Palavra do leitor
- 08 de março de 2010
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Pr. Wildo: o concreto e o sonho
"O seu coração não está aqui!" ouvi isto sob o inclemente sol da Bahia; rodeado por pilhas de tijolos, sacos de cimento, montes de areia fina, média, grossa, saibrosa e ferros e suor.
Não respondi; não de imediato; ando lendo a Bíblia como deveria lê-la há anos, atento, e contrito. Ouvir e silenciar, permitir-me uma lacuna, considerar cada palavra e orar, pra só então responder, mansamente; é um parto! Funciona! Economizei muitos arranca-rabos.
O meu coração está em Deus, atento e disposto, Ele sabe, as pessoas que generosamente convivem comigo sabem (conviver comigo tem sido um ato de generosidade!) até quem disse aquilo sabe.
Sou missionário, dispus-me a não exercer mais nenhuma profissão secular em troca do honroso ofício de obreiro da missão Vida; de nada tenho falta; Deus é Bom!
Mas acabo de ser removido de um campo no qual me sentia útil o dia todo, todos os dias. (economize o seu e o meu tempo, não envie e-mail me lembrando que vida de missionário é assim, eu durmo no emprego.) Lá, entre as tarefas cotidianas estava o parar pra emprestar os ouvidos, confortar e animar os irmãos, cuidar-lhes as feridas. Testemunhar o milagre que em mim se operou, pois cheguei aqui em idêntica ou pior situação que a maioria deles, e alimentar-lhes a esperança graciosamente fornecida pelo Senhor Jesus.
Participar de todo o maravilhoso curso que a vida daqueles homens toma quando se submetem a Deus.
A afirmação diz que não amo o que viemos fazer aqui e ela é um equívoco; não amo lugares ou situações, nunca amei. Insisto em permanecer sob a vontade do Pai; sofro menos, aprendo e cresço. Mas confesso o meu deslocamento quando após a devocional ao ar livre; (nós temos uma árvore enquanto não temos uma capela!) Ergo os olhos e lá estão os montes de areia fina, média, grossa, saibrosa.
Na fazenda da Missão Vida aprendi amar gente, de todo tipo e lugar, não importando a anterior circunstância; corpos sujos, unhas e cabelos idem, feridas mal-cheirosas e mendigos desbocados não estragam o meu dia, eles são o meu dia, para eles fui preparado.
Concreto e calor, pregações rápidas e orações escassas; um balbuciar murmurante e incrédulo, uma desesperança nesses longos e lentos dias. Mas as coisas sempre mudam, ainda que jamais me habitue às flagrantes intervenções de Deus em nós.
O fundador da Missão Vida, rev. Wildo apareceu dias atrás, um evento! Numa das visitas ao local onde diariamente construímos a nova unidade, ele, do nada aparente começou a apontar em várias direções e a falar e falar e descrevia com vigor a fileira de árvores rente à cerca, as plantas ornamentais e o grande quiosque no qual as crianças carentes da região serão ensinadas por professoras crentes, duas professoras; até o lanche das três da tarde ele descreveu.
Depois apontou para o terreno, um platô onde tem uns buracos e umas estacas fincadas, e detalhou o novo alojamento, e biblioteca e refeitório, minuciosamente, até a "rua", até as telhas de cerâmica, "muito bonitas por sinal!" Meus olhos perseguiam as direções apontadas e se certificavam que ali, no ardor da tarde, só havia mato, lixo e areia, abundantes.
Confesso que não senti vontade alguma de dizer qualquer coisa, meu respeito e afeição por ele me calaram, desviei os olhos, desolado e só.
Abrindo o meu e-mail e encontrei o e-mail da Ivy Menon; encafifo com a ironia divina sempre se utilizando de presbiterianos "pra me chamar na regulagem" (graça e bem abundam nesta cáustica e adorável calvinista) cajado e bálsamo.
Em seguida, numa conversa caseira, a Lúcia Estela do Paulão me disse coisas que só uma amizade de mais de vinte anos pode produzir, mais cajado, e mais bálsamo; contou-me que foi ao Maranhão entregar a quarta e última filha à Obra do Senhor: Ana Paula, Laura, Cláudia e Adriana; Bangladesh, IM, Moçambique e Maranhão.
Numa igreja, um moço que nunca me vira antes interrompeu o culto pra me "entregar um recado de Deus!" (quem me conhece sabe que me retiro em tais situações) e sem rodeios falou de assuntos de foro íntimo, uns trem que só conversei com Deus; nada subjetivo, sem gritar, afiado, direto; um refrigério assombrou-me.
Ao sair olhei pra construção, procurando a biblioteca, o quiosque com as crianças e as árvores e as telhas de cerâmica "muito bonitas por sinal!" que só o pr. Wildo consegue ver; os prédios e a capela que até agora só estão na cabeça do Pr. Zilvan, os laguinhos que só o Douglas enxerga.
Certamente nunca me apaixonarei pela construção de um prédio nem entoarei louvores porque o cimento chegou na hora.
Preciso ser mais romântico e sonhador e amar os sonhos do Pr. Wildo, amá-lo até que os sonhos que hoje são só dele sejam sonhos de Deus em mim.
Já parei de encher a paciência de Deus (ia escrever "encher o saco"), mas combato em mim a facilidade impune pra falar palavrões, um hábito velho demais, agora aqui, um hábito feio demais.
