Palavra do leitor
- 18 de novembro de 2010
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Pra que serve a Igreja?
Pra que serve a Igreja?
"não, não a encontrei nos murais de marfim,
muito embora tivesse colocado os pés
em pisos pinçados de réstias de ouro
e sentado em bancos da mais primitiva madeira;
devo reconhecer,
a sonoridade das vozes, dos instrumentos
deságuavam deleites em meu ser
e, por alguns momentos, embeveciam-me de êxtase;
para que negar,
o quanto as prédicas me envolviam
e me imantavam de agumentos solenes,
além da mais incisiva das elucubrações;
por fim, vi a Igreja no abraço de gente,
não perfeita, não santa, não mártire,
mas sim, de olhares humanos, de contornos afetuosos;
livre para submergir nas lágrimas de recomeços,
liberta para ouvir, para servir e sustentar,
libertária para ser discípula, ser testemunha e serva;
com a coragem de ser aprendiz de uma alegria inocente,
de umna fé pacificadora, de uma ética submissa ao perdão
e resistente aos tumores nefastos da culpa e da condenação.''
A expressão hipermodernidade circunda com perenidade os textos aos quais tenho escrito na palavra do leitor. De certa forma, procuro descrever, ou pelo menos tento, a anatomia de uma geração submetida aos preceitos de uma ética utilitária, de uma cultura relativista, de uma concepção da vida fincada no tempo-presente, ao aqui e agora.
Nada de eternidade, nada de futuro, nada de uma história de mudanças e esperanças concretas. Nisto, observo, sem nenhuma esquizofrenia analítica, uma sociedade envolta por um discurso de conformismo. Muito embora tenhamos o discurso de todo um arsenal de conquistas e vitórias ressoadas pelo progresso ''científico e tecnológico'', como meios para não encararmos certos vácuos. No entanto, lá no fundo, ainda assim, continuamos a procura de um sentido, de um destino e um motivo sólido e perceptivel sobre a vida.
Nessa linha de raciocínio, faz-se necessário perguntarmos - ''Pra que serve a Igreja?''. Aliás, sujeita a toda uma gama de interpretações favoráveis ou desfavoráveis.
Lamentavelmente, para muitos a igreja continua a ser concebida como um templo que comporta a prática de ritos, de dogmas, de doutrinas e de um encontro íntimo com o Criador. Vou mais adiante, muitos a reputam como um reduto destinado áqueles fora do sistema do mundo. Em outras palavras, delimita-se a ser uma espécie de um espaço destinado a nos lembrarmos da ocorrência de um ato de criação, de um salvador, de uma crucificação e ressurreição, de uma vida eterna e nada mais. Não bastasse, quebramos um galho ou prestamos um favor para Deus, quando entoamos alguns cânticos, recitamos alguns versículos, repetimos algumas orações e por sua vez esperamos toda uma avalanche de recompensas.
Ultimamente, tenho me deparado com as nuances de uma Igreja voltada para si mesma, para seus anseios de poder, de mando, de controle e prestígio; para cumprir e suprir as demandas de uma coletividade de consumidores de bençãos. Por consequência, a Igreja tem se esquecido, como numa sangria incessante, de que existe para o próximo, o mundo, a vida, ser uma voz profética de resistência em face de todas as formas de desfiguração da vida e de vida. A grosso modo, uma voz estridente de ser um não em face de uma humanidade solapada pela desesperança.
Devo admitir, essas palavras podem ecoar como algo idílico e descabido. Digo isso, principalmente, a partir do momento que olhamos para uma Igreja de anônimos, de uma comunhão anímica, de uma espiritualidade adaptada a uma ética dos meus interesses e só. Tetricamente, em nossos tempos, parece uma falácia, para não dizer uma estupidez, defender o soerguer de uma Igreja compromissada e comprometida em abraçar os falidos, aconchegar os vitimados pelas inclemências da vida, ser serva, ser discípula e testemunha de Cristo no cotidiano de pessoas.
Deveras, tais reflexões nos levam a pautar as prioridades de uma Igreja disposta a ser gente com a feitura, com os contornos, com as nuances e peculiridades de Cristo. De modo semelhante, uma Igreja formada por pessoas, eu e você, com seus não (s) e sim (s), com sorriso e lágrima, com êxtase e agrura, com ambiguidade e tensão. Malgrado com todas as contingências, disposta a compreender e discernir o quanto a eternidade já começou na dinâmica de cada dia. Isto implica a responsabilidade da Igreja por iluminar as esferas da vida e de suas engrenagens (da política, da economia, da cultura, da ciência, da justiça, do estado e etceres). De per si, a Igreja deve ser livre, ser libertadora e libertária a efeito de não se tornar num balcão de conhavos, de indulgências eleitorais, de ícones pastorais substituindo a palavra, a Cristo e puridade cristã.
Sem titubear, a Igreja existe para amar os diferentes, trilhar pelo arriscado caminho do amor e da confiança, para ouvir aberta e atentamente o próximo, para sustentar os abatidos, para anular toda a proposta de ser gueto, para ser sal e luz no oikos, para não fazer da Graça um retalho de ideologias deturpadas e iníquas.
