Palavra do leitor
- 06 de setembro de 2011
- Visualizações: 1314
- 2 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
Que tal um pouco de pessimismo para alegrar a vida
Enquanto aguardava assistia alguns minutos o programa de Ana Maria Braga. Se não é lixo, serve, no máximo, como algo reciclável e ruim.
Espalha-se cada vez mais (inclusive aqui na ULTIMATO) artigos que 'vendem' a ideia de que há uma decisão acertada para cada desafio na vida promovendo o elogio fácil, a proeza destemida, o valor das virtudes e a felicidade geral.
O Botelho, o do circo, é um exemplo. Com a companhia lá no picadeiro e a caixinha de surpresas, cria-se uma geração de frouxos teológicos e virtuosos de acessórios.
Veja o caso do global Gianecchini, com câncer. A imagem é de que os problemas mais complicados e incontroláveis da vida podem ser transferidos para uma auto- realização. Ou o tradicional bordão do ‘vai dar tudo certo!’.
“Tristeza é conhecimento”, escreveu Lorde Byron, “aquele que muito conhece pranteia mais profundamente. A árvore do conhecimento não é a árvore da vida”, emendou. Seremos mais felizes se formos (um pouco) pessimistas, digo eu.
Li Byron e sugiro que mirem no final da frase que cito dele: a árvore do conhecimento não é panaceia para a felicidade. Isto é, conhecimento não necessariamente e sempre trás felicidade!
Assiste-se cada vez mais nas chamadas igrejas ‘fast-food’ (inclusive tradicionais, por pura ausência de opção) a ideia de que o Cristianismo é a variante da bonança em meio à miséria, quando na verdade ele enfatiza o lado negro da existência humana, também (Pondé).
ULTIMATO publicou algo sobre Pascal. Escolheram, a meu juízo, o lado errado desse filósofo. Deveriam ter abordado suas alfinetadas à ideia de que a natureza humana não é um mar de rosas e bonitinha como uma ‘Surfistinha’ recauchutada!
Antes de chegar ao artigo de Byron na VEJA, passa-se por propagandas de carros, condomínios, o governo mostrando um Brasil próximo da Suíça, mulheres bonitas trabalhadas em fotoshops. Agora a propaganda do governo oferece uma mão como suprema alegria!
Qual o problema em ser positivo? Nos distúrbios em Londres, Theodore Dalrymple achou que se deveria esquecer explicações sociológicas e reconheceu que se criou foi uma geração que recebe papinha do governo até aos 80 anos.
O Brasil segue no mesmo ritmo quando os nórdicos já descobriram que o Estado social é em grande medida uma panaceia! Aqui ainda pensamos em ‘bolsas’: bolsa-escola, auxílio-gás, bolsa-alimentação, bolsa-cultura, bolsa-atleta, e por aí vai.
Todo presidiário com filhos tem direito a uma bolsa de R$ 798,30 por filho, vez que ele não pode trabalhar para sustenta-los por estar preso. Mais que um salário mínimo que muita gente por aí rala pra conseguir e manter uma família inteira.
Ou seja, com 5 filhos, além de comer e beber nas costas de quem trabalha e paga impostos, ainda tem direito a receber auxílio reclusão de R$ 3.991,50 da Previdência Social!
Criamos enormes expectativas: carreiras, salários, igrejas, partidos, etc., e eis que se tornam fonte de angústia e raiva quando a coisa não dá certo.
Essa grandeza de expectativas e felicidades cria uma tensão enorme diante das frustrações da vida, agravada mais ainda com a concepção moderna de felicidade a todo custo.
Errado? Não, a tristeza, e o viver com ela, dor inclusive, faz parte da nossa estrutura como seres humanos e deve ser bem vinda.
Byron lembra que a árvore do conhecimento é aquela que leva a prantear a dor mais profundamente. A árvore do conhecimento não é a árvore da felicidade, diz Lorde Byron. O Livro de Eclesiastes informa e Paulo confirma.
Reza a lenda que um homem ficou muito deprimido por ter perdido um olho, e ter sido obrigado a colocar outro, de vidro. Sentiu-se incapaz para dirigir automóvel, o que ele adorava. Sua mulher e filhos, vendo aquela tristeza, o incentivaram a fazer uma tentativa.
Foram todos juntos e os elogios ao desempenho do motorista se sucediam: “Que curva bem feita! Que ultrapassagem competente! Formidável! Fantástico!”.
Incentivado pelos elogios o motorista sucumbiu a eles e gritou, para pânico da família: “Agora é que vocês vão ver! Vou dirigir só com o olho de vidro!”
Nós desenvolvemos um verdadeiro talento para transformar eventos neutros ou negativos (ou errados) em rito de passagem triunfante, é o caso do câncer do falecido vice-presidente da República e agora Gianecchini.
Oprah então é o grande exemplo: a convicção implacável de que até mesmo os mais imprevisíveis, incontroláveis problemas da vida, podem ser preenchidos com aquela familiar embalagem da catarse positiva!
Ao invés de reconhecer a dor residual ou o persistente trauma, acabamos abraçando cada acontecimento da vida como um despertamento ou um avanço no caminho para a auto-realização. Papo!
Aplico o raciocínio acima ao Cristianismo e este ao casamento como uma instituição onde vinga menos o entusiasmo e mais a(s) responsabilidade(s). Muito embora hoje casamento tornou-se mais um show de luzes e menos encargos sérios entre um homem e uma mulher.