(ex-interno do Centro de Recuperação de Mendigos – Missão Vida)
www.mvida.org.br
letrasanta.ning.com
Não respondi; não de imediato; ando lendo a Bíblia como deveria lê-la há anos, atento, e contrito. Ouvir e silenciar, permitir-me uma lacuna, considerar cada palavra e orar, pra só então responder, mansamente; é um parto! Funciona! Economizei muitos arranca-rabos.
O meu coração está em Deus, atento e disposto, Ele sabe, as pessoas que generosamente convivem comigo sabem (conviver comigo tem sido um ato de generosidade!) até quem disse aquilo sabe.
Sou missionário, dispus-me a não exercer mais nenhuma profissão secular em troca do honroso ofício de obreiro da missão Vida; de nada tenho falta; Deus é Bom!
Mas acabo de ser removido de um campo no qual me sentia útil o dia todo, todos os dias. (economize o seu e o meu tempo, não envie e-mail me lembrando que vida de missionário é assim, eu durmo no emprego.) Lá, entre as tarefas cotidianas estava o parar pra emprestar os ouvidos, confortar e animar os irmãos, cuidar-lhes as feridas. Testemunhar o milagre que em mim se operou, pois cheguei aqui em idêntica ou pior situação que a maioria deles, e alimentar-lhes a esperança graciosamente fornecida pelo Senhor Jesus.
Participar de todo o maravilhoso curso que a vida daqueles homens toma quando se submetem a Deus.
A afirmação diz que não amo o que viemos fazer aqui e ela é um equívoco; não amo lugares ou situações, nunca amei. Insisto em permanecer sob a vontade do Pai; sofro menos, aprendo e cresço. Mas confesso o meu deslocamento quando após a devocional ao ar livre; (nós temos uma árvore enquanto não temos uma capela!) Ergo os olhos e lá estão os montes de areia fina, média, grossa, saibrosa.
Na fazenda da Missão Vida aprendi amar gente, de todo tipo e lugar, não importando a anterior circunstância; corpos sujos, unhas e cabelos idem, feridas mal-cheirosas e mendigos desbocados não estragam o meu dia, eles são o meu dia, para eles fui preparado.
Concreto e calor, pregações rápidas e orações escassas; um balbuciar murmurante e incrédulo, uma desesperança nesses longos e lentos dias. Mas as coisas sempre mudam, ainda que jamais me habitue às flagrantes intervenções de Deus em nós.
O fundador da Missão Vida, rev. Wildo apareceu dias atrás, um evento! Numa das visitas ao local onde diariamente construímos a nova unidade, ele, do nada aparente começou a apontar em várias direções e a falar e falar e descrevia com vigor a fileira de árvores rente à cerca, as plantas ornamentais e o grande quiosque no qual as crianças carentes da região serão ensinadas por professoras crentes, duas professoras; até o lanche das três da tarde ele descreveu.
Depois apontou para o terreno, um platô onde tem uns buracos e umas estacas fincadas, e detalhou o novo alojamento, e biblioteca e refeitório, minuciosamente, até a "rua", até as telhas de cerâmica, "muito bonitas por sinal!" Meus olhos perseguiam as direções apontadas e se certificavam que ali, no ardor da tarde, só havia mato, lixo e areia, abundantes.
Confesso que não senti vontade alguma de dizer qualquer coisa, meu respeito e afeição por ele me calaram, desviei os olhos, desolado e só.
Abrindo o meu e-mail e encontrei o e-mail da Ivy Menon; encafifo com a ironia divina sempre se utilizando de presbiterianos "pra me chamar na regulagem" (graça e bem abundam nesta cáustica e adorável calvinista) cajado e bálsamo.
Em seguida, numa conversa caseira, a Lúcia Estela do Paulão me disse coisas que só uma amizade de mais de vinte anos pode produzir, mais cajado, e mais bálsamo; contou-me que foi ao Maranhão entregar a quarta e última filha à Obra do Senhor: Ana Paula, Laura, Cláudia e Adriana; Bangladesh, IM, Moçambique e Maranhão.
Numa igreja, um moço que nunca me vira antes interrompeu o culto pra me "entregar um recado de Deus!" (quem me conhece sabe que me retiro em tais situações) e sem rodeios falou de assuntos de foro íntimo, uns trem que só conversei com Deus; nada subjetivo, sem gritar, afiado, direto; um refrigério assombrou-me.
Ao sair olhei pra construção, procurando a biblioteca, o quiosque com as crianças e as árvores e as telhas de cerâmica "muito bonitas por sinal!" que só o pr. Wildo consegue ver; os prédios e a capela que até agora só estão na cabeça do Pr. Zilvan, os laguinhos que só o Douglas enxerga.
Certamente nunca me apaixonarei pela construção de um prédio nem entoarei louvores porque o cimento chegou na hora.
Preciso ser mais romântico e sonhador e amar os sonhos do Pr. Wildo, amá-lo até que os sonhos que hoje são só dele sejam sonhos de Deus em mim.
Já parei de encher a paciência de Deus (ia escrever "encher o saco"), mas combato em mim a facilidade impune pra falar palavrões, um hábito velho demais, agora aqui, um hábito feio demais.
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