"não, não a encontrei nos murais de marfim,
muito embora tivesse colocado os pés
em pisos pinçados de réstias de ouro
e sentado em bancos da mais primitiva madeira;
devo reconhecer,
a sonoridade das vozes, dos instrumentos
deságuavam deleites em meu ser
e, por alguns momentos, embeveciam-me de êxtase;
para que negar,
o quanto as prédicas me envolviam
e me imantavam de agumentos solenes,
além da mais incisiva das elucubrações;
por fim, vi a Igreja no abraço de gente,
não perfeita, não santa, não mártire,
mas sim, de olhares humanos, de contornos afetuosos;
livre para submergir nas lágrimas de recomeços,
liberta para ouvir, para servir e sustentar,
libertária para ser discípula, ser testemunha e serva;
com a coragem de ser aprendiz de uma alegria inocente,
de umna fé pacificadora, de uma ética submissa ao perdão
e resistente aos tumores nefastos da culpa e da condenação.''
A expressão hipermodernidade circunda com perenidade os textos aos quais tenho escrito na palavra do leitor. De certa forma, procuro descrever, ou pelo menos tento, a anatomia de uma geração submetida aos preceitos de uma ética utilitária, de uma cultura relativista, de uma concepção da vida fincada no tempo-presente, ao aqui e agora.
Nada de eternidade, nada de futuro, nada de uma história de mudanças e esperanças concretas. Nisto, observo, sem nenhuma esquizofrenia analítica, uma sociedade envolta por um discurso de conformismo. Muito embora tenhamos o discurso de todo um arsenal de conquistas e vitórias ressoadas pelo progresso ''científico e tecnológico'', como meios para não encararmos certos vácuos. No entanto, lá no fundo, ainda assim, continuamos a procura de um sentido, de um destino e um motivo sólido e perceptivel sobre a vida.
Nessa linha de raciocínio, faz-se necessário perguntarmos - ''Pra que serve a Igreja?''. Aliás, sujeita a toda uma gama de interpretações favoráveis ou desfavoráveis.
Lamentavelmente, para muitos a igreja continua a ser concebida como um templo que comporta a prática de ritos, de dogmas, de doutrinas e de um encontro íntimo com o Criador. Vou mais adiante, muitos a reputam como um reduto destinado áqueles fora do sistema do mundo. Em outras palavras, delimita-se a ser uma espécie de um espaço destinado a nos lembrarmos da ocorrência de um ato de criação, de um salvador, de uma crucificação e ressurreição, de uma vida eterna e nada mais. Não bastasse, quebramos um galho ou prestamos um favor para Deus, quando entoamos alguns cânticos, recitamos alguns versículos, repetimos algumas orações e por sua vez esperamos toda uma avalanche de recompensas.
Ultimamente, tenho me deparado com as nuances de uma Igreja voltada para si mesma, para seus anseios de poder, de mando, de controle e prestígio; para cumprir e suprir as demandas de uma coletividade de consumidores de bençãos. Por consequência, a Igreja tem se esquecido, como numa sangria incessante, de que existe para o próximo, o mundo, a vida, ser uma voz profética de resistência em face de todas as formas de desfiguração da vida e de vida. A grosso modo, uma voz estridente de ser um não em face de uma humanidade solapada pela desesperança.
Devo admitir, essas palavras podem ecoar como algo idílico e descabido. Digo isso, principalmente, a partir do momento que olhamos para uma Igreja de anônimos, de uma comunhão anímica, de uma espiritualidade adaptada a uma ética dos meus interesses e só. Tetricamente, em nossos tempos, parece uma falácia, para não dizer uma estupidez, defender o soerguer de uma Igreja compromissada e comprometida em abraçar os falidos, aconchegar os vitimados pelas inclemências da vida, ser serva, ser discípula e testemunha de Cristo no cotidiano de pessoas.
Deveras, tais reflexões nos levam a pautar as prioridades de uma Igreja disposta a ser gente com a feitura, com os contornos, com as nuances e peculiridades de Cristo. De modo semelhante, uma Igreja formada por pessoas, eu e você, com seus não (s) e sim (s), com sorriso e lágrima, com êxtase e agrura, com ambiguidade e tensão. Malgrado com todas as contingências, disposta a compreender e discernir o quanto a eternidade já começou na dinâmica de cada dia. Isto implica a responsabilidade da Igreja por iluminar as esferas da vida e de suas engrenagens (da política, da economia, da cultura, da ciência, da justiça, do estado e etceres). De per si, a Igreja deve ser livre, ser libertadora e libertária a efeito de não se tornar num balcão de conhavos, de indulgências eleitorais, de ícones pastorais substituindo a palavra, a Cristo e puridade cristã.
Sem titubear, a Igreja existe para amar os diferentes, trilhar pelo arriscado caminho do amor e da confiança, para ouvir aberta e atentamente o próximo, para sustentar os abatidos, para anular toda a proposta de ser gueto, para ser sal e luz no oikos, para não fazer da Graça um retalho de ideologias deturpadas e iníquas.
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