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Palavra do leitor

Os amigos sempre deixam suas digitais

A interdependência nos leva a fecundas lições. Parto dessa frase e lhes convido para ruminarmos sobre o tema proposto. Devo, desde logo dizer: essa frase composta pelo meu irmão e, por ora, atrevo-me utilizá-la para um tricotar de ponderações. 

Aliás, de maneira alguma, posso ir a direção oposta, se torna fundamental reconhecer, o quanto essa frase, os amigos sempre deixam suas digitais, apresenta uma relação de unha e carne, de intensa intimidade com as boas – novas do Cristo Ressuscitado.

Vou adiante, como um antídoto em prol de uma realidade paralisada pelo conformismo, por cada um viver de acordo com suas ânsias e vontades. De notar, os amigos sempre deixam suas digitais, em uma carta escrita com o viço da emoção, em um telefone imbuído de alegria e respeito, em um abraço alentador, em emanar palavras afetuosas e adocicadas, em antes de descarregar uma matilha de verdades (somente, parar e ouvir), em não se envergonhar de espelhar para o outro que não somos donos da verdade, que estamos acima do bem e do mal, em aceitar os riscos dessa navegação (no porto da sinceridade e da seriedade, sem fazer disso, um desculpa para oprimir e manipular).

Sem hesitar, as palavras de Jesus reverberam de maneira específica, objetiva e concreta, ou seja, não vos chamo de servos, mas sim de amigos. Eis a loucura de um Deus voltado a andar pela realidade humana, com suas ambiguidades, com suas tensões, com suas dúvidas, com suas incertezas e por ai vai.

Verdadeiramente, os amigos nos legam as digitais de que somos importantes, em função de sermos singulares, únicos e especiais, de estarmos sujeitos aos erros, de que não devemos nos submeter aos restos de atenção.

Não e não, os amigos que deixam suas digitais não são eternos, podem ir e, mesmo assim, abrem dimensões para vivermos relacionamentos francos, saudáveis, livres e sem as marcas doentias do pecado ou, em outras palavras, dessa ruptura do ser humano com uma existência de sentido, de destino e de motivo.

Ah, os amigos deixam suas digitais no rateio da pizzaria, nas risadas descompromissadas, no enxugar das lágrimas (nos momentos de perdas), no silêncio confortador e animador (nos momentos caracterizados por termos pisado na bola, incorrido em decisões e escolhas depreciativas), no vamos lá, não sei o que dizer (mas, estou contigo), no aguardar o ônibus e por ai vai.

Cumpre salientar, segundo os estudiosos da medicina legal, as digitais retratam todas as peculiaridades da pessoa, posso dizer, como se fosse seu cartão de visita, sua lembrança escriturada e inigualável.

Sabe, em tempos de uma visão de receio de acreditar na amizade, no companheirismo na solidariedade, o sacrifício de Cristo perpassa por deixar suas digitais na humanidade e nos chama para deixarmos também as nossas. Lamentavelmente, muitos fincaram as digitais da desgraça, caso de ditadores (como Hitler, Mussolini, Stalin), de pais facínoras (que violentam suas filhas), de parentes que descarregam suas patologias (quantas adolescentes e meninas abusadas), de mulheres desfiguradas no inconsciente (vítima de anos de palavras de descrédito, de desdém, de desonra) e todo um universo de páginas com as digitais da morte.

Por fim, quais as digitais temos deixado no próximo, a começar como membros da comunhão do Cristo Ressuscitado? Eis uma questão a ser enfrentada, por cada um de nós, sem qualquer pieguice e estupidez.
São Paulo - SP
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