Seja um pouquinho pessimista, não use seu olho de vidro!
Espalha-se cada vez mais (inclusive aqui na ULTIMATO) artigos que 'vendem' a ideia de que há uma decisão acertada para cada desafio na vida promovendo o elogio fácil, a proeza destemida, o valor das virtudes e a felicidade geral.
O Botelho, o do circo, é um exemplo. Com a companhia lá no picadeiro e a caixinha de surpresas, cria-se uma geração de frouxos teológicos e virtuosos de acessórios.
Veja o caso do global Gianecchini, com câncer. A imagem é de que os problemas mais complicados e incontroláveis da vida podem ser transferidos para uma auto- realização. Ou o tradicional bordão do ‘vai dar tudo certo!’.
“Tristeza é conhecimento”, escreveu Lorde Byron, “aquele que muito conhece pranteia mais profundamente. A árvore do conhecimento não é a árvore da vida”, emendou. Seremos mais felizes se formos (um pouco) pessimistas, digo eu.
Li Byron e sugiro que mirem no final da frase que cito dele: a árvore do conhecimento não é panaceia para a felicidade. Isto é, conhecimento não necessariamente e sempre trás felicidade!
Assiste-se cada vez mais nas chamadas igrejas ‘fast-food’ (inclusive tradicionais, por pura ausência de opção) a ideia de que o Cristianismo é a variante da bonança em meio à miséria, quando na verdade ele enfatiza o lado negro da existência humana, também (Pondé).
ULTIMATO publicou algo sobre Pascal. Escolheram, a meu juízo, o lado errado desse filósofo. Deveriam ter abordado suas alfinetadas à ideia de que a natureza humana não é um mar de rosas e bonitinha como uma ‘Surfistinha’ recauchutada!
Antes de chegar ao artigo de Byron na VEJA, passa-se por propagandas de carros, condomínios, o governo mostrando um Brasil próximo da Suíça, mulheres bonitas trabalhadas em fotoshops. Agora a propaganda do governo oferece uma mão como suprema alegria!
Qual o problema em ser positivo? Nos distúrbios em Londres, Theodore Dalrymple achou que se deveria esquecer explicações sociológicas e reconheceu que se criou foi uma geração que recebe papinha do governo até aos 80 anos.
O Brasil segue no mesmo ritmo quando os nórdicos já descobriram que o Estado social é em grande medida uma panaceia! Aqui ainda pensamos em ‘bolsas’: bolsa-escola, auxílio-gás, bolsa-alimentação, bolsa-cultura, bolsa-atleta, e por aí vai.
Todo presidiário com filhos tem direito a uma bolsa de R$ 798,30 por filho, vez que ele não pode trabalhar para sustenta-los por estar preso. Mais que um salário mínimo que muita gente por aí rala pra conseguir e manter uma família inteira.
Ou seja, com 5 filhos, além de comer e beber nas costas de quem trabalha e paga impostos, ainda tem direito a receber auxílio reclusão de R$ 3.991,50 da Previdência Social!
Criamos enormes expectativas: carreiras, salários, igrejas, partidos, etc., e eis que se tornam fonte de angústia e raiva quando a coisa não dá certo.
Essa grandeza de expectativas e felicidades cria uma tensão enorme diante das frustrações da vida, agravada mais ainda com a concepção moderna de felicidade a todo custo.
Errado? Não, a tristeza, e o viver com ela, dor inclusive, faz parte da nossa estrutura como seres humanos e deve ser bem vinda.
Byron lembra que a árvore do conhecimento é aquela que leva a prantear a dor mais profundamente. A árvore do conhecimento não é a árvore da felicidade, diz Lorde Byron. O Livro de Eclesiastes informa e Paulo confirma.
Reza a lenda que um homem ficou muito deprimido por ter perdido um olho, e ter sido obrigado a colocar outro, de vidro. Sentiu-se incapaz para dirigir automóvel, o que ele adorava. Sua mulher e filhos, vendo aquela tristeza, o incentivaram a fazer uma tentativa.
Foram todos juntos e os elogios ao desempenho do motorista se sucediam: “Que curva bem feita! Que ultrapassagem competente! Formidável! Fantástico!”.
Incentivado pelos elogios o motorista sucumbiu a eles e gritou, para pânico da família: “Agora é que vocês vão ver! Vou dirigir só com o olho de vidro!”
Nós desenvolvemos um verdadeiro talento para transformar eventos neutros ou negativos (ou errados) em rito de passagem triunfante, é o caso do câncer do falecido vice-presidente da República e agora Gianecchini.
Oprah então é o grande exemplo: a convicção implacável de que até mesmo os mais imprevisíveis, incontroláveis problemas da vida, podem ser preenchidos com aquela familiar embalagem da catarse positiva!
Ao invés de reconhecer a dor residual ou o persistente trauma, acabamos abraçando cada acontecimento da vida como um despertamento ou um avanço no caminho para a auto-realização. Papo!
Aplico o raciocínio acima ao Cristianismo e este ao casamento como uma instituição onde vinga menos o entusiasmo e mais a(s) responsabilidade(s). Muito embora hoje casamento tornou-se mais um show de luzes e menos encargos sérios entre um homem e uma mulher.
Seja um pouquinho pessimista, não use seu olho de vidro!
Os artigos e comentários publicados na seção Palavra do Leitor são de única e exclusiva responsabilidade
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
- 06 de setembro de 2011
- Visualizações: 1314
- 2 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Revista Ultimato
- +lidos
- +comentados