Palavra do leitor
- 02 de março de 2019
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Que tipo de espiritualidade sua igreja oferece?
"Que tipo de espiritualidade sua igreja oferece?". Quase ninguém faz esta pergunta ao escolher uma comunidade ou igreja para frequentar, porém, ao matricularmos um filho na escola queremos logo saber que tipo de educação lhe darão ali; ou, ao irmos até uma academia de ginástica perguntamos como são os exercícios e que músculos do corpo serão privilegiados, e como serão os períodos de treino e descanso. Sendo assim, ao frequentarmos uma igreja deveríamos perguntar ao pastor ou presbítero: que tipo de espiritualidade sua igreja oferece?
Perguntar claro, com o devido respeito. Porque existem basicamente duas formas de oferecer espiritualidade.
A primeira e mais comum é o que chamo de "espiritualidade de cabresto". É quando a igreja ou o lugar que se frequenta é cheio de regras e doutrinas que impedem a espontaneidade própria da vida. E principalmente, quando lhe impedem de pensar livremente e segundo sua própria consciência.
Richard Sibbes, um importante teólogo anglicano dizia que a consciência é o juiz que Deus colocou em nós. Ora, se Deus já colocou dentro de nós um juiz, não precisamos de pastores nem ministros dizendo o que devemos fazer ou no que devemos acreditar. Porque o juíz de Deus em nós, isto é, nossa própria consciência, já está muito capacidade e aparamentada para dizer-nos o que fazer e no que acreditar. E, se porventura deslizarmos, ela também nos acusará e nos apontará o caminho de conversão (lembre aqui da imagem de um carro fazendo a conversão, ok? O juiz acenará apenas com uma singela placa de "vire esta esquina"; conversão = carro fazendo a conversão e mudando a rota).
Oferecer uma espiritualidade assim, de cabresto, é tratar as pessoas como crianças. Como se não fossem capazes por si mesmas de decidir o que é certo, no que acreditar e o que fazer com suas vidas. Uma espiritualidade assim infantiliza e poda o crescimento pessoal, emocional e espiritual das pessoas.
Porém, outra forma de espiritualidade que pode ser oferecida nas igrejas, mas que daria mais trabalho aos ministros por causa do controle, é o que chamo de "espiritualidade autônoma". Uma espiritualidade autônoma é construída no diálogo franco e honesto. Na livre construção das ideias e crenças. É quando os ministros e presbíteros ao invés de impor aos fiéis um jeito rígido e único de pensar e crer, os deixam livres para pensar e concluir tudo a seu modo. Ficam ali, apenas para orientar, mas jamais para dizer qual é a maneira certa de pensar ou crer. Isto vai de encontro ao ensino de Martinho Lutero que dizia não ser correto nem seguro ir contra a própria consciência; afirmando também que um simples leigo armado das Escrituras têm mais autoridade que o Papa sem ela (cito de cabeça). E, por papa, podemos dizer também presbíteros, pastores, bispos, apóstolos, etc.
Um ensino assim, ajuda a pensar e refletir. Ajuda a ler a Bíblia com espírito crítico, sem medo de fazer-lhe perguntas. Mas quais perguntas faríamos à Bíblia? Ora, as nossas perguntas. Não como se a Bíblia fosse um livro intocável, porém e justamente por ser Ela revelação de Deus, podemos nos sentir livres para perguntar-lhe várias coisas que nos incomodam hoje em dia. Perguntar sobre dinheiro, sexo, homoafetividade, trans, política, poder, renúncia, justiça, liberdade, amor e tudo o mais que quisermos.
Esta forma de espiritualidade é o que chamo de uma "espiritualidade autônoma", na qual as pessoas crescem em conhecimento e também como pessoas mesmo. Elas crescem em autoconhecimento, crescem emocionalmente (pois tem a chance de perceberem-se ao invés de tolherem-se com medo do castigo pastoral), e mesmo que errem, tem a promessa da Graça e do Amor incondicional de Deus.
Ao adentrar os átrios de uma igreja pergunte então "que tipo de espiritualidade ela oferece?". E cuidado com os ensinos e espiritualidades que ao invés de outorgar autonomia, tolhem e infantilizam você.
