Palavra do leitor
- 16 de outubro de 2012
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Plantar árvores. Ser árvore
Essas pessoas são como árvores que crescem na beira de um riacho; elas dão frutas no tempo certo, e as suas folhas não murcham. (Salmo 1:6)
Plantar uma árvore é um dos três grandes atos sem os quais nunca se foi verdadeiro homem: fazer um filho, plantar uma árvore, escrever um livro. (Eça de Queirós)
Ainda não plantei uma árvore. A despeito desses tempos em que se fala tanto de ecologia, preservação ambiental e sustentabilidade, ainda não plantei uma árvore. Ou será que plantei? À medida que escrevo recordo-me de que, à época do Ensino Fundamental, estudei a disciplina Técnicas agrícolas no colégio. Era interessante a gente ir para a horta da escola, levando pazinhas, carrinho de mão e terra, mexer e remexer, separar sementes, cavar, plantar, regar. Aulas que aconteciam sob o sol, ao ar livre, com adolescentes de mãos sujas de terra. Mas não sei se o que plantei ali floresceu. Não lembro nem mesmo o que plantei ali e acredito que não adianta plantar e abandonar ao tempo, sem cuidar e acompanhar o crescimento. Então acho que assim não vale e, estarrecida por viver numa época tão verde, volto à minha constatação inicial: ainda não plantei uma árvore.
Mas deveria ter plantado, denotativa ou metaforicamente.
A primeira maneira, concreta como é, traz certa simplicidade. Talvez na aula de Técnicas Agrícolas, talvez num pequeno vaso, talvez na escola, numa praça ou quintal. Mais do que terra, água, sol e semente, faz-se necessário apenas haver vontade, alguns cuidados e disposição. As sementes são até vendidas em casas especializadas, assim como a terra, adubo e acessórios, como vasos e pás, ficando fácil dar o impulso inicial para o plantio. Mas, dito assim, parece fácil demais, não? Não é. Pelo menos não para mim. Lembro-me de que não possuo, digamos, a tal habilidade natural para cuidar de plantas. Consigo, mas à custa de esforço e disciplina. E há vezes em que não obtenho sucesso. Mesmo estabelecendo uma rotina de rega, algumas plantas já feneceram sob os meus cuidados. Sinto-me culpada, especialmente porque, a despeito disso, já recebi pedidos para que cuidasse de plantas de outrem enquanto este viajava, por exemplo. Como a tarefa me parecia árdua! Como me esforçava para não decepcionar aquele cuja confiança havia sido em mim depositada! Mas era um esforço, nada natural. Esforço diário, trabalho contínuo, carinho e fé. Crença de que conseguiria.
O segundo modo é um pouco mais complexo, como tudo o que é conotativo. Plantar uma árvore metaforicamente pode significar deixar boas sementes no coração alheio: sementes sinceras de incentivo, de impulso, de motivação, mesmo quando a realidade fala em incapacidade, frouxidão e fraqueza de ânimo – uma mensagem de texto, e-mail ou recadinho na geladeira: vale qualquer estratégia para falar bem ao outro e plantar palavras-sementes em seu peito. Não dá é para ignorar o outro. Ou dizer coisas duras, que impedem o crescimento e até matam. Em lugar disso, regar o coração do outro com palavras doces; se não der pra ser frente a frente, com tantas promoções da telefonia celular, vale a pena reservar um tempo para ligar só pra fazer o bem, mais uma vez usando palavras sinceras. Para plantar metaforicamente uma árvore, talvez só se faça necessário ter os ouvidos e o coração abertos para escutar as dores que podam a fertilidade que tornaria mais verde e mais viva qualquer pessoa. Alguém já disse que temos, estrategicamente, dois ouvidos e uma boca para que ouçamos muito mais do que falamos.
Plantar uma árvore metaforicamente pode ter o sentido de tentar reanimar o outro, apenas estando ao seu lado como quem diz “vamos juntos”, “posso te ajudar?” ou “estou aqui, tá?”. Maneiras de concretizar o amor de Deus que por vezes insistimos em deixar na abstração de discursos empolgados, mas ocos e improdutivos.
Tenho uma filha de seis anos e um livro que escrevi, mas cuja publicação está em processo. Cumpri, pois, uma parte do que o conselho filosófico prescreve a quem deseja ser um homem pleno, uma mulher completa: há que se ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore. O humano, o intelecto, o solidário. Falta-me contribuir com a parcela de solidariedade e plantar, denotativamente, uma árvore, a fim de que o mundo permaneça verde e vivo.
Vivemos num tempo em que é preciso espalhar sementes e plantar árvores. Num tempo em que é preciso abrir o coração, como buraco cavado na terra, para receber uma mensagem que seja mais forte e real que a solidão ou a aridez do egoísmo humano. Somos gente que precisa aprender a ser árvore. Em lugar de olheiras e insônia, folhas cada vez mais firmes, que não caem à toa; em lugar da instabilidade e inconstância, frutas na estação certa. Pessoas que se deixam fecundar, recebendo a semente divina, crescem verdejantes, viçosas, como árvores plantadas na beira de um riacho.
