Palavra do leitor
- 24 de janeiro de 2011
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Quarup, tribos urbanas e outros babados
Fui convidado para uma pescaria esse ano nas imediações do Xingu. O Parque Nacional do Xingu cobre cerca de 27 mil quilômetros quadrados, mais da metade da Suíça. Situa-se no estado do Mato Grosso, cortada pelo rio Xingu e afluentes, abrigando uma população indígena de pouco mais de 5,000 pessoas de 14 etnias.
Os inventores daquilo: irmãos Villas Bôas. A Wikipédia oferece um breve resumo: "Ainda como administrador do Parque, Orlando Villas Bôas, favoreceu a realização de estudos de etnologia, etnografia e lingüística a pesquisadores não apenas nacionais como de universidades estrangeiras. Autorizando, ainda, a filmagem documentária da vida dos índios, deu margem a um valioso acervo audiovisual. A épica empreitada dos irmãos Villas Boas é um dos mais importantes e polêmicos episódios da antropologia brasileira e da história indígena."
Um desses documentos é o QUARUP. Central no ritual são os mortos e canta a figura de um ser mitológico, criador do mundo. A idéia principal no mundo do QUARUP é trazer à vida os mortos, e para isso são realizadas festas com colorido, comidas típicas e riqueza de fazer inveja a qualquer visitante na reserva.
No relato lendário, três troncos de madeira são enterrados no centro da aldeia e que no desenrolar da mitologia viram gente. Segundo a mitologia, todos que não tivessem tido relações sexuais durante a noite tinham permissão para sair das ocas e assistir aquela materialização de troncos em pessoa.
Apenas um índio foi impedido de ver porque ter tido relações. Mas levado pela curiosidade, foi e com isso quebrou-se o encanto: os homens-troncos voltaram a ser apenas troncos! Como punição, os mortos não reviveriam mais. O QUARUP agora é apenas festa, um memorial e os troncos são troncos.
Realizado sempre em homenagem a uma figura ilustre, o QUARUP coloca-o no mesmo nível dos ancestrais nos tempos em que o grande demiurgo, Mawutzinin, andava entre os homens. O homenageado é então incorporado ao relato mítico.
Ponto alto da festa: uma grande fogueira em frente ao tronco seguido de cânticos onde um representante de cada etnia recolhe uma chama para acender a fogueira dos demais grupos.
A última noite é o momento máximo com a ressurreição simbólica do homenageado. Momento de comoção total. As índias carpideiras choram com o lamento e o canto só cessando ao raiar do dia. O amanhecer e saudado com júbilo e gritos de alegria, ensejando o momento das competições esportivas entre as etnias.
Terminado os embates entre os jovens das tribos ocorre o ritual de troca, ‘moitará’, onde cada aldeia oferece produtos de sua especialidade umas às outras. O ritual é encerrado com o tronco mítico lançado às águas.
O Congresso Underground Cristão (CNUC) dentro do Ajuntamento das Tribos neste último encontro (Recife/PE), é o ‘QUARUP evangélico’. O do Xingu não tem reticências, porém.
Esse ajuntamento de tribos sociais no Recife ligou o nada com nada. Apenas cantoria (social) ajambrada de expressões religiosas pinçadas aqui e acolá sobre Jesus, a fé, a igreja, etc., apontando mais para um sentido de urbanidade desleixada, como se tanto a figura central do Cristianismo como a fé --- essa rigorosamente diluída na forma de um ‘fórum social mundial (religioso)’ --- operassem como mantra para dar uma espécie de norte àquele ajuntamento tribal sem eira nem beira. Trata-se nada mais, nada menos de um grande ‘experimento’ em religião.
No CNUC cada um é pajé da sua própria tribo e a ‘árvore-tronco’ de cada um é a própria bagagem cultural desmantelada de uma juventude com uma determinação de fazer inveja, mas com uma lassidão do Cristo e da fé. Cada um é a medida de si próprio. Estão sempre se ‘renovando’, buscando o ‘novo’, o pote de ouro ao final do arco-íris.
Li o postado em ULTIMATO com o título curioso, “A Grande Reticência...” e por umas quatro horas fui atrás das recomendações dadas como, Clemir Fernandes, Geraldo Luís, pastor da Caverna de Adulão, e Diniz Braga, fundador e diretor da Escola Avalanche Missões Urbanas.
Paula Mendes do CEM preferiu formular com uma indagação reticente aquele ajuntamento social-tribal, lançando o olhar para um futuro mais incerto ainda, típico de mundo urbanizado.
O que o etnólogo e antropólogo Claude Lévi-Strauss não diria desse movimento de ‘tribos’ urbanizadas no Recife?
Ele que quebrou a visão etnocêntrica da história (contra a‘Europa’ primeiro) e da humanidade (contra o ‘branco’ primeiro), com um ‘olhar’ etnólogo para uma ‘estrutura universal comum’ no homem (a do QUARUP é a mesma do Cristianismo, assumo), e impressionado ficaria com esse ‘novo’ velho ‘conservadorismo-de-piercing’.
