Palavra do leitor
- 18 de outubro de 2007
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Os dois tipos de movimento evangélico
No Brasil e no mundo deveria haver uma só Igreja, a que é regida pela graça. A divisão em torno de tradição/renovação tornou-se irrelevante. De fato só há dois tipos de igreja, a legalista e a graciosa, conforme abordei em um artigo anterior. Ali levei em conta o que Paulo disse aos Gálatas: “Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho”.
Atualmente percebe-se uma fronteira colocada entre o fundamentalismo e o evangelicalismos – engraçado que evangelicais na Alemanha são todas as demais igrejas não católicas, e evangélicas (evangelische) são somente as luteranas. Estes dois movimentos no protestantismo foi analisado em um recente artigo (*) na mídia cristã. Conclui-se então que possam existir igrejas predominantemente fundamentalistas e outras predominantemente evangelicais. Predominância essa que dependerá de com qual destes dois movimentos a denominação, o pastor ou a liderança se identificam. Kivitz, autor do artigo, descreve a origem e o desdobramento destes movimentos no Brasil em uma linha histórica fácil de ser acompanhada.
Pegando como ponto de análise o evangelismo, ele distingue diferentes agendas: uma “preocupada em descobrir métodos e metodologias capazes de apresentar uma mensagem e promover a adesão de pessoas às igrejas. (...) [divulgando] uma verdade conceitual que funcione como instrumento para tirar pessoas do mundo e levá-las para dentro das igrejas”; outra “ocupada em sinalizar historicamente a realidade do Reino de Deus, buscando identificar-se com o próximo em sua complexidade, visando à transformação da sociedade – ou, como preconizou Lausanne, levar “o Evangelho todo para o homem todo, para todos os homens”, através do serviço e da proclamação”.
Esta análise explica certas decisões em igrejas e porque se caminha numa direção e não na outra, porque se apóia um projeto ou idéia e não outros. Gostaria de perguntar então, a título de reflexão, se estas duas agendas seriam assim tão antagônicas? E se não seriam os fundamentalistas os legalistas, que não são regidos pela graça? Pode até ser que fundamentalistas sintam-se mais tentados em apelar para a lei e ignorar a graça, mas temos que convir que tal sedução assedia também os evangelicais. E o primeiro passo nessa nefasta queda começa em achar que “o próprio ponto” é “o” verdadeiro, menosprezando outros.
Isto acaba com o diálogo que geralmente já é tão espiritualizado e nada humano. Por isso Swindoll alerta em seu livro “O despertar da gaça”: “você iria pensar que a igreja seria o lugar onde nós encontraríamos tolerância, tato, espaço suficiente para diversidade de idéias e discussões abertas. Nada disso!” Este autor denuncia os quebra-paus horrorosos que existem nos bastidores (ou mesmo publicamente) e adverte que é muito trabalhoso criar uma atmosfera de graça, mas que no final vale a pena. O legalismo (apego a uma idéia como sendo “a” lei) leva indivíduos a atropelarem pessoas. Assim uma congregação legalista mata o pastor, e um pastor legalista mata a congregação - independentemente se estão lutando pelo fundamentalismo ou pelo progressismo, pelo pentecostalismo ou pela tradição.
Modéstia é a virtude que nos afasta desta arena de gladiadores e nos leva à graça - pois Deus dá graça aos humildes. Yancey expressa essa humildade de forma comovente no fim de seu livro “Maravilhosa Graça”. Ele cita uma católica e a razão dela para participar da comunhão: não por ser boa católica, santa ou piedosa, mas por ser uma pecadora com suas dúvidas e mazelas não resolvidas. Afinal qual seria a razão do sangue derramado e do corpo partido se não a nossa purificação? Ou será que acreditamos que não pecamos mais? Em sua narrativa, Yancey vai descrevendo a história de vida de algumas pessoas que participavam daquela santa ceia, com suas lutas, fraquezas e fé.
Este conhecer mútuo, esta proximidade entre irmãos nos indica um caminho possível que elimina qualquer fronteira no corpo de Cristo: relacionamentos genuínos. Na medida em que minimizamos as formalidades em prol da pessoalidade ganhamos em graça e em qualidade de relacionamentos. Quando revisamos nossas instituições engessadas pelo tempo à luz das boas tradições apostólicas, somos levados a tomarmos posições radicais, se é que queremos continuar seguindo ao Senhor de perto, e não a dois mil anos de distância. Ou será que pra nós também ele não está mais vivo?
De fato há uma proposta de evangelismo mais efetiva baseada numa agenda unificada: ir ao mundo, mas chamá-los à comunhão. Descobrir métodos e princípios bíblicos, mas aplicá-los e revisá-los na prática crua deste mundo ilógico. Servir e proclamar, mas também ensinar e discipular. E sempre “procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4.3), pois só na unidade amorosa seremos conhecidos como seus discípulos e possibilitaremos que o mundo conheça que o Pai enviou o Messias.