Plantar uma árvore é um dos três grandes atos sem os quais nunca se foi verdadeiro homem: fazer um filho, plantar uma árvore, escrever um livro. (Eça de Queirós)
Ainda não plantei uma árvore. A despeito desses tempos em que se fala tanto de ecologia, preservação ambiental e sustentabilidade, ainda não plantei uma árvore. Ou será que plantei? À medida que escrevo recordo-me de que, à época do Ensino Fundamental, estudei a disciplina Técnicas agrícolas no colégio. Era interessante a gente ir para a horta da escola, levando pazinhas, carrinho de mão e terra, mexer e remexer, separar sementes, cavar, plantar, regar. Aulas que aconteciam sob o sol, ao ar livre, com adolescentes de mãos sujas de terra. Mas não sei se o que plantei ali floresceu. Não lembro nem mesmo o que plantei ali e acredito que não adianta plantar e abandonar ao tempo, sem cuidar e acompanhar o crescimento. Então acho que assim não vale e, estarrecida por viver numa época tão verde, volto à minha constatação inicial: ainda não plantei uma árvore.
Mas deveria ter plantado, denotativa ou metaforicamente.
A primeira maneira, concreta como é, traz certa simplicidade. Talvez na aula de Técnicas Agrícolas, talvez num pequeno vaso, talvez na escola, numa praça ou quintal. Mais do que terra, água, sol e semente, faz-se necessário apenas haver vontade, alguns cuidados e disposição. As sementes são até vendidas em casas especializadas, assim como a terra, adubo e acessórios, como vasos e pás, ficando fácil dar o impulso inicial para o plantio. Mas, dito assim, parece fácil demais, não? Não é. Pelo menos não para mim. Lembro-me de que não possuo, digamos, a tal habilidade natural para cuidar de plantas. Consigo, mas à custa de esforço e disciplina. E há vezes em que não obtenho sucesso. Mesmo estabelecendo uma rotina de rega, algumas plantas já feneceram sob os meus cuidados. Sinto-me culpada, especialmente porque, a despeito disso, já recebi pedidos para que cuidasse de plantas de outrem enquanto este viajava, por exemplo. Como a tarefa me parecia árdua! Como me esforçava para não decepcionar aquele cuja confiança havia sido em mim depositada! Mas era um esforço, nada natural. Esforço diário, trabalho contínuo, carinho e fé. Crença de que conseguiria.
O segundo modo é um pouco mais complexo, como tudo o que é conotativo. Plantar uma árvore metaforicamente pode significar deixar boas sementes no coração alheio: sementes sinceras de incentivo, de impulso, de motivação, mesmo quando a realidade fala em incapacidade, frouxidão e fraqueza de ânimo – uma mensagem de texto, e-mail ou recadinho na geladeira: vale qualquer estratégia para falar bem ao outro e plantar palavras-sementes em seu peito. Não dá é para ignorar o outro. Ou dizer coisas duras, que impedem o crescimento e até matam. Em lugar disso, regar o coração do outro com palavras doces; se não der pra ser frente a frente, com tantas promoções da telefonia celular, vale a pena reservar um tempo para ligar só pra fazer o bem, mais uma vez usando palavras sinceras. Para plantar metaforicamente uma árvore, talvez só se faça necessário ter os ouvidos e o coração abertos para escutar as dores que podam a fertilidade que tornaria mais verde e mais viva qualquer pessoa. Alguém já disse que temos, estrategicamente, dois ouvidos e uma boca para que ouçamos muito mais do que falamos.
Plantar uma árvore metaforicamente pode ter o sentido de tentar reanimar o outro, apenas estando ao seu lado como quem diz “vamos juntos”, “posso te ajudar?” ou “estou aqui, tá?”. Maneiras de concretizar o amor de Deus que por vezes insistimos em deixar na abstração de discursos empolgados, mas ocos e improdutivos.
Tenho uma filha de seis anos e um livro que escrevi, mas cuja publicação está em processo. Cumpri, pois, uma parte do que o conselho filosófico prescreve a quem deseja ser um homem pleno, uma mulher completa: há que se ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore. O humano, o intelecto, o solidário. Falta-me contribuir com a parcela de solidariedade e plantar, denotativamente, uma árvore, a fim de que o mundo permaneça verde e vivo.
Vivemos num tempo em que é preciso espalhar sementes e plantar árvores. Num tempo em que é preciso abrir o coração, como buraco cavado na terra, para receber uma mensagem que seja mais forte e real que a solidão ou a aridez do egoísmo humano. Somos gente que precisa aprender a ser árvore. Em lugar de olheiras e insônia, folhas cada vez mais firmes, que não caem à toa; em lugar da instabilidade e inconstância, frutas na estação certa. Pessoas que se deixam fecundar, recebendo a semente divina, crescem verdejantes, viçosas, como árvores plantadas na beira de um riacho.
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