Discordo da Paula em mais um ponto: essas ‘tribos urbanas’ merecem só uma nota de rodapé em termos de Cristianismo na última página de um livro de história eclesiástica. Só é material importantíssimo mesmo, porém, para (repetindo Orlando Villas Bôas) “... a realização de estudos de etnologia, etnografia e lingüística a pesquisadores...” (e psicólogos sociais).
Os inventores daquilo: irmãos Villas Bôas. A Wikipédia oferece um breve resumo: "Ainda como administrador do Parque, Orlando Villas Bôas, favoreceu a realização de estudos de etnologia, etnografia e lingüística a pesquisadores não apenas nacionais como de universidades estrangeiras. Autorizando, ainda, a filmagem documentária da vida dos índios, deu margem a um valioso acervo audiovisual. A épica empreitada dos irmãos Villas Boas é um dos mais importantes e polêmicos episódios da antropologia brasileira e da história indígena."
Um desses documentos é o QUARUP. Central no ritual são os mortos e canta a figura de um ser mitológico, criador do mundo. A idéia principal no mundo do QUARUP é trazer à vida os mortos, e para isso são realizadas festas com colorido, comidas típicas e riqueza de fazer inveja a qualquer visitante na reserva.
No relato lendário, três troncos de madeira são enterrados no centro da aldeia e que no desenrolar da mitologia viram gente. Segundo a mitologia, todos que não tivessem tido relações sexuais durante a noite tinham permissão para sair das ocas e assistir aquela materialização de troncos em pessoa.
Apenas um índio foi impedido de ver porque ter tido relações. Mas levado pela curiosidade, foi e com isso quebrou-se o encanto: os homens-troncos voltaram a ser apenas troncos! Como punição, os mortos não reviveriam mais. O QUARUP agora é apenas festa, um memorial e os troncos são troncos.
Realizado sempre em homenagem a uma figura ilustre, o QUARUP coloca-o no mesmo nível dos ancestrais nos tempos em que o grande demiurgo, Mawutzinin, andava entre os homens. O homenageado é então incorporado ao relato mítico.
Ponto alto da festa: uma grande fogueira em frente ao tronco seguido de cânticos onde um representante de cada etnia recolhe uma chama para acender a fogueira dos demais grupos.
A última noite é o momento máximo com a ressurreição simbólica do homenageado. Momento de comoção total. As índias carpideiras choram com o lamento e o canto só cessando ao raiar do dia. O amanhecer e saudado com júbilo e gritos de alegria, ensejando o momento das competições esportivas entre as etnias.
Terminado os embates entre os jovens das tribos ocorre o ritual de troca, ‘moitará’, onde cada aldeia oferece produtos de sua especialidade umas às outras. O ritual é encerrado com o tronco mítico lançado às águas.
O Congresso Underground Cristão (CNUC) dentro do Ajuntamento das Tribos neste último encontro (Recife/PE), é o ‘QUARUP evangélico’. O do Xingu não tem reticências, porém.
Esse ajuntamento de tribos sociais no Recife ligou o nada com nada. Apenas cantoria (social) ajambrada de expressões religiosas pinçadas aqui e acolá sobre Jesus, a fé, a igreja, etc., apontando mais para um sentido de urbanidade desleixada, como se tanto a figura central do Cristianismo como a fé --- essa rigorosamente diluída na forma de um ‘fórum social mundial (religioso)’ --- operassem como mantra para dar uma espécie de norte àquele ajuntamento tribal sem eira nem beira. Trata-se nada mais, nada menos de um grande ‘experimento’ em religião.
No CNUC cada um é pajé da sua própria tribo e a ‘árvore-tronco’ de cada um é a própria bagagem cultural desmantelada de uma juventude com uma determinação de fazer inveja, mas com uma lassidão do Cristo e da fé. Cada um é a medida de si próprio. Estão sempre se ‘renovando’, buscando o ‘novo’, o pote de ouro ao final do arco-íris.
Li o postado em ULTIMATO com o título curioso, “A Grande Reticência...” e por umas quatro horas fui atrás das recomendações dadas como, Clemir Fernandes, Geraldo Luís, pastor da Caverna de Adulão, e Diniz Braga, fundador e diretor da Escola Avalanche Missões Urbanas.
Paula Mendes do CEM preferiu formular com uma indagação reticente aquele ajuntamento social-tribal, lançando o olhar para um futuro mais incerto ainda, típico de mundo urbanizado.
O que o etnólogo e antropólogo Claude Lévi-Strauss não diria desse movimento de ‘tribos’ urbanizadas no Recife?
Ele que quebrou a visão etnocêntrica da história (contra a‘Europa’ primeiro) e da humanidade (contra o ‘branco’ primeiro), com um ‘olhar’ etnólogo para uma ‘estrutura universal comum’ no homem (a do QUARUP é a mesma do Cristianismo, assumo), e impressionado ficaria com esse ‘novo’ velho ‘conservadorismo-de-piercing’.
Discordo da Paula em mais um ponto: essas ‘tribos urbanas’ merecem só uma nota de rodapé em termos de Cristianismo na última página de um livro de história eclesiástica. Só é material importantíssimo mesmo, porém, para (repetindo Orlando Villas Bôas) “... a realização de estudos de etnologia, etnografia e lingüística a pesquisadores...” (e psicólogos sociais).
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