(*) Retirado do site Cristianismo Hoje.
Atualmente percebe-se uma fronteira colocada entre o fundamentalismo e o evangelicalismos – engraçado que evangelicais na Alemanha são todas as demais igrejas não católicas, e evangélicas (evangelische) são somente as luteranas. Estes dois movimentos no protestantismo foi analisado em um recente artigo (*) na mídia cristã. Conclui-se então que possam existir igrejas predominantemente fundamentalistas e outras predominantemente evangelicais. Predominância essa que dependerá de com qual destes dois movimentos a denominação, o pastor ou a liderança se identificam. Kivitz, autor do artigo, descreve a origem e o desdobramento destes movimentos no Brasil em uma linha histórica fácil de ser acompanhada.
Pegando como ponto de análise o evangelismo, ele distingue diferentes agendas: uma “preocupada em descobrir métodos e metodologias capazes de apresentar uma mensagem e promover a adesão de pessoas às igrejas. (...) [divulgando] uma verdade conceitual que funcione como instrumento para tirar pessoas do mundo e levá-las para dentro das igrejas”; outra “ocupada em sinalizar historicamente a realidade do Reino de Deus, buscando identificar-se com o próximo em sua complexidade, visando à transformação da sociedade – ou, como preconizou Lausanne, levar “o Evangelho todo para o homem todo, para todos os homens”, através do serviço e da proclamação”.
Esta análise explica certas decisões em igrejas e porque se caminha numa direção e não na outra, porque se apóia um projeto ou idéia e não outros. Gostaria de perguntar então, a título de reflexão, se estas duas agendas seriam assim tão antagônicas? E se não seriam os fundamentalistas os legalistas, que não são regidos pela graça? Pode até ser que fundamentalistas sintam-se mais tentados em apelar para a lei e ignorar a graça, mas temos que convir que tal sedução assedia também os evangelicais. E o primeiro passo nessa nefasta queda começa em achar que “o próprio ponto” é “o” verdadeiro, menosprezando outros.
Isto acaba com o diálogo que geralmente já é tão espiritualizado e nada humano. Por isso Swindoll alerta em seu livro “O despertar da gaça”: “você iria pensar que a igreja seria o lugar onde nós encontraríamos tolerância, tato, espaço suficiente para diversidade de idéias e discussões abertas. Nada disso!” Este autor denuncia os quebra-paus horrorosos que existem nos bastidores (ou mesmo publicamente) e adverte que é muito trabalhoso criar uma atmosfera de graça, mas que no final vale a pena. O legalismo (apego a uma idéia como sendo “a” lei) leva indivíduos a atropelarem pessoas. Assim uma congregação legalista mata o pastor, e um pastor legalista mata a congregação - independentemente se estão lutando pelo fundamentalismo ou pelo progressismo, pelo pentecostalismo ou pela tradição.
Modéstia é a virtude que nos afasta desta arena de gladiadores e nos leva à graça - pois Deus dá graça aos humildes. Yancey expressa essa humildade de forma comovente no fim de seu livro “Maravilhosa Graça”. Ele cita uma católica e a razão dela para participar da comunhão: não por ser boa católica, santa ou piedosa, mas por ser uma pecadora com suas dúvidas e mazelas não resolvidas. Afinal qual seria a razão do sangue derramado e do corpo partido se não a nossa purificação? Ou será que acreditamos que não pecamos mais? Em sua narrativa, Yancey vai descrevendo a história de vida de algumas pessoas que participavam daquela santa ceia, com suas lutas, fraquezas e fé.
Este conhecer mútuo, esta proximidade entre irmãos nos indica um caminho possível que elimina qualquer fronteira no corpo de Cristo: relacionamentos genuínos. Na medida em que minimizamos as formalidades em prol da pessoalidade ganhamos em graça e em qualidade de relacionamentos. Quando revisamos nossas instituições engessadas pelo tempo à luz das boas tradições apostólicas, somos levados a tomarmos posições radicais, se é que queremos continuar seguindo ao Senhor de perto, e não a dois mil anos de distância. Ou será que pra nós também ele não está mais vivo?
De fato há uma proposta de evangelismo mais efetiva baseada numa agenda unificada: ir ao mundo, mas chamá-los à comunhão. Descobrir métodos e princípios bíblicos, mas aplicá-los e revisá-los na prática crua deste mundo ilógico. Servir e proclamar, mas também ensinar e discipular. E sempre “procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4.3), pois só na unidade amorosa seremos conhecidos como seus discípulos e possibilitaremos que o mundo conheça que o Pai enviou o Messias.
(*) Retirado do site Cristianismo Hoje.
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dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
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