Palavra do leitor
- 10 de novembro de 2024
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Quando a beleza física vira alienação e ilusão
O prêmio de "Miss São Paulo 2024" favoreceu inusitadas críticas, debates e divergentes opiniões nas redes sociais. Enquanto muitos aclamaram a vencedora como fazendo jus ao título e motivo de orgulho racial da beleza feminina brasileira, outros tantos contestaram o resultado final - por julgarem injusto a segunda colocada não ter levado nessa disputa o prêmio de rainha da beleza.
Esse acontecimento me fez lembrar duas experiências. A primeira foi no início de 1998, quando comprei meu caderno para aquele ano letivo no antigo ginasial: o vendedor me apresentou os cadernos de duas atrizes e modelos mais admiradas pela rapaziada, levando-me a minutos de comparação e dúvida até decidir pela que julguei mais bela. Na segunda experiência, enquanto professor do chamado Ensino Médio, debatíamos em sala sobre a ideia de beleza física - se há um padrão; se ela é relativa e se existe alguma tentativa de manipulação pela chamada "ditadura da beleza".
Mas se o tema e ideia de beleza encontra especial atenção na poesia e é indispensável sua reflexão até na filosofia, quando o assunto limita-se a "beleza física" sua discussão abrange diferentes campos do conhecimento como a sociologia (instrumento de poder), psicologia (transtornos de personalidade e autoestima), áreas da economia pela indústria e capitalismo (das passarelas e cosméticos às academias e cirurgias de procedimentos estéticos...).
A teologia também registra e enfatiza contextos de personagens relacionados à beleza física. Na Bíblia, lemos que Sara e Rebeca eram muito formosas (Gn 12:14; 24:16). Raquel era bonita de rosto e corpo (Gn 29:17), assim como seu filho José (Gn 39:6); Saul foi o israelita mais belo de rosto em seus dias (1Sm 9:2), mas ainda que Davi não fosse tão belo (I Sm 16), possuía boa aparência (1Sm 17:42).
Em termos de beleza ninguém era como Absalão em seus dias, pois segundo a Bíblia "dos pés ao alto da cabeça não tinha ele defeito algum" (2 Sm 14:25). A rainha Vasti era extremamente bela (Et 1:11-12), mas quando chamada pelo esposo e rei persa para exibir sua formosura numa festa perante bêbados, recusando corajosamente tal exposição, sofreu a punição pela destituição como rainha (Et 1:19), cujo título fora transferido à judia Hadassa (Ester), após um processo seletivo que tinha a formosura também entre os pré-requisitos.
Ao unir os termos "boa aparência" e "formosura", certas passagens bíblicas instigam a atenta pesquisa sobre possível distinção entre personalidade atraente e fisionomia vistosa. Em Isaías 53, por exemplo, o Messias é descrito como sem boa aparência nem formosura [...] e no final do capítulo 52, o contexto aponta para um Cristo desfigurado (talvez pelo cenário de sofrimento que o levou à Cruz).
Porém, ainda que numa exegese mais ampla Jesus não fosse belo como um rei Saul ou de personalidade atraente como o guerreiro Davi, mesmo que não fosse desprovido de beleza física, certamente não era admirado por mera aparência exterior, mas atraía multidões por onde andava e até as crianças queriam estar com Ele, pois sua formosura era além do "poder do amor". Em contrapartida, os reis da Babilônia e Tiro, assim como o querubim caído, macularam suas formosuras pelo orgulho e feiura do amor ao poder (Is14; Ez:28).
Vivendo numa sociedade de imagens e miragens, não somente a estética esbelta tem sido objeto de cobiça e disputa, mas os meios e recursos usados neuroticamente em busca de modelos idealizados de beleza têm resultado não somente em incansáveis insatisfações e frustrações, mas também amargos arrependimentos das escolhas amorosas baseadas apenas na paixão ou como nocaso de um cidadão que vestiu-se com a melhor roupa, usou um caro perfume e encheu o tanque do carro a viajar horas para conhecer a moça nada parecida com a fotogenia do perfil das redes sociais.
Embora algumas ideologias incitem ressentimento e ódio contra a ideia ou conceito de beleza objetiva, deve-se reconhecer toda beleza legítima e genuína como dádiva divina a ser apreciada - não adorada. No entanto, uma bela feição com alma vazia atinge patamares recordes de patologias e neuroses: narcisismo, megalomania, egoísmo, presunção, inseguranças, complexo de superioridade e imaginação de semi-divindade são alguns delírios que levam muitos a imaginar ter o mundo aos seus pés e a mercê de seus caprichos apenas por serem bonitos.
Outro dia um colega me disse que sua filha não queria mais estudar, pois sendo muito cobiçada e segura de sua beleza, imaginava que essa fase seria eterna e tudo seria mais fácil para ela - será uma Modelo, Miss ou Atriz? A presunção da jovem indica tolice e preguiça, mas ele insistia: "Filha, um dia sua beleza passará. Cuide de estudar e se realizar pela independência nos estudos." A garota respondeu ao pai que sua beleza jamais passaria, pois ela "sabia se cuidar." Após ouvir dele esse relato, inevitável foi não lembrar: Enganosa é a beleza e vã a formosura, mas a mulher que teme ao SENHOR, essa sim será elogiada - Pv 31:30.
