, que motiva, que transforma, que restaura e reconcilia. Sem sombra de dúvida, nos chama para a vida, para participarmos e confrontarmos nossos caminhos, não buscou perfeito e muito menos santos, esteve com todos e não execrou o mundo.

Aliás, sobrepujou as alas proféticas e propôs o resgate da beleza e da bondade, ao qual pode ser conseguida, ao lado de gente, de pessoas, de seres humanos, do eu, do você, do nós. Evidentemente, muitos o reconheciam como bom mestre, mesmo assim, insistiu por ser a encarnação de Deus por nós, sem as chancelas da cor, da etnia, dos aspectos socioeconômicos, dos idealismos políticos e culturais, das linhas teológicas, ao qual servem para nos lançar em abismos.

Em tempos de uma voraz ênfase a personalidades carismáticas, arrisco pelo evangelho mais misericordioso, constituído por uma justiça ancorada a aproximar as pessoas, moldado num resgate da vida, pelo qual ser cheio do Espírito Santo implica tornar toda a capacidade de inovação e criação, como aberturas de esperança e superação das mazelas que nos afligem e assolam.

Por fim, quero correr atrás de um Cristo menos mestre, menos doutor, menos erudito, menos adornado por uma auréola e mais compromissado em reconciliar a todos e a tudo.

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Opinião do leitor