* Texto publicado originalmente em: http://escoladocristianismo.blogspot.com/2019/02/que-tipo-de-espiritualidade-sua-igreja.html
** JOSÉ CHADAN é mestre e bacharel com licenciatura em filosofia. Também é licenciado em história. Lecionou no ensino público do Estado de São Paulo durante 5 anos. É autor de livros e ensaios diversos. Escreve desde artigos acadêmicos a textos voltados para o grande público; os quais são periodicamente divulgados em revistas, blogs na internet e Facebook.
Perguntar claro, com o devido respeito. Porque existem basicamente duas formas de oferecer espiritualidade.
A primeira e mais comum é o que chamo de "espiritualidade de cabresto". É quando a igreja ou o lugar que se frequenta é cheio de regras e doutrinas que impedem a espontaneidade própria da vida. E principalmente, quando lhe impedem de pensar livremente e segundo sua própria consciência.
Richard Sibbes, um importante teólogo anglicano dizia que a consciência é o juiz que Deus colocou em nós. Ora, se Deus já colocou dentro de nós um juiz, não precisamos de pastores nem ministros dizendo o que devemos fazer ou no que devemos acreditar. Porque o juíz de Deus em nós, isto é, nossa própria consciência, já está muito capacidade e aparamentada para dizer-nos o que fazer e no que acreditar. E, se porventura deslizarmos, ela também nos acusará e nos apontará o caminho de conversão (lembre aqui da imagem de um carro fazendo a conversão, ok? O juiz acenará apenas com uma singela placa de "vire esta esquina"; conversão = carro fazendo a conversão e mudando a rota).
Oferecer uma espiritualidade assim, de cabresto, é tratar as pessoas como crianças. Como se não fossem capazes por si mesmas de decidir o que é certo, no que acreditar e o que fazer com suas vidas. Uma espiritualidade assim infantiliza e poda o crescimento pessoal, emocional e espiritual das pessoas.
Porém, outra forma de espiritualidade que pode ser oferecida nas igrejas, mas que daria mais trabalho aos ministros por causa do controle, é o que chamo de "espiritualidade autônoma". Uma espiritualidade autônoma é construída no diálogo franco e honesto. Na livre construção das ideias e crenças. É quando os ministros e presbíteros ao invés de impor aos fiéis um jeito rígido e único de pensar e crer, os deixam livres para pensar e concluir tudo a seu modo. Ficam ali, apenas para orientar, mas jamais para dizer qual é a maneira certa de pensar ou crer. Isto vai de encontro ao ensino de Martinho Lutero que dizia não ser correto nem seguro ir contra a própria consciência; afirmando também que um simples leigo armado das Escrituras têm mais autoridade que o Papa sem ela (cito de cabeça). E, por papa, podemos dizer também presbíteros, pastores, bispos, apóstolos, etc.
Um ensino assim, ajuda a pensar e refletir. Ajuda a ler a Bíblia com espírito crítico, sem medo de fazer-lhe perguntas. Mas quais perguntas faríamos à Bíblia? Ora, as nossas perguntas. Não como se a Bíblia fosse um livro intocável, porém e justamente por ser Ela revelação de Deus, podemos nos sentir livres para perguntar-lhe várias coisas que nos incomodam hoje em dia. Perguntar sobre dinheiro, sexo, homoafetividade, trans, política, poder, renúncia, justiça, liberdade, amor e tudo o mais que quisermos.
Esta forma de espiritualidade é o que chamo de uma "espiritualidade autônoma", na qual as pessoas crescem em conhecimento e também como pessoas mesmo. Elas crescem em autoconhecimento, crescem emocionalmente (pois tem a chance de perceberem-se ao invés de tolherem-se com medo do castigo pastoral), e mesmo que errem, tem a promessa da Graça e do Amor incondicional de Deus.
Ao adentrar os átrios de uma igreja pergunte então "que tipo de espiritualidade ela oferece?". E cuidado com os ensinos e espiritualidades que ao invés de outorgar autonomia, tolhem e infantilizam você.
* Texto publicado originalmente em: http://escoladocristianismo.blogspot.com/2019/02/que-tipo-de-espiritualidade-sua-igreja.html
** JOSÉ CHADAN é mestre e bacharel com licenciatura em filosofia. Também é licenciado em história. Lecionou no ensino público do Estado de São Paulo durante 5 anos. É autor de livros e ensaios diversos. Escreve desde artigos acadêmicos a textos voltados para o grande público; os quais são periodicamente divulgados em revistas, blogs na internet e Facebook.
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dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
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