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Palavra do leitor

Por Que o Legalismo Nos Fascina Tanto?

Falamos muito sobre a graça. Queremos ouvir sobre a graça, queremos aprender sobre a graça, queremos viver a graça. Mas, ainda assim, por que o legalismo nos fascina tanto? Por que as pregações carregadas de cobrança nos fazem sentir que estamos no caminho correto? Por que, ao ouvirmos uma mensagem de púlpito carregada de culpa, achamos que estamos ouvindo a voz de Deus?

As respostas a esses questionamentos podem não ser tão simples. Antes de tudo, precisamos entender o que é o legalismo.

Alguns acreditam que o legalismo está na forma do culto, ou seja, se os pregadores usam terno e gravata e a igreja canta hinos tradicionais, são legalistas. Por outro lado, se os pregadores usam calça jeans e camisa florida e a igreja canta música contemporânea, não são mais legalistas.

Outros creem que o legalismo é um conjunto de proibições, não pode isso, não pode aquilo. Mas, é possível ser extremamente liberal na questão de usos e costumes e ainda assim ser legalista. Alguém pode ouvir todo tipo de música (cristã ou não), beber álcool, usar roupas provocativas (no caso das mulheres), assistir a qualquer tipo de filme e até mesmo falar palavrões e, ao mesmo tempo, ser bem legalista. Assim como é possível se abster dessas coisas e viver plenamente na graça.

Em outras palavras, legalismo nada tem a ver com comportamento exterior, mas com o interior. O legalismo está inteiramente ligado à maneira como nos relacionamos com Deus. Se creio que preciso fazer algo para ser aceito por Deus, se acredito que meu esforço me dará vitória sobre o pecado e se penso que minha salvação depende do meu desempenho espiritual, então sou um legítimo legalista.

E por que somos fascinados?

Primeiro, desde o Éden, o ser humano se sente em dívida com o Criador. Conforme lemos em Gênesis, a primeira coisa que Adão e Eva fizeram após terem pecado foi se esconder de Deus e preparar sua própria roupa para cobrir a nudez. Ou seja, estavam buscando eles mesmos resolver a questão do pecado. E nós, descendentes do primeiro casal, herdamos esse desejo de nos aproximar de Deus baseados na nossa justiça e esforço.

Segundo, o legalismo nos enche de orgulho. No tempo de Jesus, os fariseus buscavam a apreciação do povo. Quando jejuavam, davam dízimos e ofertas, iam ao templo e faziam suas preces, queriam que o povo os aplaudisse pela sua aparente espiritualidade. Seu legalismo era motivo de orgulho. Não somos diferentes deles, se agimos assim.

Terceiro, cremos que podemos acrescentar algo à obra de Jesus na cruz. Parece difícil acreditarmos que simplesmente pela fé somos perdoados e justificados. Tentamos provar para Deus que ainda temos condições de melhorarmos o coração pelo nosso esforço. Achamos que a santificação vem como fruto do nosso empenho.

Quarto, cremos que as boas obras, o envolvimento com ministérios e atividades da igreja, a entrega de dízimos e ofertas e a assiduidade aos cultos limpam nossa ficha com Deus e nos garantem as bênçãos divinas.

Quinto, o legalismo nos faz independentes de Deus. Talvez esse seja o maior motivo de fascínio. Quando achamos que nossa justificação e salvação dependem de nós, já não estamos mais debaixo da graça. Passamos a crer que podemos viver sem o coração quebrantado e contrito e que não precisamos do Criador a cada segundo de nossas vidas.

O legalismo é um caminho extremamente perigoso, que leva à incredulidade, à culpa e ao vazio espiritual. Infelizmente, muitas igrejas têm tomado esse caminho, ainda que de forma sutil. Muitas músicas no meio cristão possuem uma letra carregada de legalismo. Muitas pregações apontam para essa direção.

O apóstolo Paulo se deparou com esse problema junto às igrejas da Galácia. Por isso ele foi tão duro em sua carta, chamando os gálatas de insensatos, tolos. Creio que se Paulo estivesse em nosso meio hoje, ficaria chocado. Não mais com os rituais do judaísmo, presentes nas igrejas da Galácia, mas com a teologia baseada na antiga aliança presente em muitos púlpitos.

Que o Senhor abra os nossos olhos para que nos voltemos inteiramente para a graça de Jesus e vivamos confiando nessa graça e dependentes dela a cada instante.

Que nossos corações sejam de fato quebrantados e creiamos que Jesus fez uma obra completa na cruz.


A Ele seja toda a glória!
Sao Jose Dos Campos - SP
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