Perto de mineiro ninguém passa fome

Tweetar

Mineiro gosta de dar tudo pros outros. Dificilmente quem vai na casa de mineiro sai com as mãos vazias. Às vezes leva uma sacolada de coisas que nem sabe se vai aproveitar, mas, por educação, a pessoa acaba levando. Na casa de mineiro sempre tem fartura. Mineiro é bondoso de coração, de espírito, alma e pulmão. Mineiro fala muito e não cansa. Falam os velhos, os jovens e as crianças enquanto os cachorros latem e fazem festa com alguém que acabou de chegar. A casa se enche e na hora de ir embora tem que levar um monte de coisas. "Leva mais, pode levá, está sobrando aqui, vai acabá estragando, dá até dó!". E a visita educadamente diz: Só vou levá mais um pouquinho, já dá, vai acabá estragando, lá em casa a gente quase não come, lá tem muito trem, tem trem sobrando lá. Muito obrigado! E a pessoa sai levando um monte de trem e nem sabe o que vai fazê com aquilo tudo.

Uma vez eu ganhei uma broa de fubá, quando cheguei em casa e fui comer, ela estava cheia de formiga, joguei tudo fora. Mineiro tem o coração bom, perto de mineiro ninguém passa fome. A gente pode não ter dinheiro, mas sempre tem fartura. Nem preciso dizer que sou mineiro, é só olhar o meu jeito de falar e de andar que dá pra notar. Às vezes eu me pego perguntando: Por que será que o mineiro é tão diferente? Mas é diferente em que? Não sei dizer, não sei explicar, mas que é com certeza é. Já tentei entender, já li os grandes escritores mineiros: Drummond e Guimarães Rosa entre tantos outros, mas não consegui saber, nem entender essa diferença palatável e plausível que há no mineiro. Aí alguém me diz: mas os outros também são diferentes, não é só o mineiro. Mas a diferença do mineiro incorpora, reage, fala, gesticula e a gente não esquece. Juro que eu nunca quis escrever sobre isto porque eu não sei o que escrever, o que afirmar, o que dizer. Parece um mistério, mas não é, pois está claro, é só olhar. Mas tem que observar bem pra ver, tem que "dar corda" ao mineiro, falar daquilo que ele gosta pra poder ouvir os seus "causo" e as suas histórias. Mesmo assim a gente ainda fica "com a mão no queixo" pensativo e sem entender. O mineiro pode ir onde for que mesmo distante ele será notado e alguém vai perguntar afirmando: "Você é mineiro?". Não tenho a pretensão de entender, mas tenho a curiosidade de saber por que o mineiro é assim e se destaca no meio de tanta gente. Sou do tempo em que muita gente zombava do mineiro, mas, geralmente, depois se arrependia. Muitas piadas, muita gargalhada e o mineiro ficava só ouvindo sem reclamar e sem xingar. Isto, para o mineiro, é um elogio, o mineiro não fica com raiva, não treme na base, ouve tudo e depois com três ou quatro palavras joga tudo aquilo por terra. Me lembro de alguém que tinha uma banca de jornais e revistas e sempre que eu passava por lá ele puxava conversa e contava piadas de mineiros, obviamente ele sabia que eu sou mineiro. Eu normalmente fico na minha, não achava bom, mas também não achava ruim. Um dia resolvi falar algumas palavras e ele nunca mais zombou de mineiro perto de mim. Fiz a ele umas três perguntas e ele não soube me responder. Perguntei se ele sabia onde nasceu o rei do futebol, onde nasceu o maior poeta do Brasil e onde nasceu aquele que até hoje é considerado o melhor presidente da história do Brasil. E encerrei dizendo: Esse é um dos motivos que eu tenho orgulho de ser mineiro. Vejam que nem foi preciso eu falar do inventor do avião.

Mineiro é assim, não precisa falar muito, às vezes com um simples gesto dá uma resposta precisa e perfeita. Mineiro é bondoso, por isso o título em epígrafe diz: "Perto de mineiro ninguém passa fome", simplesmente porque o mineiro divide quase tudo que tem. E ainda não permite que a pessoa vá embora de mãos vazias. Mineiro é assim: é bondoso, mas é, sobretudo, orgulhoso de sua terra, de suas origens e de sua família.

Tweetar

Opinião do leitor