Esse acontecimento me fez lembrar duas experiências. A primeira foi no início de 1998, quando comprei meu caderno para aquele ano letivo no antigo ginasial: o vendedor me apresentou os cadernos de duas atrizes e modelos mais admiradas pela rapaziada, levando-me a minutos de comparação e dúvida até decidir pela que julguei mais bela. Na segunda experiência, enquanto professor do chamado Ensino Médio, debatíamos em sala sobre a ideia de beleza física - se há um padrão; se ela é relativa e se existe alguma tentativa de manipulação pela chamada "ditadura da beleza".
Mas se o tema e ideia de beleza encontra especial atenção na poesia e é indispensável sua reflexão até na filosofia, quando o assunto limita-se a "beleza física" sua discussão abrange diferentes campos do conhecimento como a sociologia (instrumento de poder), psicologia (transtornos de personalidade e autoestima), áreas da economia pela indústria e capitalismo (das passarelas e cosméticos às academias e cirurgias de procedimentos estéticos...).
A teologia também registra e enfatiza contextos de personagens relacionados à beleza física. Na Bíblia, lemos que Sara e Rebeca eram muito formosas (Gn 12:14; 24:16). Raquel era bonita de rosto e corpo (Gn 29:17), assim como seu filho José (Gn 39:6); Saul foi o israelita mais belo de rosto em seus dias (1Sm 9:2), mas ainda que Davi não fosse tão belo (I Sm 16), possuía boa aparência (1Sm 17:42).
Em termos de beleza ninguém era como Absalão em seus dias, pois segundo a Bíblia "dos pés ao alto da cabeça não tinha ele defeito algum" (2 Sm 14:25). A rainha Vasti era extremamente bela (Et 1:11-12), mas quando chamada pelo esposo e rei persa para exibir sua formosura numa festa perante bêbados, recusando corajosamente tal exposição, sofreu a punição pela destituição como rainha (Et 1:19), cujo título fora transferido à judia Hadassa (Ester), após um processo seletivo que tinha a formosura também entre os pré-requisitos.
Ao unir os termos "boa aparência" e "formosura", certas passagens bíblicas instigam a atenta pesquisa sobre possível distinção entre personalidade atraente e fisionomia vistosa. Em Isaías 53, por exemplo, o Messias é descrito como sem boa aparência nem formosura [...] e no final do capítulo 52, o contexto aponta para um Cristo desfigurado (talvez pelo cenário de sofrimento que o levou à Cruz).
Porém, ainda que numa exegese mais ampla Jesus não fosse belo como um rei Saul ou de personalidade atraente como o guerreiro Davi, mesmo que não fosse desprovido de beleza física, certamente não era admirado por mera aparência exterior, mas atraía multidões por onde andava e até as crianças queriam estar com Ele, pois sua formosura era além do "poder do amor". Em contrapartida, os reis da Babilônia e Tiro, assim como o querubim caído, macularam suas formosuras pelo orgulho e feiura do amor ao poder (Is14; Ez:28).
Vivendo numa sociedade de imagens e miragens, não somente a estética esbelta tem sido objeto de cobiça e disputa, mas os meios e recursos usados neuroticamente em busca de modelos idealizados de beleza têm resultado não somente em incansáveis insatisfações e frustrações, mas também amargos arrependimentos das escolhas amorosas baseadas apenas na paixão ou como nocaso de um cidadão que vestiu-se com a melhor roupa, usou um caro perfume e encheu o tanque do carro a viajar horas para conhecer a moça nada parecida com a fotogenia do perfil das redes sociais.
Embora algumas ideologias incitem ressentimento e ódio contra a ideia ou conceito de beleza objetiva, deve-se reconhecer toda beleza legítima e genuína como dádiva divina a ser apreciada - não adorada. No entanto, uma bela feição com alma vazia atinge patamares recordes de patologias e neuroses: narcisismo, megalomania, egoísmo, presunção, inseguranças, complexo de superioridade e imaginação de semi-divindade são alguns delírios que levam muitos a imaginar ter o mundo aos seus pés e a mercê de seus caprichos apenas por serem bonitos.
Outro dia um colega me disse que sua filha não queria mais estudar, pois sendo muito cobiçada e segura de sua beleza, imaginava que essa fase seria eterna e tudo seria mais fácil para ela - será uma Modelo, Miss ou Atriz? A presunção da jovem indica tolice e preguiça, mas ele insistia: "Filha, um dia sua beleza passará. Cuide de estudar e se realizar pela independência nos estudos." A garota respondeu ao pai que sua beleza jamais passaria, pois ela "sabia se cuidar." Após ouvir dele esse relato, inevitável foi não lembrar: Enganosa é a beleza e vã a formosura, mas a mulher que teme ao SENHOR, essa sim será elogiada - Pv 31:30.
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